“Boas práticas no atendimento humanizado aos processos de Aborto” e “Abordagens éticas em Obstetrícia Ginecologia” são títulos de obras recentemente lançadas em Maputo por António Bugalho, médico gineco-obstetra moçambicano.
Chancelada pela Associação Moçambicana de Obstetras e Ginecologistas (AMOG), as duas obras foram prefaciadas por Momade Bay Ibraimo Ustá, médico falecido no presente ano, homenageado durante a cerimónia. Falando sobre o aborto inseguro, que continua sendo uma das razões de morte de muitas mulheres no país, sobretudo raparigas e adolescentes, Bugalho referiu no acto de lançamento das obras que “O Sistema Nacional de Saúde não cobre a totalidade da população, mas nas áreas cobertas a divulgação em termos simples de orientações claras é fundamental, e para isso deverá ter a participação de cientistas sociais”.
Assim, a intenção é transmitir a mensagem de que o tratamento humanizado não é apenas responsabilidade dos profissionais da saúde, mas também dos demais, nomeadamente dos recepcionistas, do pessoal auxiliar e, às vezes, caso existam, dos próprios seguranças das unidades, porque o uso de uma linguagem apropriada e isenta de julgamentos é importante no primeiro contacto com a unidade sanitária. Entretanto, apontou que “a lei é nova, mas os provedores não são. Por isso, pode haver resistência passiva, não por motivos morais, pois para isso a lei ressalva os objectores de consciência, mas por motivos económicos daqueles que tiravam proveito desta situação dramática. Os grandes acidentes que podem levar à morte são praticados por pessoas absolutamente ignorantes, mas também por pessoal ligado à saúde intervencionista e mal intencionado”.
EXIGUIDADE DE MÉDICOS É UM ENTRAVE
Hermengarda Pequenino, presidente da AMOG, destacou o papel preponderante desempenhado por aquela organização na advocacia do aborto seguro. Defendeu ser imprescindível estabelecer parcerias com os “media”, para mobilizar, informar e sensibilizar tanto os provedores de serviços de saúde, quanto os aplicadores da Lei, assim como a população no geral sobre a Lei da despenalizaçao do aborto. Entretanto, reconheceu que, depois da aprovação, em 2014, da Lei da despenalização do aborto, muito ficou por fazer: “estamos cientes de que o país é enorme e vários são os desafios por enfrentar pela frente. A exiguidade de unidades sanitárias, acrescida ao reduzido número de médicos e técnicos formados nessa matéria, constitui um entrave para a consumação de muitos dos objectivos da criação da AMOG”.
Texto de Frederico Jamisse
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