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Saudades do futuro

Por admin

A edição que o leitor tem em mãos é dedicada à criança. Preferimos ouvir das próprias crianças o testemunho de um mundo que podia ser melhor, caso todos nós entendêssemos que delas depende o nosso futuro. Petizes de diferentes escolas da capital alertam aos adultos que há direitos por respeitar, que não devem ser negligenciados, dentre eles se destacando o de ter família e acesso à educação.

Hoje é 1 de Junho e, infelizmente, nem todas crianças irão festejar. Trazemos o exemplo de dois menores que em Manica palmilham diariamente as ruas à busca de alimento.

Órfãos de pai e mãe, desde cedo conhecem a violência de um mundo que não devia ser o deles. Sem lar, escola (e sem futuro risonho à vista) estão no bê-á-bá da pobreza sem limites, onde o próprio lixo pode servir para matar a fome.

E não podíamos terminar o texto sem alertar para a violência dos números que retratam a violação sexual de menores, às vezes, dentro do próprio lar.

Trata-se de actos urdidos no silêncio de quem devia educar no bom sentido do termo. É inconcebível, em pleno século XXI, que existam pais que violam as próprias filhas. É igualmente frustrante verificar que os casamentos prematuros muitas vezes são encomendados a partir de casa.

Paremos por aqui e ouçamos o que as crianças nos pedem no seu dia. Seguem-se os depoimentos.

Alguns titios

não respeitam nossos direitos

– Marta Nhumaio

Marta Nhumaio, de 10 anos de idade, frequenta a 6ª classe na Escola Primária Completa 3 de Fevereiro, na cidade de Maputo. Disse à nossa Reportagem que a educação e a família constituem pilares fundamentais para que a criança cresça saudável.

Para esta menina de 10 anos, muitas crianças vivem sem estes pilares. “No nosso país, as crianças ainda sofrem maus tratos. Existem mães que abandonam filhos e pais que violam suas filhas. Vemos diariamente crianças que vivem nas ruas, porque são abandonadas ou expulsas de casa”, lamentou.

Crianças deficientes

ainda são discriminadas

– Ayanda Mamad

Ayanda Mamad, 11 anos de idade, estuda na Escola Primária Completa 3 de Fevereiro, em Maputo. Segundo a petiza, é triste verificar que crianças portadoras de deficiência ainda são discriminadas no nosso país.

No meu bairro, vive uma criança deficiente que outros meninos chamam-no de coxo e não pelo seu nome. Isso é uma discriminação”, sublinhou.

Ayanda gostaria de ser médica quando adulta.“Gosto de ajudar as pessoas e, sendo médica, teria conhecimento para salvar e curar muitas pessoas, em especial as crianças”, argumentou.

Quero ser advogada

Keila Cuna

Keila Cuna, de 10 anos de idade, estuda igualmente na Escola Primária 3 de Fevereiro, em Maputo. Conta que gostaria de ser advogada. “Quero defender as pessoas”, afirma.

Para a pequena Keila, os direitos das crianças são respeitados, embora algumas famílias os violem. 

E explica: “algumas famílias põem a escola em último lugar e valorizam mais os trabalhos caseiros. Isso faz com que as crianças não tenham bom aproveitamento escolar.”

Gosto de estudar e brincar

– Irenilza Nhavotso

Quando a nossa Reportagem chegou à Escola Primária Completa 7 de Setembro Irenilza Cabral Nhavotso, 9 anos de idade, estava na sala de aula. É uma das meninas mais novas da sua turma. Disse que o direito a um nome, a educação e a brincar são os mais importantes. “Gosto de brincar, mas também de estudar, porque é importante para o meu futuro. Quero ser médica”, rematou a menor.

Quero ser arquitecta

– Keila Amade

Apesar de gostar mais da disciplina de Português, Keila Amade, de 9 anos de idade, afirma que pretende ser arquitecta. “Nos tempos livres, gosto de desenhar”, explica.

Keila frequenta a 5ª classe na Escola Primária Completa 7 de Setembro e teve como média 18 valores na disciplina de Português, 14 na de Matemática e 15 em Ciências Naturais.

Todas as crianças

deviam festejar o dia

– Adny Alegy

Adny Alegy tem 10 anos de idade e está a frequentar a sexta classe na Escola Primária 3 de Fevereiro em Maputo. Contou à nossa reportagem que ainda não reprovou e, no ano passado, dispensou. “Em condições normais, todas as crianças deviam estar a festejar o seu dia: brincar, dançar e fazer programas que normalmente não fazem”, disse.

Adny quer ser engenheiro de construção civil.

Governo devia

dar abrigo à crianças na rua

– Hayden Muchanga

Hayden Muchanga, 11 anos de idade, passará o Dia da Criança em casa da avó, onde haverá uma festa alusiva à passagem do seu aniversário. Ele frequenta a sexta classe na Escola Primária 3 de Fevereiro, em Maputo, e sonha em ser engenheiro por influência do avô.

