A Electricidade de Moçambique (EDM) está com uma “batata quente nas mãos”. A procura e consumo de energia eléctrica está a crescer de forma estonteante, enquanto a capacidade de produção e transporte definham a olhos vistos.
Estimativas recentes indicam que nos próximos dois a três anos não haverá capacidade para acomodar novos clientes porque o país consome cerca de 745 Mega Watt (MW) quando só produz 610 MW, o que gera um défice de 135 MW. A lista de problemas no sector, de tão extensa, parece infindável. Há soluções em vista mas, custam “os olhos da cara”.
A EDM ainda não “jogou a toalha ao chão” mas, está cada vez mais claro que rema contra uma violenta maré de dificuldades resultantes do aumento de investimentos em diferentes sectores que culminam com uma demanda e consumo excessivo de energia eléctrica que o país produz em modestas quantidades para a realidade actual.
Dados em nosso poder indicam que de 2007 a esta parte, a taxa de acesso à electricidade duplicou, passando de cerca de 510 mil clientes para acima de um 1140 mil clientes, em 2013, o que corresponde a um aumento de consumo de cerca de 70 MW por ano.
Feitas as contas, a nossa taxa de acesso à energia eléctrica equivale a 14 por cento ao final de cada doze meses. Entretanto, os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), juntos, têm uma taxa média que se situa em escassos três por cento, o que quer dizer que quintuplicamos o consumo médio da região.
A título de exemplo, a nossa Reportagem apurou que a capacidade de transporte de energia para Maputo, Gaza e Inhambane, via África do Sul, está actualmente limitada a 300 MW mas, o consumo desta região situa-se nos 430 MW.
Para suprir o défice, a EDM conta com algumas centrais que vão alimentando assim-assim e cerca de 80 MW são importados mais ou menos em regime de “emergência”, a um custo que pode ser 10 vezes mais caro. Para agravar, a interligação entre Moçambique e África do Sul há muito que perdeu a capacidade de suportar consumos adicionais
Se a EDM quisesse andar mãos dadas com este crescimento deveria ter uma musculatura financeira suficiente para investir 150 milhões de meticais por ano na construção de novas fontes de produção de energia.
Sem condições para tanto, aquela empresa convive com um cenário sufocante no qual as centrais envelhecem, as linhas de transporte operam no limite, sem redundância e, no meio da aflição, importa energia eléctrica a preços que os vendedores fixam ao seu bel-prazer, sem que o país possa regatear.
Mesmo a propósito de linhas de transporte, a chamada linha Centro-Norte, que é aquela que parte da subestação do Songo e ruma para Nampula e depois bifurca para Niassa e Cabo Delgado é considerada a mais longa do mundo.
Aquela linha possui cerca de 1100 quilómetros (km) para Lichinga, 1200 km até Nampula e mais de 1500 km até as proximidades de Mueda, no norte de Cabo Delgado, o que só contribui para o declínio da qualidade de energia que chega aos consumidores que vivem naqueles extremos.
“A solução passa pela construção de novas centrais eléctricas e o gás natural parece mais apropriado para este propósito. Por outro lado, e para o caso da região norte, a solução passa pela construção de uma segunda linha de Caia, em Sofala, para Nacala, em Nampula, e ainda pela construção de centrais em Nacala, Lúrio ou Palma, em Cabo Delgado”, aponta Augusto de Sousa, Presidente do Conselho de Administração (PCA) da EDM.
Problemas a cada palmo do país
A título de exemplo, e na prática, o que se passa no terreno é que a linha que vai de Songo, em Tete, até à cidade de Nampula opera em sobrecarga e há indicações de que só no final do próximo ano, 2014, é que terá a sua capacidade reforçada por um período de três a quatro anos.
