Os médicos tradicionais reafirmaram, durante as cerimónias de comemoração do Dia Mundial de Combate à Sida, em Maputo, a sua decisão de trabalhar em coordenação com o Ministério da Saúde (MISAU) no combate ao HIV e Sida, entretanto, pedem àquele sector mais cobertura no fornecimento do material higiénico usado no atendimento dos pacientes e de preservativos para os seus clientes.
Ana Paquete, médica tradicional e presidente da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) ao nível do distrito municipal Nhlamankulu, disse ao domingo que o MISAU tem feito esforços no sentido de disponibilizar certos materiais hospitalares para o exercício das suas actividades, entretanto anota algumas falhas no fornecimento de luvas e máscaras, artigos importantes para a preservação da saúde do médico tradicional e não só.
No seu entendimento, é obrigação do MISAU prover os praticantes da medicina tradicional daqueles materiais, daí que “não se deve apartar das suas responsabilidades”.
Lina Adelaide, outra médica tradicional abordada pelo domingo, disse que o seu bolso tem-se ressentido da falta de dinamismo da parte do sector da saúde na distribuição dos referidos materiais, uma medida que se mostra necessária para travar a propagação de doenças.
“Sai caro ter de comprar luvas e máscaras. Veja-se que também tenho comprado lâminas com o dinheiro do meu bolso, o que avoluma a minha dificuldade”, afirmou.
PRESERVATIVOS NÃO CHEGAM PARA TODOS
A distribuição de preservativos é avançada como uma importante estratégia no combate ao HIV e Sida.
O ramo da medicina tradicional é também abrangido por esta medida, no entanto, de acordo com declarações de alguns praticantes, a cobertura não tem sido das melhores.
A. Magaia, médico tradicional, foi mais longe ao afirmar que em nenhuma circunstância recebeu o referido material, até porque, conforme considerou, o seu trabalho não se tem misturado com a medicina moderna, pois a sua missão é tratar de questões sociais que têm a ver com feitiçaria. “O meu papel é outro, trabalho com raízes e tudo o que diz respeito à cura da Sida não é comigo. De qualquer forma, afirmo que nunca recebi preservativos para posterior distribuição pelos meus clientes”.
Esse posicionamento é contrariado por Fernando Mathe, porta-voz da AMETRAMO ao nível nacional.
Mathe referiu que o MISAU tem feito a distribuição de preservativos, no entanto nota negativa vai para o facto de não estar a ser uma acção regular. “Acontece poucas vezes, mas acontece. Devemos reconhecer que são poucas quantidades, não chegam para todos que se fazem aos locais de distribuição, mas é de louvar o gesto”.
O porta-voz da AMETRAMO esclareceu que os praticantes da medicina tradicional que nunca foram abrangidos são os que normalmente não participam nos encontros da associação. “Todos os meses realiza-se uma reunião local em cada círculo, e quem não participa obviamente não terá nada”, rematou.
Atestado médico só na AMETRAMO
Ana Paquete, responsável pela AMETRAMO em Nhlamankulu, respondeu a uma dúvida existente em torno da passagem de atestado médico no exercício da medicina tradicional.
Paquete explicou que aquela classe só disponibiliza atestado médico quando o paciente se encontra em estado grave. Para tal, conforme contou, o praticante deve-se dirigir à sua direcção para informar.
Neste momento, disse Ana Paquete, a faculdade de passar aquele documento, no seio da medicina tradicional, é restrita até para acautelar testemunhos falsos sobre o estado de saúde dos pacientes.
Igualmente, fez saber que, a partir do próximo ano, aquela organização vai trabalhar com vista a alcançar acordos com a medicina moderna, de forma a partilharem mais experiências no atendimento aos pacientes.
Texto de Pretilério Matsinhe