O seu dia-a-dia é feito de grandes esforços. Com pouca idade, lançou-se ao negócio para garantir o seu sustento. Inicialmente, andava de rua em rua à busca de clientes. Actualmente, recosta a sua pequena banca de artigos diversos em um dos passeios da cidade de Maputo.
Ali divide-se entre o comércio e a carreira estudantil. Chama-se Carlos Cossa, é vendedor informal e estudante do curso de Ensino de Português, na Universidade Eduardo Modlane.
-Fala-nos um pouco da sua vida. Consta-nos que começou a ganhar a vida muito novo…
Sim, eu era muito novo. Tinha quinze anose foi no ano de 2000. No início desta actividade eu vendia ovos cozidos pelas ruas da cidade. Pouco tempo depois optei pela venda de corta-unhas e peúgas. Nesta fase, mantinha-me num mesmo local, mas enfrentava barreiras, uma vez que a Polícia Camarária não dava sossego aos vendedores do dumba-nengue.
– Mesmo assim persistiu no negócio…
Não só persisti como também vi a necessidade de ampliá-lo. Até porque se tratava de uma luta pela sobrevivência. Numa altura da minha vida, fui obrigado a abandonar a casa onde morava por falta de recursos financeiros para pagar o aluguer. Passei três noites em passeios da cidade, como um mendigo, por falta de abrigo.
E a sua família, não participava na sua vida?
Era complicado. A minha família estava em Chókwè, e eu sou o filho mais velho, por tal a responsabilidade de zelar pelo bem-estar da minha mãe e dos meus irmãos sempre recaiu sobre mim. Meu pai faleceu quando éramos crianças.
– De que forma ultrapassou essa crise?
Foi através de apoios vindos de amigos que também praticam negócios. Eles reconheciam e apreciavam a minha vontade de crescer na vida. Com efeito, disponibilizaram algum capital para alavancar o meu negócio. A partir daí, passei a vender capas e faces de telefone, negócio que levo a cabo até os dias que correm. No meio destas necessidades, a dada altura, tentei meter alguns currículos em algumas empresas mas eram rejeitados, porque eu só tinha a 7ª classe. Esse facto causou revolta em mim, daí que decidi voltar à escola. Passei a praticar o comércio no período do dia e de noite ia à escola. Estava determinado: dispensei na10ª classe; fiz o ensino médio e depois ingressei na faculdade de Educação na Eduardo Mondlane, em 2014. Hoje sou um estudante universitário com orgulho.
– Como divide o seu tempo, consegue conciliar o seu trabalho com a carreira estudantil?
O meu horário da faculdade dá-me dois dias para estudo individual. Aproveito esses momentos para ir à biblioteca, realizar os trabalhos de investigação. Nos restantes dias dedico-me à venda, de dia, e no período nocturno vou às aulas.
– O que pretende fazer após a graduação? Dará um pulo para a sala de aulas…
No futuro pretendo dar aulas, mas não me vou limitar nisso, desenvolverei qualquer actividade ligada à minha área de estudo, a Educação.
– Já se sente realizado, tendo em conta as suas conquistas?
Sinto-me confortado com a minha condição, tanto financeira como intelectual, tenho argumentos para me considerar um homem feliz. Casei-me, tenho duas casas: uma em Maputo e outra na minha terra natal; cuido da minha mãe com base no dinheiro que ganho de forma honesta. Não me considero abastado, mas reúno condições para viver relativamente folgado.
– Tem algum recado para os outros jovens?
Aos outros jovens recomendo que saibam planificar a vida. É preciso agir, superar obstáculos e acreditar que somos capazes. A vida não está fácil para ninguém, mas quando somos honestos, recebemos ajuda dos outros.
Texto de Virgínia Mussuruco