O ministro da Defesa do nosso país, Major-General, Atanásio Salvador Mutumuke, foi condecorado, dia 9 deste mês, com a ordem Kagera, no Uganda, pela sua contribuição na libertação daquele país, das amarras do ditador Idi Amin Dada, nos anos 78/79,dado surpreendente para a maioria dos moçambicanos e merecedor da seguinte entrevista que o domingo manteve com o laureado, quarta-feira passada.
Sabíamos da sua valentia como comandante das Forças Populares de Libertação de Moçambique que trouxeram a Independência Nacional, bem assim das Forças Armadas de Moçambique que resultaram da formação do Estado moçambicano, afinal, depois houve tempo para libertar outros países?
Sim, antes do Uganda, participamos aqui no Zimbabwe, na altura Rodésia do Sul, bem como aquando da agressão sul-africana em Angola, eu fui lá por três vezes. É verdade que em Angola não fomos participar directamente em alguma batalha. A primeira vez fui com o Comissário Político das Forças Armadas, Armando Guebuza, e a segunda com o General Mariano Matsinhe. A terceira fui eu a chefiar a delegação.
Iam fazer o quê em Angola?
Íamos em missões exploratórias de avaliação da situação e estudar, junto com os irmãos angolanos, aonde seria necessária a nossa intervenção, mostrar a predisposição de Moçambique de ajudar Angola. Há muitas razões que explicam essa irmandade de que hoje falamos. Não devíamos aceitar que Angola vivesse momentos dificílimos enquanto nós existíamos.
Em qual das regiões “quentes” estiveram e estavam dispostos a intervir, Cuíto-Cuanavale ou Cahama?
Todas as missões estavam direccionadas a Cahama.
Mas ao Zimbabwe foram nossos soldados, conforme revelou o presidente Samora Machel, no comício da praça dos Heróis, que ele próprio disse que seria o último cuja agenda era Rodésia de Ian Smith, porque o povo do Zimbabwe alcançaria a Independência em breve…
Ao Zimbabwe sim, estivemos fisicamente a apoiar as ZANLA, braço armado da ZANU/PF de Robert Mugabe, comandadas pelo falecido JosiahTongogara. Esse é um facto. Estivemos lá até à Independência do Zimbabwe, naquele grupo que depois foi apresentado publicamente, como combatentes internacionalistas, não sei se se lembra.
Mas falemos do Uganda. Sabemos que Idi Amin Dada, que era ministro de Defesa, faz com sucesso um golpe militar contra o presidente Milton Obote, que se refugia para a Tanzânia e a partir desse momento as relações entre os dois países azedam. Também sabemos que a determinada altura, Idi Amin ataca e ocupa parte significativa da Tanzânia. Em que momento os soldados moçambicanos entram no Uganda?
É exactamente quando o Uganda do ditador Idi Amin ataca e ocupa algumas regiões da Tanzânia. A Tanzânia que acabava de contribuir grandemente para a nossa libertação e consequente Independência Nacional. A aventura de Idi Amin tinha que ter resposta e de Moçambique não tardou. De pronto fomos enviados pelo presidente Samora. Chefiava a delegação, mais uma vez, o Comissário Político Nacional, Armando Guebuza. Fomos ter com o presidente Nyerere, a mostrar a nossa disponibilidade em ajudar no que fossemos úteis.
Ele aceitou a vossa oferta, digamos, predisposição?
Sim. Fomos estudar todos os detalhes no terreno e enviamos os nossos instrutores técnicos com vista a acabar a aventura de Idi Amin.
Como é que foi e porque é que se considerou de libertação a luta contra o Idi Amin?
Os nossos homens e o nosso equipamento simplificaram a reconquista das zonas ocupadas por Idi Amin na Tanzânia eatravessar a fronteira, levar a guerra até Kampala, a capital, libertando assim, o povo ugandês do regime ditatorial de Idi Amin, que era um opressor do seu próprio povo. É nesse ângulo que se chama libertação a retirada de Idi Amin. Foi como que uma nova Independência.
