…e ameaçam com manifestações pacíficas caso não sejam ouvidas
Mais de 120 mulheres, em representação de diversos extractos sociais e instituições sócio-profissionais, mostram-se indignadas com impasses recorrentes no diálogo político entre o Governo e a Renamo que amanhã entra para a 112ª ronda sem resultados concretos.
Para fazerem ecoar sua voz e mudarem, quiçá, o rumo dos acontecimentos, exigem participação no processo, sob o risco de nos próximos dias desencadearem manifestações pacíficas junto do Centro de Conferências Joaquim Chissano, onde decorrem as conversações.
Reunidas em Maputo, as mulheres adoptaram uma declaração (uma espécie de abaixo-assinado) na qual, entre outros aspectos, exigem celeridade na conclusão do diálogo, bem com a sua integração no processo, apontando como uma das prováveis representantes, a activista social Graça Machel e algumas líderes religiosos de diferentes congregações.
Sublinharam que a sua presença no diálogo, que amanhã vai para a 112ª ronda sem avanços significativos, pode alimentar acordos duradoiros conducentes à uma paz efectiva.
“Não faz sentido que, sendo a maioria, as mulheres sejam excluídas de um processo tão crucial para a pacificação e o bem-estar do país. Exigimos participação activa no diálogo em curso no Centro de Conferências Joaquim Chissano, porque já demos provas de que podemos reunir consensos nos pontos divergentes”, disseram as mulheres ouvidas pelo domingo.
Acrescentaram que para além de amolecer os corações das duas delegações, sua inclusão pode igualmente concorrer para que os moçambicanos reencontrem a paz que nos últimos tempos tem sido beliscada com ameaças recorrentes do retorno à guerra.
Num comunicado enviado a nossa redacção as mulheres referem ainda que a família é a fábrica da paz e que a gerente dessa paz é a mulher que não deve ser vista como vítima, mas também como agente pró-activa e promotora da construção e manutenção da paz.
“Propomos que se integrem as mulheres no processo de negociação da paz no Centro de Conferencias Joaquim Chissano. Que o diálogo seja um processo contínuo e não apenas quando há conflitos. Que o diálogo seja inclusivo e assente na diversidade, isto é, ouvir as mulheres e homens de todo o país, independentemente da religião, cor, raça, etnia, língua, partido político à semelhança de prática dos cultos ecuménicos”,lê-se no comunicado enviada à nossa Redacção.
A MULHER TEM QUE ESTAR NO DIÁLOGO
Maria Paula Vera Cruz, do Fórum das Mulheres Trabalhadoras, diz que o que está acontecer no Centro de Conferências Joaquim Chissano é deveras preocupante.
“Como mães, esposas, filhas sentimos que a ausência da mulher na liderança deste processo pode ser uma das razoes que faz com que não se almeja a paz, o maior desejo dos moçambicanos. Se a paz é alcançada não dura por muito tempo, razão pela qual exigimos a presença da mulher no diálogo para garantir que os consensos alcançados sejam duradoiros e conducentes a uma reconciliação efectiva”,referiu.
Para a nossa interlocutora os representantes do Governo e da Renamo não são os únicos interessados pela paz no país. “ Não é verdade que eles representam a maioria dos moçambicanos. Existe uma maioria de sensibilidades que não se sente confortavelmente representado por estes dois actores que no fim falam em nome do povo, mas que não seguem os seus conselhos para que o país deixe de viver na incerteza”, apontou.
Sublinhou que em casos de conflitos a mulher é a que carrega o fardo pesado, uma vez que ela nasce um filho que depois o vê morrer devido a guerra provocada pelos homens. “ Nós queremos estar lá porque somos a maioria. Portanto, vamos avançar e não ficar na bancada, nem que para isso nos manifestemos, mas isso como último recurso em caso de não acatarem a nossa declaração a submeter brevemente”.
Acrescentou que fora os filhos, existem muitos chefes de famílias que igualmente perdem a vida durante a guerra causada por certo egoísmo de alguns homens. “ As feridas da guerra sentem-se mais na família. A discussão no “centro de conferências” não está a produzir os resultados desejados, porque ali se evoca o espírito do mais forte e não o bom senso”, salientou.
Estas acções, segundo Paula Vera Cruz, terão réplicas em todo o território nacional, quer nas organizações sócio -profissionais, assim como nas confissões religiosas no sentido de persuadir as partes em diálogo a aceitarem a inclusão da mulher no diálogo.
Mulheres exigem papel
activo na busca da paz
– Dom Diniz Sengulane
O Bispo emérito da Diocese dos Limbombos, Dom Diniz Sengulane, na qualidade de patrono do movimento “Mães, esposas e filhas pela Reconciliação e Paz Plena” afirmou que, mais do que exigir a presença em sede do diálogo, as mulheres pretendem uma participação efectiva na busca da paz e reconciliação nacional. “O que elas pretendem é ver o rosto feminino na tomada de grandes decisões”, sublinhou.
