O Conselho Municipal da Cidade da Matola reuniu-se no sábado, dia 17, com residentes de diferentes bairros daquela urbe afectados pelas últimas enxurradas. Trata-se dos bairros da Liberdade, Fomento, Nkobe, Machava Bunhiça, entre outros, que têm graves problemas de saneamento. O objectivo era discutir o problema do escoamento da água pluvial e apresentar possíveis soluções.
No encontro, ficámos a saber que as acções em curso nos diferentes pontos daquela autarquia visam defender os interesses das comunidades que sofrem directamente o impacto das chuvas que se registam desde finais do ano passado.
Para o caso concreto de Fomento e Liberdade, foi necessário abrir valas que vão garantir a passagem da água, o que implicou o derrube de muros de vedação de algumas residências e estabelecimentos, sobretudo comerciais. Também foi derrubado um aqueduto que bloqueava a normal circulação da água ao longo da vala.
A acção não foi bem recebida por alguns empresários que reclamam prejuízos nos seus negócios.
O nosso jornal apurou que na Matola existiam 150 bacias de retenção de água que intercomunicavam entre si, no entanto, nos locais onde estavam as bacias, hoje existem construções diversas, o que significa que alguns bairros nasceram em locais impróprios.
Para o caso de Nkobe, fez-se um levantamento com vista à construção de valas de drenagem e um projecto de construção de bacias de retenção, ou seja, fazer renascer as bacias que sempre existiram. Assim, sempre que chover a água terá espaço para se alojar e ser aplicada para outras actividades como aquacultura.
Até ao momento,foram identificadas três áreas para a construção das bacias de retenção, sendo a primeira no interior do bairro Nkobe, a segunda na Machava KM 15 e a terceira na zona do bairro de Fomento, onde foi destruída uma parte do muro dos armazéns, com vista a recuperar aquela bacia.
Um dos presentes na auscultação foi Victor Cardoso, do bairro Nkobe, que exigiu que o município estipulasse o tempo que as obras vão durar. “Tomámos conhecimento de que há um projecto de estrada a ser construída no interior do nosso bairro. É bem-vindo, mas também estamos com problemas graves, que precisam de soluções rápidas. Gostaríamos de ter um canal que vai escoar a água pluvial”, disse.
Júlio Boene também enalteceu o projecto do Conselho Municipal da Cidade da Matola, mas exigiu a responsabilização criminal das pessoas que autorizaram as construções ao longo das bacias de retenção.
Na zona do Santos, segundo Rogério Daniel, quando chove algumas empresas abrem canais provisórios para a água passar, empresas que foram construídas sobre condutas que deviam permitir a passagem da água.
Na altura, lamentou o facto de a fábrica de óleos contribuir para que a água fique concentrada por não ter passagem. “Temos também barracas e contentores que obstruíram a saída da água, por isso ela invade as nossas residências e fica por lá. Acreditamos que quando forem abertas as condutas ela vai vazar”.
Outro residente ouvido pelo nosso jornal foi Jorge Mangaze, representante da Associação de Residentes e Amigos do Fomento, que se disponibilizou a colaborar com o município.
“Pedimos a remoção o mais rápido possível das infra-estruturas e construções existentes nos canais de drenagem e na bacia, de modo a se construírem mais drenagens. Acho que quem construiu sobre a linha de água deve ser retirado, pois sempre que chove vivemos o mesmo dilema e não temos onde ir.”
De referir que ao longo da semana finda domingo voltou a percorrer os bairros afectados para ver e perceber como é que as pessoas fortemente afectadas pela chuva estão a superar o drama, quer a nível psíquico, quer a nível material.
Para já, é ponto assente que algumas famílias que sem o saberem ergueram as suas casas em zonas pantanosas tão cedo não poderão habitá-las porque a água putrefacta existente no interior dos quintais vai durar muitas semanas.
Outros, apesar de já terem gasto quantias apreciáveis para a edificação das suas residências, poderão desistir desses locais, porque se aperceberam que estão a construir em lugares errados.
O “calcanhar de aquiles” de todo este problema é, sem sombra de dúvida, a falta de valas de drenagem, sobretudo nos novos bairros, aliada à má delimitação de talhões, o que resultou na ocupação anárquica dos espaços.
Angelina Mahumane
Fotos de Carlos Uqueio