As regiões de “Benga” e de “Mpáduè”, na província de Tete, estão ligadas através de uma nova ponte, a qual se estende sobre o Rio Zambeze. A nova infra-estrutura vai alterar todo o cenário rodoviário regional, dentro do novo conceito de gestão da rede de estradas em Moçambique a ser futuramente implementado.
A nova ponte está a ser construída em paralelo à Ponte Samora Machel, a mais antiga infra-estrutura de grande dimensão no país. Permitirá que a cidade de Tete possa ficar aliviada no processamento do intenso tráfego rodoviário que se regista na região. Conheça, já a seguir, os detalhes desta mega-operação que levou ao surgimento da nova ponte sobre o Rio Zambeze.
Este projecto surge na sequência do contrato de concessão assinado entre o Governo moçambicano e o consórcio “Estradas do Zambeze”, com vista à construção de uma segunda ponte na cidade de Tete para aliviar a pressão que existe sobre a Ponte Samora Machel.
A Ponte Samora Machel foi construída no final da década de sessenta e entrou em operação por volta de 1973. De lá a esta parte, tem estado a servir de único elo de ligação entre a província de Tete e os países do “Interland”, designadamente Zâmbia, Malawi e o Zimbabwe.
Com o actual nível de tráfego, dimensionado pelo elevado escoamento de mercadorias para aqueles países limítrofes de Tete, constatou-se que aquela infra-estrutura não está a corresponder à demanda desejada em termos de serviços.
A Ponte Samora Machel beneficiou-se recentemente de reabilitação, porém, o Governo manteve sempre a necessidade de adequar os serviços a níveis altos, visto a intensidade de tráfego foi sofrendo transformações ao longo dos tempos.
A solução encontrada pelo Executivo foi de construir uma segunda ponte sobre o Rio Zambeze, optando-se por uma infra-estrutura dimensionada ao padrão de carga que circula pela região.
Com a construção da nova ponte sobre o “Zambeze”, o tráfego pesado passará para fora da cidade de Tete, deixando de causar grandes transtornos àquela autarquia, como actualmente acontece.
A estratégia, segundo referiu o director do projecto de construção da nova ponte, Mateus Jakisson, com a entrada em operação da nova infra-estrutura, a Ponte Samora Machel ficaria reservada quase que exclusivamente para o processamento do tráfego ligeiro, com a excepção de alguma carga pesada destinada ao abastecimento da cidade de Tete.
TUDO EM BETÃO ARMADO
A nova ponte, que liga as regiões de “Benga” e de “Mpáduè”, possui uma característica distinta da actual Ponte Samora Machel, estando estruturada na sua totalidade em betão armado.
Segundo verificámos no local, a infra-estrutura possui um tabuleiro em formato de caixão, sendo que, a sua edificação, obedeceu a vários parâmetros técnicos de construção civil e os mais rigorosos regulamentos de edificação daquele tipo de obra. Não só foram observados, na fase de concepção, os regulamentos instituídos ao nível da região da SADC, como também padrões europeus.
Tem uma extensão de mil e 600 metros de comprimento, com dois viadutos de acesso em cada uma das extremidades, para além da ponte propriamente dita sobre o majestoso Rio Zambeze que “banha” a cidade capital da província de Tete. Os dois viadutos de acesso possuem uma extensão de cerca de 860 metros, tendo a ponte sobre o canal fluvial uma dimensão de 717 metros de cumprimento.
Em termos transversais, a nova infra-estrutura tem uma largura de 14,8 metros, com duas vias de circulação, uma para cada sentido, com a dimensão de 3,6 metros, além de bermas de 1.5 metro e dois passeios pedonais de 1.5 metro cada.
Em termos característicos, a nova ponte possui um padrão até certo ponto diferente das infra-estruturas erguidas no solo nacional, traduzido no elevado número de pilares sobre os quais ela assenta. O director do projecto revelou que a ponte assenta sobre 23 pilares, incluindo a parte referentes aos viadutos.
Ao longo da sua extensão, a infra-estrutura conterá iluminação e sinalização recomendáveis em termos rodoviários, para além de outros requisitos técnicos exigidos.
Segundo apurámos, a construção da ponte terminou em Outubro passado, estando actualmente a decorrerem trabalhos de colocação das vigas de bordaduras dos passeios, o revestimento das faixas de rodagem, obras de iluminação, pintura, entre e outras relacionadas com aparelhos de segurança.