Apesar de ter pouca idade acredita que as autoridades competentes, sobretudo os ministérios da Educação e da Mulher e da Acção Social, podiam fazer mais para ajudar as crianças que vivem nas ruas, sobretudo de Maputo.

“Deviam dar abrigo àquelas crianças que vivem nas ruas, cuidar delas, oferecer roupas e criar condições para que possam estudar e ter um futuro próspero”, afirmou.

Crianças de rua

merecem melhor tratamento

– João Cleofas

Sonha em ser arquitecto, pelo simples facto de gostar de desenhar. Os seus desenhos preferidos são de carros, daí que sonha, um dia, desenhar um carro que provavelmente será o primeiro a ser montado em Moçambique. Chama-se João Cleofas, aluno da sexta classe na Escola Primária 3 de Fevereiro.

Relativamente ao Dia da Criança, que hoje se assinala, diz que todas as crianças deveriam estar a festejar. Lamentou a situação daquelas que, por motivos diversos, não têm como festejar.

“Por isso sou da opinião que todos os meninos de rua deviam receber ajuda, arranjar um abrigo para que possam viver, estudar e levar uma vida normal”, apontou.

Quero ser professora

– Abigail Licai

Abigail Licai, aluna da sétima classe na Escola Primária Filipe Samuel Magaia, em Maputo, faz parte de um dos grupos daquele estabelecimento de ensino que vão apresentar hoje alguns números de dança, teatro, entre outras actividades.

Espera ganhar vários presentes pelo seu dia. “Este dia é especial por ser nosso e é dos poucos que podemos escolher realmente o que queremos fazer”, salientou.

Em relação ao cumprimento dos direitos da criança, Abigail disse que ainda falta muito para que estes sejam cumpridos integralmente.

Abigail Licai gosta da disciplina de Português, embora acredite que neste ano lectivo não vá dispensar por não ter notas para tal. “Quando crescer quero ser professora para ensinar a todas as crianças”, referiu.

Quero ser médica

ou contabilista

– Hádilla Sualé

Hádilla Sualé é daquelas crianças indecisas em relação ao futuro, mas enquanto este não chega se diverte brincando com as amigas e estudando muito. Contou à nossa Reportagem que está em dúvida em relação à sua futura profissão. Gostaria de ser médica (dentista) ou contabilista, que é a profissão do tio.

Hádilla tem 12 anos e também frequenta a sétima classe na Escola Primária Filipe Samuel Magaia e, tal como a amiga (Abigail Licai), vai festejar o seu dia na escola. “Temos várias actividades por apresentar”, disse.

Lutemos pelos nossos direitos

– Michel Zita

“Quero passar o dia de hoje com meus pais, primas e amigos pois são pessoas que amo muito”, disse Michel Fenias Zita, 12 anos de idade e aluna da 6ª classe na Escola Primária Filipe Samuel Magaia.

A menina, que sonha em tornar-se modelo, desejou às outras crianças um feliz dia 1 de Junho, tendo também as encorajado a lutarem pelos seus direitos e deveres.

Feliz dia das crianças a todos e que continuemos a estudar para atingir grandes níveis. Acima de tudo é preciso que lutemos pelos nossos direitos e deveres, uma vez que ainda existem pais que privam alguns de nós disso”, frisou.

Que todas crianças sejam felizes

– Daniela Carvalho

Daniela Carvalho, 10 anos de idade e aluna da 5ª classe na Escola Primária 7 de Setembro, começou por dizer que deseja a todas crianças um feliz dia 1 de Junho e que sejam sempre felizes.

Paralelamente deixou também uma mensagem aos pais das mesmas. Segundo ela, há uma necessidade dos pais olharem para esse dia não só como sendo de festa das crianças, mas também aquele em que se reflecte um pouco mais sobre elas. “Gostava que os papás se dedicassem mais a nós, nos cuidassem mais e nos transmitissem mais amor e carinho por forma a melhor crescermos”, ressalvou.

Gosto muito de Matemática

– Narcel Aliseu

Narcel Edson Aliseu, 7 anos, é aluno da 2ª classe na Escola Primária Filipe Samuel Magaia. O menino é muito extrovertido e garante que hoje vai brincar a duplicar. “Irei pedir os meus pais para me trazerem à escola para que eu possa brincar com meus amigos”, afirmou.

O petiz disse ainda que gostaria de receber presentes dos pais, pois o dia da criança é muito importante.

A sua disciplina favorita é Matemática e nos seus tempos livres gosta de desenhar bonecos. 

Textos de Luísa Jorge, Vanda Mahumane, Domingos Boaventura

e  Maria De Lurdes Cossa

 

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