A população do Posto Administrativo de Palmeira, Manhiça, linchou, há dias, um presumível ladrão, que foi encontrado com vários bens que se suponha ter roubado num estabelecimento comercial do mercado local. Depois desta acção, a comunidade enterrou-o num cemitério familiar.
O facto deu-se na localidade de Nwamatibjana. Conta-se que o suposto meliante vivia no distrito vizinho de Marracuene e teria ido à Manhiça na noite daquele dia somente para surripiar a mercadoria de um estabelecimento comercial que teria identificado por estar bem arrumado. O presumível ladrão foi interceptado pelos jovens daquela zona de manhã quando já regressava para sua casa com a mercadoria roubada.
Informações da comunidade local dão conta de que a denúncia foi feita por um transportador semi-colectivo que o teria encontrado na rua à espera de transporte, uma vez que não tinha carro próprio. O motorista desconfiou do jovem e tratou de ligar para as pessoas que conhecia para informar-lhes sobre o que acabava de ver.
A chamada provocou uma agitação no seio dos jovens da localidade que de imediato entenderam cercar a viatura que o transportava. Furiosos com a atitude, espancaram-no e de seguida lincharam-no.
Contudo, no grupo alguém sugeriu que devia ser enterrado para evitar mau cheiro na comunidade e assim aconteceu.
A comunidade assume que tomou a iniciativa por constatar que quando os problemas são encaminhados para a Polícia do distrito não são tratados como é do desejo da maioria, ou seja, passados dois ou três dias os malfeitores são postos em liberdade.
Para aquela comunidade, facto gritante é que depois de ganharem esta liberdade voltam a semear intranquilidade nos bairros.
Entretanto, a Reportagem do domingo sabe que a Polícia da República de Moçambique, distrito de Manhiça, foi informada às 6:30 horas sobre o sucedido e esta só foi ao local por volta das 9:00. Quando os agentes chegaram ao local, o corpo já tinha sido enterrado.
LIBERTAÇÃO PROVOCA PROTESTOS
Os moradores do Posto Administrativo de Palmeira, Província de Maputo, voltaram a manifestar-se há dias devido à libertação de dois jovens, também moradores daquele distrito que são acusados de estarem envolvidos em actos de roubo a residências, estabelecimentos comerciais, entre outros.
Os jovens estiveram encarcerados na esquadra da vila-sede daquele distrito para a sua investigação, só que para o espanto da população estes ficaram somente três dias, alegadamente porque não havia provas para mantê-los encarcerados.
Aliás, relatos da comunidade dão conta de que quando perguntaram a um dos indiciados porque razão estava fora das celas, este teria respondido que pagou às autoridades policiais. “Quem fica nas celas é quem não tem dinheiro”, teria dito o indiciado.
A população, enfurecida com a resposta, deslocou-se para a sede da localidade para exigir explicações detalhadas sobre o caso.
FALTA DE PACIÊNCIA
O chefe da localidade de Nwamatibjana, Paulo Mandlane, confirmou que recebeu há dias a população daquela zona que vinha reivindicar a soltura de dois jovens indiciados de prática de criminalidade nos bairros daquela localidade.
Mandlate referiu que depois de recebê-los ligou para o Comando Distrital da PRM para dar a informação e solicitar a presença de um agente para remediar a ira da sua comunidade.
A fonte disse que a resposta que recebeu foi de que a Polícia não tinha transporte naquele momento. Mesmo assim, a população disse que iria esperar 30 minutos pela Polícia.
“Ficaram 30 minutos à espera. Passaram aqueles minutos. Estenderam para 40 minutos. Mesmo assim ninguém da Polícia apareceu. Depois saíram”, disse Mandlate.
Segundo a comunidade, facto curioso é que quando iniciaram com a sua manifestação, a mesma Polícia que não tinha transporte apareceu no local tendo de seguida baleado mortalmente um jovem que estava na confusão.
O chefe da localidade disse que a Polícia foi recebida com violência e em consequência disso um jovem do bairro foi baleado mortalmente.
Mandlate disse que a população não está a ser paciente. Por isso, para minimizar a insatisfação, ele tem vindo a organizar encontros com os líderes comunitários de forma a explicar as melhores formas de conviver nos bairros. A medida visa impor tranquilidade na localidade.
