Três moçambicanos em média sofrem diariamente de Acidente Vascular Cerebral (AVC) na cidade de Maputo, dos quais quarenta por cento são de carácter hemorrágico. De acordo com o Director dos Serviços de Cardiologia do Hospital Central de Maputo (HCM), Albertino Damasceno, o principal factor de risco do AVC é a hipertensão.
Explicou que o quadro acima descrito está associado ao facto de a maioria da população moçambicana não ter conhecimento da sua situação de saúde.
“Vivemos uma realidade em que 83 por cento dos moçambicanos no país não mede a sua tensão arterial. Apenas três por cento têm a sua tensão controlada”, diz o nosso entrevistado.
Dados do último estudo sobre a ocorrência do AVC na cidade de Maputo revela que a maioria dos moçambicanos não sabe sequer que tem tensão alta.
Resultado: assiste-se à um elevado índice de letalidade e mortalidade por causa de doenças associadas a hipertensão.
Albertino Damasceno descreveu o quadro clínico mais comum do AVC: um doente que tem uma trombose, como vulgarmente é chamado o AVC, é uma pessoa que não espera ter um acidente vascular.Um dia cai no serviço, ou então está em casa a dormir e quando quer acordar para ir à casa de banho simplesmente não consegue porque não tem forca no braço”.
Conforme explicamos acima, a ocorrência do AVC é maior na capital do país e nem sempre o ataque é sinónimo de ocorrência de derrame cerebral.
“Para se confirmar se realmente aconteceu um AVC é preciso fazer um exame de Tomografia Axial Computarizada(TAC)”,alerta o cardiologista, ressalvando , entretanto, que nem todas as unidades sanitárias no país possuem este aparelho.
TROMBOSE: QUADRO IRREVERSÍVEL?
A incidência mundial de acidente vascular cerebral, vulgo trombose, é estimada em cerca de 15 milhões de novos casos agudos por ano, dois terços dos quais ocorrem em países em via de desenvolvimento.
Geralmente, a doença é caracterizada como sendo irreversível. Mas para Albertino Damasceno a palavra “irreversível” não é o termo concreto. Justifica que irreversibilidade está dependente do tipo e extensão do acidente vascular cerebral.
“Um acidente cérebral vascular muito pequeno, se calhar passado dois meses não deixe notável nenhum sinal de ocorrência na pessoa. Mas se ter sido de grande dimensão, pode levar a morte ou eventualmente deixar sequelas para o resto da vida”, explica.
Segundo os especialistas na área, uma pessoa que já teve o acidente vascular cerebral, corre grandes riscos de voltara sofrer um novo episódio. Não se sabe ao certo quanto tempo o doente pode voltar a ter uma recaída. O mais importante é que as pessoas afectadas comecem a tomar medicamentos sem nunca interromper.
“O ideal é que nos preveníssemos da doença. Isso passaria por sabermos se temos ou não tensão alta. E se tivermos, devemos tomar os medicamentos sem nunca parar”, avisa Damasceno.
ESCASSEZ DE QUADROS
NA ASSISTÊNCIA DOS DOENTES
De acordo com onosso entrevistado um dos factores que compromete o sucesso na recuperação dos pacientes é a falta de quadros especializados em assistir e ajudar os doentes no processo de recuperação.
Nós temos falta de subespecialidades de apoio à doença. O acidente vascular cerebral deixa sequelas por exemplo a nível cognitivo para além do físico. Os hospitais devem ter fisioterapeutas, terapeutas de fala, entre outras especialidades”,salientou.
A par disso, algumas unidades sanitárias, sobretudo as que se encontram nas zonas periféricas, não possuem equipamento de diagnóstico desta doença.
“Teríamos condições de fazer o tratamento e acompanhamento dos pacientes se tivéssemos, primeiro, uma radiologia a funcionar vinte e quatro horas por dia; segundo, se as pessoas chegassem rapidamente ao hospital e terceiro, se tivéssemos um número suficiente de pessoal especializado e dedicado a essa área e as subáreas de assistência”, afirmou.