– sublinha Ungulani Ba Ka Khosa, em entrevista ao domingo, a propósito do seu mais recente romance
TEXTO DE PRETELÉRIO MATSINHE
FOTOS DE INÁCIO PEREIRA
Uma vez mais, o escritor Ungulani Ba Ka Khosa mergulha nos seus conhecimentos sobre a história. Em “Assim Não, Senhor Presidente”, recua para os anos pós-independência, onde retoma a sua luta também contra o silenciamento da memória, contra o esquecimento, contra uma história linear; elabora sobre o aburguesamento desenfreado que se verificou com a abertura do país à economia do mercado.
A obra fala igualmente sobre a desvalorização da educação e perda da identidade cultural; homenageia a geração 8 de Março que tudo deu pelo crescimento e desenvolvimento de Moçambique e afirma: “um país não se constrói com a negação do outro”.
“Assim Não, Senhor Presidente”. Porquê esse título?
A alavanca para este livro foi o que vi sobre a Vila Algarve, aquela casa em destruição, aquela memória a esfarelar-se. Ocorreu-me que há qualquer coisa neste meu país que se vai perdendo, por um lado. Por outro, consciente ou inconscientemente, vão se apagando algumas memórias e é nesse sentido que, ao longo do texto, emerge o “Assim Não, Senhor Presidente”. É nesse sentido que o título emergiu, e disse, pronto, aqui está ele. De certo modo, confundiu muita gente que achava que me referisse a este consulado, mas não …
Não se refere a um consulado em concreto…
Este livro pura e simplesmente toca memórias que tendem a ser silenciadas e isso parte desde o período pós-independência. Há uma memória que, de certo modo, foi coartada, a outra parte praticamente desapareceu e a Vila Algarve é exemplo disso. Tivemos presos políticos antes da independência e que muitos saíram em 1974. Eles tinham a sua memória, uma narrativa sobre o país, mas essa narrativa desapareceu, porque uma grande memória tinha de prevalecer, o que é mau. Um país é feito de muitas memórias. É assim como trabalho o livro. Leia mais…