TROCAR DINHEIRO
PARA IDENTIFICAR VITIMAS
Um dos jovens que é acusado de estar envolvido nos actos criminosos naquela vila dedicava-se ao serviço de troca de dinheiro, do metical para rand e vice-versa, no mercado de Palmeira.
Os moradores locais referem que o mesmo nasceu, cresceu e vive naquele posto administrativo. O que não se sabia é que no momento em que fazia a troca de dinheiro fixava, igualmente, os seus clientes, na sua maioria residentes daquela localidade, quiçá, seus conhecidos. De seguida ligava para um seu comparsa dando-lhe informações detalhadas sobre a vítima que acabava de trocar o dinheiro, de modo a ser assaltado.
O comparsa, prontamente, procurava a vítima até localizá-la e lhe exigia o dinheiro que acabava de trocar. Refira-se que esta situação verifica-se desde ano passado. Durante esse período várias pessoas foram assaltadas e até mortas.
Camponesas são
violadas nas machambas
– Rodrigues Massango, chefe de quarteirão do Primeiro Bairro
O chefe de quarteirão do Primeiro Bairro " A", Rodrigues Massango, disse que a comunidade está preocupada com o ambiente de insegurança que se instalou naquele bairro residencial. Preocupante ainda é o facto de que estes actos são protagonizados por indivíduos ali residentes.
Massango lembrou ainda que nos últimos tempos as senhoras são impedidas de irem sozinhas à machamba. Tudo porque há indivíduos que vasculham os campos de cultivo e violam as senhoras.
Falando sobre o recente caso, aquele chefe de quarteirão disse que está preocupado com tudo o que está a acontecer porque envolve jovens que nasceram, cresceram e ainda vivem naquele quarteirão juntamente com os seus pais.
“Estamos preocupados porque quando aqueles dois jovens foram soltos não trouxeram um documento que diz que estão em liberdade e porquê estão em liberdade. Vimos eles cá fora. Andamos desconfiados porque não sabemos se foi uma fuga ou não”, disse Massango.
Acrescentou que lamenta o sucedido, visto que a família do jovem, que cambiava dinheiro no mercado e que agora está em fuga, está a sofrer. “Este jovem prestava serviços a outro bandido que não mora neste bairro, mas infelizmente por causa do seu comportamento trouxe tristeza no seio da sua família. A situação é muito complexa quando são jovens que vimos a crescer pensando que estão a ganhar a vida honestamente”, referiu.
ABANDONO
Dados colhidos no local indicam que os dois jovens detidos e soltos (o cambista e o seu comparsa), ora em fuga, abandonaram as suas residências juntamente com as suas famílias, para um lugar que ainda ninguém sabe.
A fuga destes, aconteceu depois da confusão protagonizada pela população na Estrada Nacional Número 1 (EN1). Alega-se que estão fugitivos porque têm medo de serem violentados ou mortos.
Conta-se que na sua fuga feita à noite, levaram consigo uma parte considerável dos bens que vinham juntando nos últimos tempos, mas deixaram intactas as suas casas melhoradas.
Por exemplo, a casa de um dos supostos bandidos, que a nossa equipa de Reportagem visitou, é do tipo II mas tem outros compartimentos adjacentes como cozinha, casa de banho e ainda um curral com gado. Há quem diga que a casa do comparsa fugitivo é melhor ainda.
NEGÓCIO PARADO
Os jovens que ainda desenvolvem a actividade de troca de dinheiro no mercado do Posto Administrativo de Palmeira contam que esta situação afugentou os seus clientes, visto que actualmente todos têm medo de serem assaltados. A maior parte das pessoas daquela zona quando querem fazer a troca preferem escalar a cidade de Maputo ou a província de Gaza onde ainda não há este tipo perseguição.
Aliás, um dos jovens que falou a nossa Reportagem confidenciou que mesmo aqueles que arriscam fazer o negócio fazem-no as escondidas. Enquanto os nossos clientes tem medo de trocar connosco, nós também trabalhamos as escondidas porque tememos a qualquer momento levarmos borrada com a população, disse um dos jovens que ainda trabalha naquele mercado.