Para vencer este dilema, a EDM precisa de investir cerca de 600 milhões de dólares na construção de uma linha que deve partir de Caia até Nacala. Aí, sim, a qualidade da energia eléctrica poderá estabilizar pois, no presente recorre-se a restrições diárias que visam salvaguardar a qualidade e segurança dos equipamentos eléctricos da zona Norte do país ao mesmo tempo que se apela à população a reduzir os consumos (apagar lâmpadas e desligar electrodomésticos) nas horas de ponta.
Se no Norte do país o problema resulta da extensão da linha de transporte (a mais longa do mundo), linhas sem cabo de guarda, subestações com mais de 30 anos e tudo a funcionar acima da capacidade instalada, no Sul acontece tudo isto mais a falta de redundância da rede primária que vulnerabiliza o fornecimento de energia.
Como se estes problemas juntos fossem poucos, a EDM “choraminga” pelo facto de haver muita gente a largas as flats dos prédios para ir morar nos novos bairros. Aqui geram-se outros problemas. As flats são transformadas em empresas com consumos muito altos de energia e as novas habitações dos bairros em expansão também demandam energia, ao mesmo tempo que se fazem investimentos em equipamentos de climatização em instalações não preparadas para o efeito.
Dinheiro que não há
Perante esta vaga de constrangimentos, a EDM anda às voltas a busca de soluções, ao mesmo tempo que fez um levantamento das necessidades financeiras para cada caso. Para a electrificação das sedes distritais de Namuno-Balama, por exemplo, a EDM investiu quatro milhões de dólares. Porém, passados poucos meses, observa-se que é preciso aplicar outros 14 milhões de dólares para que os habitantes daquelas vilas digam “sim, senhor. Temos energia de qualidade”.
Mas, para tal, a mesma EDM deve satisfazer uma condição anterior que é de reforçar a linha que parte da subestação de Metoro para a cidade de Montepuez cujo custo original foi de três milhões de dólares entretanto, até ao dia em que aquela empresa vai reunir todo o dinheiro, a obra estará a custar cerca de 15 milhões de dólares.
De igual modo, a vila sede do distrito de Massinga foi electrificada em 2008 com uma linha de 100 km que custou cerca de 2.5 milhões de dólares a partir da subestação de Lindela, no distrito de Jangamo, e nos próximos dois anos deve ser reforçada sendo que os custos da obra são estimados em 11milhões de dólares.
“Qualquer um destes projectos requer avultados investimentos que devem ser mobilizados atempadamente e esta situação verifica-se um pouco em todo país. A título de exemplo, o reforço da capacidade de energia na região de Massinga para os próximos 10 anos requere um investimento imediato de 80 milhões de dólares”, disse Augusto de Sousa.
Nos próximos cinco a 10 anos deverão ser investidos na rede primária de transporte de energia cerca de dois biliões de dólares, sendo que os projectos vitais para o país compreendem o reforço da rede para Palma, a linha Caia-Nacala, reforço da rede de Tete, reforço de toda a região Centro, linha Ressano Garcia-Macia, a interligação com a África do Sul, reforço da rede de Maputo e as centrais de Ressano Garcia.
Dos cerca de dois biliões de dólares que a EDM precisa para resolver os problemas eléctricos do país, 815 milhões de dólares seriam para resolver os problemas da zona Norte do país, 570 milhões para a zona Centro e pelo menos 600 milhões de dólares para acudir a zona Sul.
“Os projectos de produção de energia eléctrica que foram planeados para os próximos cinco anos no país, nomeadamente Kuvaninga, Mavuzi e Chicamba, entre outros, só poderão minimizar o défice mas, não vão resolve-lo em definitivo”, indica Augusto de Sousa.
Num outro desenvolvimento, Augusto Fernando recordou que as receitas da empresa crescem em média 12 por cento ao ano e, segundo ele, estes níveis estão muito aquém do crescimento dos custos das matérias-primas e do ajustamento dos preços de energia colocando desta forma a empresa sobre grande pressão financeira.
Com base na tarifa de venda praticada pela EDM não será possível viabilizar os novos contractos de venda de energia e os promotores poderão optar pela exportação de energia em detrimento do consumo interno,frisou.
Abibo Selemane