Valdemiro Mandlate, de sete anos de idade, foi violentado fisicamente pela própria mãe por ter comido as sobras da refeição da noite, na ausência da sua progenitora, com quem vive no bairro de Mafalala juntamente com um irmão de dois anos.
A nossa reportagem encontrou-o na sala de espera do Centro de Acolhimento Integrado às Vitimas de Violência do Hospital Geral de Mavalane, acompanhado por Beatriz Samo e João Machava, ambos chefes de quarteirão no Bairro de Mafalala, que o acudiram num momento de tortura protagonizado pela sua mãe.
Aliás, segundo depoimentos colhidos pelo domingo a criança vem sofrendo agressões físicas e psicológicas desde que a sua progenitora separou-se do seu pai.
A situação vem piorando a cada dia que passa: há restrições na alimentação e ausências da responsável da família, o que torna a vida da criança um verdadeiro martírio. “A minha mãe costuma sair todas as noites e deixa-nos trancados em casa. Durante uma dessas noites não conseguimos dormir, sentimos muita fome. Acabei servindo o arroz e feijão que tinha restado da panela. Quando ela regressou, pela manhã, bateu-me com pau de vassoura em todo o corpo, por ter servido a comida na sua ausência”.
O pequeno Valdemiro frequenta a segunda classe, porém, por causa das constantes agressões tem faltado frequentemente à escola. “Quando ela bate em mim até ficar com corpo inchado, a doer orienta-me a não ir à escola”.
Na hora da pancada, denunciou Valdemiro, a mãe não mede esforços e sequer repara no que usa para levar a cabo o acto maldoso. “Outra vez bateu-me usando um fio, depois me pós no chão, pisou-me no peito com os pés, apertou meu pescoço, porque eu havia deixado meu irmão sair sozinho para longe”.
Por conta do sofrimento, o menor afirma que “não quero voltar para casa. Quero ir para casa do meu pai”.
Até porque, dados recolhidos pela nossa reportagem indicam que, após a separação dos pais, o tribunal decidiu que ele ficava sob a custódia do seu pai. Entretanto, as constantes ameaças e confusões que a jovem mãe fazia na casa do seu ex-companheiro fizeram com o pequeno Valdemiro lhe fosse devolvido.
Já os encontrei deitados com uma vela ao lado
-denuncia João Machava, chefe de quarteirão
A falta de zelo e os maus tratos a que o Valdemiro e seu irmãozinho estão sujeitos já vinha despertando a atenção dos vizinhos que pautaram por passar a vigiar as atitudes da mãe. “Um dia encontrei os dois irmãos em casa de um moço com quem às vezes deixavam os menores. Nessa noite, os meninos estavam sozinhos e a dormir num colchão com uma vela acesa ao lado. Antes que o pior acontecesse, tirei-os dali”, relata João Machava, chefe do quarteirão onde reside a família.
Já Beatriz Samo, chefe de quarteirão número 28 do Bairro da Mafalala, também vem acompanhando o sofrimento do pequeno Valdemiro. “Estamos cansados de ver este menino a ser maltratado pela mãe. Ela transfere a responsabilidade do filho de 2 anos para o Valdemiro”.
Esta estória passou a ter outro rumo desde o dia em que Beatriz Samo interveio quando a mãe de Valdemiro espancou por ele ter perdido a recarga de telemóvel que ela tinha mandado comprar. “Por isso estamos aqui para terminar com este sofrimento. Já chega”, desabafou.
Neste momento Valdemiro está a receber acompanhamento médico no Centro de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência do Hospital Geral de Mavalanee o caso está nas mãos das autoridades competentes.
Texto de Luísa Jorge
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