“Portanto, a questão principal não é a exigência de fazer parte ou não do diálogo político da “Joaquim Chissano”, mas como fazer ouvir milhares de vozes femininas na busca da paz efectiva e reconciliação entre os moçambicanos,apontou dom Diniz Sengulane, destacando que o objectivo do encontro não era discutir a integração da mulher no diálogo, mas o seu contributo para a busca da paz duradoira.
Dom Diniz diz que faz sentido que a mulher exija representação ou participação na tomada de decisões sobre as chamadas “grandes questões políticas” uma vez ser ela que carrega na sua barriga, durante 9 meses, uma vida que depois é orientada para a guerra.
“Ela é a pessoa que mais sofre a questão da violência, razão pela qual faz sentido estar presente no processo de tomada de decisões importantes do país, até porque tem sensibilidades próprias”,disse Sengulane, sublinhando que a iniciativa da Transformação de Armas em Enxadas (TAE), que já deu frutos significativos ao recolher mais de 900 mil artefactos de guerra, foi idealizada por uma mulher.
Diniz Sengulane ressalvou que no debate havido não foi aflorada a questão do formato ou inserção da mulher no diálogo político: “O objectivo central não era olhar para as conversações. O diálogo foi apontado como exemplo da exclusão feminina em assuntos de reconciliação nacional”, explicou.
Harmonizar as diferenças e cimentar a paz
– Maria Chuma, da Associação PAMODZI
Para Maria Chuma, da Associação PAMODZI, a mulher pode desempenhar papel relevante na pacificação e construção de uma paz duradoira uma vez que já deu amostras de ser capaz de harmonizar diferenças e cimentar a paz. “Não queremos nascer filhos para depois serem promotores da guerra e desgraça para o país”, disse.
No seu entender, a reflexão havida entre as mulheres é o começo de uma série de iniciativas que serão replicadas em todo o país.
Acrescentou que as mulheres, como mães, esposas e filhas têm um papel relevante na moralização da sociedade. “Da mesma maneira que temos a responsabilidade de gerar uma vida e cuidar dela, podemos imprimir nova dinâmica nas conversações, rematou.
Basta conversas
de queimar tempo
– Pravina Vanza, da Comunidade Hindu
“Como mães, esposas e filhas, pretendemos dar o ombro ao homem para interiorizar que posições extremas em nada vão ajudar para a construção de uma paz duradoira e reconciliação nacional. Para isso precisamos de estar presente no diálogo para transmitir a nossa experiência de resolver os diferendos, assim como acontece nas famílias”,assim reagiu Pravina Vanza, da Comunidade Hindu de Maputo.
Afirmou que não faz sentido que decorridas mais de 110 rondas não se tenham alcançado os consensos necessários. “Nós estamos encorajados e queremos trazer paz para o país, porque não pretendemos a multiplicação de órfãos por causa da guerra”, sentenciou.
Trazer lufada de ar
fresco às conversações
– Pastora Helena Mussá, da Igreja do Nazareno
Helena Mussá diz que a participação da mulher no diálogo do “centro de conferências” pode desbloquear as mentes daqueles homens que de ronda em ronda vão extremando suas posições.
“Queremos mudar o ambiente turvo que se regista no diálogo político e trazer uma lufada de ar fresco, pois o país já teve muito retrocessos devido à guerra e nada justifica que continuemos a nos desentender por causa de interesses obscuros de certos homens”,disse.
Sublinhou que sendo a mulher uma pessoa pacificadora por excelência pretende levar a sua experiência para o diálogo político. “ A sociedade precisa de ser moralizada e instada a pautar por actos de benevolência e entendimento mútuo ”, anotou.
Principais pontos da declaração das mulheres
Que se integrem as mulheres no processo de negociação da Paz no Centro de Conferências Joaquim Chissano
Que se busquem experiências positivas passadas de resolução de conflitos, com base na experiência de vida das comunidades
Que o diálogo seja um processo contínuo/permanente e não apenas quando há conflitos
Que se aceitem os erros ou falhas de cada uma das partes e se busque o consenso em prol da Paz plena e que o diálogo seja coberto de honestidade, franqueza e humildade
A educação pela Paz deve começar em casa, na família, pois é preciso educar as crianças desde a tenra idade na família e na escola
A linguagem de todas nós, bem como das partes envolvidas nos processos de negociação, deve ser afectiva e carinhosa e promotora da Paz
É preciso aceitar as diferenças em prol da Paz
Que o diálogo seja inclusivo e assente na diversidade – Ouvir mulheres e homens de todo o País, independentemente da religião, da côr/raça, da origem, da Etnia, da língua falada, do Partido Político á semelhança da boa prática dos Cultos Ecuménicos