Espera-se que até finais de Abril deste ano, a ponte esteja apta para processar o tráfego que vai deixar de passar pelo centro da cidade de Tete, tal como acontece actualmente.
Abril é o período determinado para a conclusão da infra-estrutura de atravessamento sobre o Rio Zambeze, mas o projecto deverá efectivamente ser concluído em Setembro de 2014, período no qual irá decorrer uma série de obras complementares.
Com efeito, até Setembro terão lugar trabalhos que incidirão sobre as vias de acesso à ponte, cuja extensão deverá ser de cerca de 15 quilómetros, com a colocação de rotundas de ligação com a Estrada Nacional Número Um (EN1), nas extremidades Sul e Norte da ponte.
Na zona de “Mpáduè”, na cidade de Tete, ponto que servirá de saída da ponte, será instalado uma praça de portagem, cuja infra-estrutura está numa fase adiantada de construção.
Para além daquela praça de portagem, está ainda prevista a construção de duas unidades similares na EN1, nomeadamente em “Changara”, sendo uma para cobrir o eixo de ligação de “Cuchamano” para o Zimbabwe e, a outra, o acesso para Manica.
Tal como soubemos, na zona Norte da cidade de Tete, está previsto a instalação de uma outra praça de portagem, no eixo da EN1 em direcção a “Zóbuè”, no posto de fronteira com o vizinho Malawi.
De realçar que, o volume do investimento para este mega-projecto está orçado em 105 milhões de Euros, resultante de uma linha de concessão do governo português para Moçambique.
Para além da captação do retorno do investimento por via da instalação de praças de portagem, o Governo estabeleceu a obtenção de receitas através das taxas de fronteira, que o nosso país estabelece com o Malawi, Zâmbia e o Zimbabwe.
As receitas obtidas através da cobrança de portagens e das taxas fronteiriças irão, sobretudo, reverter para o retorno do investimento, bem como para a manutenção das infra-estruturas construídas.
De realçar que, o pacote para este projecto de concessão prevê ainda que, parte das receitas, se revertam para trabalhos de manutenção da Ponte Samora Machel, na entrada da cidade de Tete.
Tal como frisou Mateus Jakisson, além de se assegurar a manutenção daquela infra-estrutura histórica, as receitas serão direccionadas para a criação de condições de circulação nos cerca de 700 quilómetros de estradas da província de Tete, concessionados à “Estradas do Zambeze”.
Reassentamento de qualidade
As obras de construção da nova ponte sobre o Rio Zambeze, em Tete, implicaram o ajustamento de certas áreas que até aqui eram habitadas ou destinadas à actividade agrícola ou ainda à criação de gado.
O trabalho mais assinalável consistiu no reassentamento de populações afectadas, para zonas nunca antes exploradas nos arredores da cidade capital da província de Tete.
Estão, até ao momento, contabilizadas cerca de 48 famílias abrangidas pelo processo de reassentamento, cujo destino vai ser uma área nunca antes explorada em “Mpáduè”, nos arredores da cidade de Tete.
As estradas de acesso, nas duas extremidades, possuem um corredor de cerda de 60 metros de largura e tudo o que foi encontrado naquele raio obrigou à compensações e reassentamentos, tal como apurámos em Tete.
Com efeito, está a ser erguido um novo bairro na região de “Mpáduè”, na cidade de Tete, através da construção de casas dos tipos 2,3 e 4, liderado por um empreiteiro de origem chinesa.
De referir que, o Governo Provincial de Tete orientou os construtores no sentido de se evitar a construção de casas do tipo-1, como forma de oferecer melhor qualidade para as famílias afectadas, à luz do regulamento de compensações e da melhoria das condições de vida das populações.
O governo provincial definiu ainda que, para este efeito, fosse assegurado o controlo de qualidade das casas, para evitar situações que aconteceram no ano passado em relação ao projecto de “Cateme”, em Moatize, envolvendo a mineradora “Vale Moçambique”.
Estão a ser construídas casas convencionais, com energia eléctrica, conforto em termos habitacionais, vedação no quintal, sistema de saneamento, tanques cisternas de abastecimento de água, posto médico, entre outras infra-estruturas.
Para o acompanhamento das obras, foi criado um comité local de reassentamento, que, de quinze em quinze dias, tem feito o acompanhamento do desenrolar dos trabalhos que estão a ser levados a cabo.
Benjamim Wilson
Fotos de Benjamim Wilson