Bruno Wilson é herói anónimo que evitou a morte de dezenas de pessoas num acidente que envolveu uma embarcação há mais de seis meses durante a travessia Maputo-Ka Tembe, na Baia de Maputo. No esforço de salvar vidas humanas acabou fracturando a perna e desde então sua vida ficou mais difícil . Está internado na Ortopedia do Hospital Central de Maputo há um mês.
Impossibilitado de trabalhar há mais de seis meses, o jovem passa por momentos difíceis. Contudo, assegura que não está arrependido do que fez. Em entrevista ao domingo afirma que se voltasse a acontecer o incidente, faria o mesmo: salvar vidas.
A odisseia de Bruno Wilson, 35 anos de idade, começou cerca das 8 horas da manhã de uma segunda-feira do mês de Junho do ano passado.
Seguia ao seu posto de trabalho quando na baia de Maputo uma pequena embarcação de transporte de pessoas, vulgo Mapapai, embateu contra um ferryboat , arremessando borda fora todos os passageiros que corriam risco de vida.
Salvar vidas foi a razão por que Bruno e seus dois colegas desviaram o seu barco em direcção ao local do acidente. “Não Tinha outra intenção que não fosse salvar as pessoas em risco de morte. Era difícil ouvir pessoas gritando por socorro e não fazer nada. Não fiz mais do que o meu dever.
Por escassos segundos, Bruno dá uma pausa ao relato.Com um semblante melancólico recorda: “as pessoas estavam desesperadas e muito aflitas. Era a morte por perto. Quando chegamos saltei para a água, retirando-as de lá para o nosso barco. Não me recordo quantas pessoas salvei”.
Para salvar as pessoas do afogamento Bruno valeu-se das técnicas de salvamento sobre as águas do mar, habilidades que colheu na infância. “Nasci na Ilha de Inhaca e lá a primeira coisa que se aprende é lidar dar com o mar. Mas aquela foi a primeira vez que vivi uma situação semelhante”, disse, acrescentando:“trabalhei como guia turístico para um privado e uma das coisas que aprendi foram as técnicas de salvamento e mergulho no fundo do mar.
Fraturar a perna salvando vidas
Entretanto, nem tudo correu bem para o jovem marinheiro naquele dia. Foi também naquela manhã que a sua vida mudou de rumo até hoje. No acto de salvar cada vez mais pessoas, Bruno fraturou sua perna esquerda.
E relata como tudo sucedeu: “enquanto tirava as pessoas das águas, veio outro barco que lançou-me uma corda para amarrar no Mapapai. O proprietário da embarcação naufragada, indicou-me que devia tirar a corda de onde eu havia amarrado para outro local no barco onde devia amarrar a corda. A dado momento, a água que saía do barco naufragado arrastou-me e a minha perna foi fracturada pela ventoinha do barco onde saia a corda. Foi doloroso”.
Entretanto, apercebendo-se do acontecido, o barco da Transmarítima tratou de retirá-lo das águas e prestar os primeiros socorros para depois evacuá-lo ao Hospital Central de Maputo onde veio a ser internado um mês e nove dias.
Apos ter saído daquela unidade sanitária, as coisas não melhoravam significativamente o que o obrigou a voltar a ser internado Dezembro último para melhores cuidados.
“SENTI-ME ABANDONADO”
Após o acidente, Bruno experimenta momentos difíceis para poder ter acompanhamento e tratamento médico. “Quando tive alta senti- me abandonado. Tinha que cumprir com a medicação dada, mas não tinha dinheiro para comprar medicamentos , porque eram muito onerosos”, refere.
O primeiro passo por ele dado foi recorrer ao proprietário da embarcação e pedir ajuda. “Ele disse-me que devia procurar ajuda junto da minha família, porque ele não tinha nenhuma responsabilidade sobre o acidente, pois foi um acidente de trabalho, contou.
Mais adiante acrescentou: “dirigi-me também para a Administração Marítima. Lá recomendaram-me a fazer uma carta expondo o sucedido e de lá também foi tudo em vão”, recorda.
Para velar pela sua saúde o jovem, que também foi pescador, teve que recorrer ao apoio familiar e a empresa para onde trabalha para garantir o cumprimento da medicação.
PUBLICAÇÃO NO FACEBOOK AJUDA ANGARIAR APOIOS
Desesperado, o “pequeno” herói ficou em casa votado ao abandono. A ferida crescia a olhos vistos e sofria claramente uma infecção constante .
Certo dia, foi descoberto por uma senhora de nacionalidade belga, que sensibilizado pela grave situação de saúde, criou condições para que ele voltasse ao hospital.
“A minha ferida cheirava mal, mesmo a distância. Graças a senhora Marlene, uma ambulância foi-me levar de casa para fazer tratamento no hospital. Depois publicaram a minha estória no Facebook e assim obtive apoios e também tive canadianas para me deslocar”, recorda.
Sublinha que mesmo assim não guarda ressentimento pelo facto de ter contraído a fratura quando ajudava as pessoas. “Apesar de tudo, não me arrependo de nada, mesmo sabendo que não tive apoio a posterior quando precisei. Se voltasse a acontecer outro naufrágio faria a mesma coisa porque é doloroso perder alguém, reitera.
De notar que quinze dias antes daquele acidente, o jovem marinheiro havia perdido o pai.
GOVERNO OFERECE BOLSA DE ESTUDO
Sensibilizado pela atitude heroica do jovem marinheiro, o Governo moçambicano ofereceu uma bolsa de estudo para licenciatura em ciências náuticas.
Por seu turno, a Administração Marítima ofereceu-lhe um cartão de travessia gratuita em todas embarcações da transmitiam que operam na linha Maputo/Inhaca.