O café está, hoje, a ser massificado no distrito de Maúa, concretamente de Muapula, Niassa, apesar de ser uma cultura pouco praticada no nosso país. São cerca de sete hectares que, a título experimental, uma família religiosa, de nacionalidade holandesa, reservou para a produção daquele produto.
Frits Van Der Merwe e família, estão em Moçambique como missionários para a evangelização e escalaram Muapula. Depois de fazer a prospecção e identificar solos férteis, desbravaram uma área de sete hectares, semearam e, cedo, concluíram que ali podia nascer um dos maiores projectos de produção de café na província de Niassa.
Frits contou à nossa reportagem que foram necessários apenas dois anos para uma pronta resposta às expectativas inicialmente criadas à volta do empreendimento. Hoje, o café é produzido, processado, comercializado e consumido em quase todos os distritos da província mais extensa de Moçambique.
Futuramente, continuou Frits, a meta é recrutar mais trabalhadores e aumentar a área de produção.
Instado a pronunciar-se sobre se existe ou não mercado previamente identificado, Frits esclareceu que, numa primeira fase, o café será vendido dentro da província, sendo que, mais tarde, poderemos procurar outros mercados, sem descurar o externo.
Com mais de três mil habitantes, Muapula é uma das duas localidades do distrito de Maúa, juntamente com a de Mugoma. É potencial na produção de milho, mandioca, girassol, batata-doce, tabaco, algodão, entre outras culturas alimentares e de rendimento.
Durante a guerra dos 16 anos, em Muapula funcionou a base provincial da Renamo, daí, a zona ter sido fustigada pelas incursões armadas, tirando à população a possibilidade de usufruir dos vários recursos naturais ali existentes, incluindo os solos bastantes férteis para a agricultura.
Frits Van Der Merwe, que se encontra em Moçambique há 20 anos, à frente da Igreja Reformada em Moçambique, reconheceu as dificuldades encontradas nos primeiros anos do projecto, mas garantiu que o café será uma cultura de rendimento a ter em conta nos próximos anos, podendo até superar a produção do algodão e tabaco.
PROJECTO ABSORVE
MÃO-DE-OBRA LOCAL
Recentemente, o governador de Niassa, Arlindo Chilundo, visitou aquele projecto, tendo deixado rasgados elogios ao trabalho realizado por aquela família holandesa que, para além de absorver mão-de-obra local, cria condições para o alívio à fome, através da integração daquela população à actividade produtiva e consequente produção de alimentos.
É que, segundo apurou o nosso jornal, Muapula não vive apenas de café. Conta com 106 cabeças de gado bovino, 324 ovino e um número não especificado de caprino. São 945 hectares disponíveis para a prática de outras culturas, tais como a mandioca, o milho, o girassol, para além da pastagem.
Segundo Frits, com o aparecimento deste projecto, a população de Muapula passou a beneficiar de novas técnicas de produção, que garantem maior produtividade à actividade agrícola. É nosso objectivo trabalhar no sentido de incorporar a população na produção diversificada das culturas, incluindo a massificação do café e do girassol, esclareceu Frits, fixando a meta de 30 toneladas de café por ano nos próximos tempos.
De referir que Muapula é uma zona onde abunda grande variedade de animais de grande porte, com destaque para elefantes, búfalos, antílopes, leões, entre outros, animais que, regra geral, convivem com a mosca tsé-tsé. Não temos tido problemas com a mosca, uma vez que o gado tem assistência regular, garante a nossa fonte, revelando igualmente que o leite produzido pela empresa é processado localmente.
Informações tornadas públicas durante a visita de Arlindo Chilundo dão conta que grande parte do leite e yogourt comercializados na província de Niassa, principalmente nas cidades de Cuamba e Lichinga, é processado em Muapula, esperando-se que, num futuro muito próximo, aquele produto chegue a mais distritos.
Segundo a fonte que temos vindo a citar, o processamento local dos produtos daquela empresa cria mais postos de trabalho, para além de criar condições para que as comunidades locais sejam incentivadas a aperfeiçoar aquela actividade de rendimento familiar, principalmente.
TEMOS QUE SER RECEPTIVOS
A MAIS INVESTIMENTOS
Falando no final da sua visita àquele empreendimento agro-pecuário, Arlindo Chilundo reconheceu a existência na província de grandes potencialidades agrícolas, incentivando a população local a ser mais proactiva e receptiva aos investimentos nacionais e estrangeiros. É importante que acarinhemos os investidores que vêm à nossa província deixar tecnologias que possam garantir o aumento da nossa produção e produtividade, pois só assim poderemos combater a pobreza e a fome, alertou o dirigente máximo de Niassa, uma província que, nos últimos tempos, vem lutando para uma auto-suficiência material e financeira.
Lembrou que a paz é importante para a garantia dos projectos, sendo que, segundo aquele governante, a entrega de cada um nesta causa é indispensável para a criação de um ambiente propício ao negócio. A paz começa em nossa própria casa, referiu Chilundo, chamando a atenção dos moçambicanos para não se distrair com discursos nos dividem.
Ainda durante a visita, ao governador de Niassa foi mostrado uma nova maneira de produzir o café. Aqui, uma área com cerca de três hectares foi lavrada debaixo de árvores nativas, as quais produzem sombra para a protecção daquela cultura, contrariando a primeira técnica onde o café é plantado em campo aberto e, portanto, exposto ao sol, para além de danos ambientais.
Ainda bem que a nossa população também está aprender a produzir café. Isso nos leva a acreditar que muito brevemente esta cultura de elevado rendimento possa expandir-se a mais distritos da província que têm as mesmas condições ecológicas que as de Muapula, exortou Chilundo, a terminar, ao mesmo tempo que instava aos líderes comunitários no sentido de estes disseminarem a mensagem da necessidade de investirmos mais na produção do café.