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CABO DELGADO: O dia em que a água quase nos levou

Por Idnórcio Muchanga

Uma forte corrente de água tomou parcial­mente a viatura a todo­-o-terreno que nos transportava até Maco­mia, na cobertura de uma nobre missão, após a passagem do de­vastador ciclone tropical Kenneth. Era domingo, dia 28 de Abril últi­mo, passávamos pelo posto admi­nistrativo de Mieze, à entrada do distrito de Metuge. Os contornos da estrada que nos levaria ao nosso destino tinham sumido das nossas vistas. Vimo-nos envolvidos por uma fronteira líquida. Uma cor­rente feroz convidava-nos a todo o instante a um destino tenebroso.

A força e imensidão daquelas águas turvas, cuja dimensão semi­cerrava os olhos de quem se atre­via a estender o olhar, deixavam­-nos literalmente em cólicas.

Por alguns minutos, ficámos entre a terra firme e o curso de água, que se precipitava em di­recção ao mar, a uma velocidade que beirava os 50 quilómetros por hora, emitindo um som arrepiante e aterrorizante.

A nossa vida ficou dependente de cálculos e de sorte. Muita sorte. Um cenário sinistro desenhou-se. Seguir até Macomia era uma ques­tão de escolha. Ou não. A verdade é que Ave-marias foram rezadas em silêncio; os antepassados in­vocados numa busca por forças naquela condição de adversidade.

O desafio estava lançado. De qualquer modo, naquela condição de cegueira, uma luz guiou a men­te dos condutores que transporta­vam a nós, jornal domingo, e a dis­tinta lista de altas individualidades lideradas pelo Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário.

Texto de CAROL BANZE
carol.banze@snoticicas.co.mz

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