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“Mar de problemas” na EPC de Bunhiça

Por admin

Texto de Jaime Cumbana

A Escola Primária Completa (EPC) de Bunhiça, localizada no Posto Administrativo da Machava, Municipio da Matola, necessita de reabilitação urgente de salas de aulas. Além disso clama por obras urgentes no tecto para estancar infiltração de água.

Localizada no Posto Administrativo da Machava, a Escola Primária Completa (EPC) de Bunhiça, enfrenta uma série de dificuldades, começando com a falta de vedação do recinto.

Precisamente 32 das 59 turmas existentes estudam ao relento. Grande parte das salas de aula não têm portas e janelas, adicionando à estas carências a degradação acentuada do tecto. Os alunos molham quando chove.

À par destas dificuldades, a directora da Escola, Deolinda Chaúque Cossa, coloca a falta de segurança, a insuficiência de salas de aula para o universo de alunos existentes, a deficiência de corrente eléctrica e a falta de água canalizada e contentor para colocação de lixo.

Como forma de inverter este cenário, a direcção da escola elaborou um projecto que foi submetido à várias instituições da zona industrial da Matola no sentido de uma delas prestar apoio na minimização dos problemas acima apontados.

“Só a vedação da escola reduziria a incursão de marginais que vem com dois objectivos: tirar lanche dos mais novos durante a formatura e furtar celulares enquanto decorrem as aulas de educação física”, disse Deolinda Cossa.

A segunda prioridade apontada pela pedagoga é concertar o tecto das salas (ora com infiltração de água) e conferir pintura nova ao recinto escolar cujas paredes já reclamam há bastante tempo.

Deolinda Cossa fez saber que já bateu várias portas em instituições como Petromoc, Mcel, Vodacom, Auto-Majogar, Cimentos de Moçambique, todas com resposta negativa, alegando terem outros compromissos. Segundo a fonte, a Mozal argumentou que a EPC de Bunhiça não está na área de Beleluane, não sendo elegível ao apoio. Enquanto isso, a Embaixada da França deixou uma luz no fundo do túnel quanto à um eventual apoio no futuro.

Refira-se que a EPC de Bunhiça localiza-se na cintura de empresas como Socimol, Higest, Mopane, Coca-Cola e fábrica de Pipocas cuja responsabilidade social corporativa poucos resultados tem trazido.

“O jornalista Hélio Filimone é o nosso “Messias” ao se comprometer que o dinheiro da venda do livroJuiz Paulino-Caso Cardoso: Um marco no sistema judicial moçambicano” será totalmente revertido a favor da escola . Isso enche-nos de alegria e esperança para que no mínimo consigamos vedar a escola, concertar o tecto e pintar”, disse a directora.

A Escola Primária Completa de Bunhiça possui 10 salas de aulas, 59 turmas em regime de três turnos. Destas 38 são da Escola Primária do 1º grau e as restantes do 2º grau, para além de funcionar no curso nocturno, leccionando 6ª, 7ª classes e educação de adultos.

Estão nela matriculados 3 719 alunos, uma média de 75 educandos por turma, assistidos por 43 professores e sete funcionários no sector administrativo. A fonte explicou que das 10 salas estão em uso nove, porque a outra foi alocada ao IEDA para formação de professores.

Sobreviver da criatividade

Não só de dificuldade vive está escola, pois a disciplina de Ofícios veio avivar o ânimo dos petizes que estão a produzir vários objectos de ornamentação com base em sacos de rifa e roupas usadas. Eles fazem tapetes, bandeiras com as cores nacionais, inclusive participaram nas eliminatórias distritais de acesso ao 8º Festival Nacional da Cultura, apurando-se em 1º lugar. 

A professora Equelina Nhamue disse que numa situação em que a escola se debate com falta de material apropriado para a disciplina de Ofícios era imperioso chamar pela criatividade de todos para levarem avante o programa da disciplina. Foi assim que ela teve a iniciativa de, a partir de sacos de Rifa e roupas usadas, produzir diversos objectos de ornamentação, tapetes, bandeiras, símbolos de paz, laços que simbolizam o HIV/SIDA entre outros.

“Então iniciamos uma campanha de recolha de sacos e roupas velhas e com auxílio de uma caneta sem tinta começamos a coser os utensílios”, explicou a professora, acrescentado queé importante para as crianças apreenderem algo importante que seja útil para elas e para a comunidade onde estão inseridas.

Turmas ao relento

dificultam nossa actividade

– Professor Ercídio Macuche

“Existe trabalho nesta escola, mas o facto de termos turmas ao relento dificulta a actividade lectiva, porque sempre há perturbações no recinto”, disse o professor Ercídio Macuche.

Outro entrave apontado pelo professor é a chuva, pois quando cai  as turmas são retiradas do relento e misturadas numa outra sala da mesma classe para prosseguirem com as aulas.

“A média de alunos já é alta e quando adicionamos outros as salas ficam superlotadas a ponto de sentarem em grupo de quatro contra os normais dois estudantes”, lamentou Macuche.

Mais importante

é estudarmos

 – Lúria Ibraimo, estudante da 7ª classe

Para esta aluna, os professores da EPC de Bunhiça leccionam bem e isso é mais importante para eles.

“Passamos mal nos dias de chuva, porque os colegas que estudam ao relento são retirados para os corredores e outros misturados nas salas da mesma classe. Isso provoca um confusão nas salas”, disse Lúria Ibraimo.

Gostava de ver

a escola reabilitada

– Tomás Mahalambe, aluno da 7ª classe

Tomás Mahalambe afirma que a EPC de Bunhiça tem professores que ensinam bem e sem recurso à violência.

Sublinhou, contudo, que necessita de obras urgentes para a dignidade dos seus alunos, professores e funcionários. “A escola está estragada e o tecto das salas infiltra água quando chove. Quando chove somos obrigados a afastar as carteiras para um local distante daquele que está molhado”, lamentou o petiz.

Tomás Mahalambe manifesta o desejo de ver a escola reabilitada, sendo urgente a colocação de um murro de vedação para evitar a entrada de pessoas estranhas que perturbam o decurso normal das aulas.

Mamã comprou cadeirinha   

– Hediclecio Pale, aluno da 2ª classe

Este aluno começou por dizer que não tem sala de aulas, pois estuda no corredor próximo a sala com o número oito, sentando no chão. Como forma de minimizar a situação, a mãe comprou uma cadeirinha.

“Mamã comprou cadeirinha, porque eu sentava no chão”, disse o petiz. Tendo acrescentado que “agora coloco os livros na coxa da perna para poder escrever”. Ele explicou que na situação actual da escola prefere estudar ao relento, porque estando nas salas os alunos mais velhos tiram-lhes as carteiras. Gostava que arranjassem todas as salas, colocassem carteiras e quadros novos, apelou Hediclecio Pale.

Coluna dói por

sentar tanto no chão

– Fernanda Novela, aluna da 2ª classe

Ela senta no chão. Apenas coloca uma capulana para que o contacto com o chão frio não seja directo. O livro é também colocado no chão, e quando se cansa sobre a coxa para poder escrever. Mesmo assim, ela é uma aluna nota 20 .

Ela disse que sente dores na coluna, nas pernas e no pescoço por ficar meio curva durante um período longo a escrever.

Fernanda Novela, tal como os outros alunos, gastariam de estudar numa sala com carteiras, numa escola reabilitada porque acredita que melhoraria o seu desempenho.

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