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Ressano Garcia: uma vila às sombras

Por Idnórcio Muchanga

Quem por pouco tempo passa pela fronteira de Ressano Garcia dificilmente saberá que a vila está às sombras e repleta de estórias. Lá o desenvolvimento é ainda uma miragem, apesar do potencial que a vila tem, com destaque para o facto de ser uma das maiores estância aduaneira do país.

O posto administrativo de Ressano Garcia, distrito de Moamba, província de Maputo, localiza-se a cerca de 95 quilómetros da cidade de Maputo. Partilha as fronteiras rodoviárias e ferroviária com a África do Sul.

À entrada, o visitante é recebido pelo serpentear de camiões, que transportam ferro-crómio da África do Sul ao porto da capital moçambicana, estacionados à entrada do quilómetro-4, à espera de procedimentos aduaneiros.

À volta, chama atenção a paisagem exuberante e permanente de casas de alvenarias de arquitectura comum, entrelaçadas nas montanhas que caracterizam a região.

O facto de ser um destino privilegiado para pessoas e bens de Moçambique para África do Sul e vice-versa, a vila torna-se altamente movimentada e com um comércio muito dinâmico.

Mesmo sem a corrente eléctrica, o comércio não pára

Em Ressano vende-se de tudo um pouco. Desde hortícolas como alface e couve adquiridas nas cidades de Maputo e Matola até produtos manufacturados comprados em Komatiport, na África do Sul.

O caricato é que os produtos nacionais são mais caros relativamente aos importados, aparentemente devido à distância entre Maputo e Ressano Garcia (95 quilómetros), comparativamente a Komatiport (seis quilómetros).

Com 197 quilómetros quadrados, a vila fronteiriça acolhe cerca de nove mil habitantes. Possui duas escolas primárias e uma secundária de segundo ciclo. Conta igualmente com dois postos de saúde.

Com a estrutura do solo não propício para a prática de agricultura, por ser rochosa e sem indústria para empregar os locais, o comércio informal “mukhero” vai ganhando terreno, como alternativa para sobrevivência.

Alguns dos residentes vivem à base da imigração ilegal, facilitando a travessia de pessoas sem documentação de viagem para a África do Sul à busca de melhores condições de vida. Em algumas vezes se oferecem para facilitar vistos de entrada de viajantes, situação que tem dificultado o trabalho dos agentes da Migração.

A título de exemplo, com o fluxo migratório que se regista devido à quadra festiva foram, há dias, detidos 90 jovens surpreendidos pela Polícia de Guarda Fronteira a violarem a fronteira com intuito de escalar o país para passar as festas com os respectivos familiares.

Outros nativos dedicam-se ao câmbio informal de moeda. Posicionam-se nas proximidades do posto fronteiriço de Ressano Garcia, denominado “praça”. Faça sol, faça chuva não abandonam as bermas da EN4, onde de sombreiras ou guarda-chuva em punho interpelam os potenciais clientes que queiram trocar rande em Metical e vice-versa.

Há cambista que chegam a movimentar mais de cem mil meticais por dia. O afamado local de câmbio informal é tão agitado que se a pessoa não presta atenção pode entregar o dinheiro a um cambista de má-fé que, posteriormente, pode desaparecer com o dinheiro. Leia mais…

TEXTO DE IDNÓRCIO MUCHANGA
idnórcio.muchanga@snoticias.co.mz

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