Portanto os moçambicanos não foram a pedido do Uganda, mas sim, da Tanzânia…
Da Tanzânia, sabendo entretanto que a saída de Idi Amin era uma oportunidade de libertar aquele povo, tanto é que, de tão sanguinário e déspota o regime ugandês era condenado por todos os povos amantes da paz. Era um regime isolado, mesmo a nível da Organização da Unidade Africana (OUA). A consumação da aventura de atacar e ocupar parte do território tanzaniano veio apenas precipitar a sua queda.
Em que consistiu o apoio técnico e meios humanos de Moçambique, que agora nos revelam terem sido determinantes em função das condecorações?
Introduzimo-nos no famigerado triângulo de Lwero e propiciamos o sucesso da grande batalha de Kadonga, nome de um dos rios emblemáticos da luta de libertação do Uganda e pelo qual é conhecida a mais alta condecoração daquele país.
YOWERI
MUSSEVENI
Mas nessa altura já sabiam da existência de Yoweri Museveni, o actual chefe do Estado ugandês?
Por volta de 1973, Yoweri Museveni, que se encontrava a estudar, provavelmente refugiado na Tanzânia, entrou em contacto com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e chegou a visitar as nossas Zonas Libertadas. Ele esteve durante algum tempo no Primeiro Sector (região correspondente aos actuais limites do rio Rovuma à estrada que liga as vila municipais de Mueda e Mocímboa da Praia). O que é que de facto estava a fazer, só os nossos chefes é que sabiam. Mas quando rebenta a situação de Idi Amin, fomos sabendo que eventualmente tivesse vindo beber alguma experiência da FRELIMO, que na altura lutava para a libertação nacional, tanto é que, já depois da Independência do nosso país, recebemos 28 ugandeses no nosso Centro de Instrução de Montepuez. Na altura o governador de Cabo Delgado era Raimundo Pachinuapa. Lembro-me que quando Pachinuapa fosse visitar o centro diziam“ ÓhMzé (velho), nós não viemos aqui para treinar, viemos estudar”. Estavam, afinal, a falar com um macaco-velho, que nas mesmas condições esteve durante largo tempo, a fazer tudo: treinar e estudar, na Tanzânia. Hoje eles são generais no Uganda e tive o ensejo de me encontrar com eles, desta vez.
Consta que de facto vinham treinar…
De facto a guerra precipitada pela agressão do Idi Amin à Tanzânia, internamente, no Uganda, viria a ter resposta de guerrilheiros comandados por Yoweri Museveni e aqueles 28 treinados em Montepuez formariam mais tarde o núcleo que formatou e pôs em pé a 1ª Brigada de Uganda no pós-Idi Amin. Afinal, um dos 28 jovens, era o irmão mais novo de Yoweri Museveni, o Salimo Salé, ainda vivo.
Isso leva-nos a acreditar que mesmo antes da invasão de Idi Amin a Tanzânia, havia alguma frente nacional em formação contra o regime ugandês…
É como disse antes, tratava-se dum regime cuja queda significaria uma libertação daquele país do jugo, que era visto como uma das mais sanguinárias ditaduras do nosso continente, ao lado da de Jean-Bédel Bokassa, da República Centro Africana, e pouco mais. Não era diferente dos regimes da Rodésia do Sul, de Ian Smith e da África do Sul, do Apartheid. Aliás, se era diferente, seria no sentido de que ele próprio, Idi Amin, além do mais, era um sanguinário primário, acusado, sem provas em contrário, de ser um canibal…
Revisitando o pouco que a nossa memória ainda conserva. À altura em que Idi Amin ataca a Tanzânia, por volta de 1978/79, o General Mutumuke era comandante da temível 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Tete. Como foi possível a sua inclusão em outras missões, incluindo essa do Uganda?
Eu saí de Tete, onde era comandante da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, solicitado pelo Comandante-chefe, o Marechal Samora Machel, Presidente da República, e com o Comissário Político das FAM, Tenente-General Armando Guebuza, recebo a missão. Juntei-me ao grupo e fomos compreender a situação, incluindo prováveis dificuldades que a Tanzânia pudesse apresentar. Já no terreno, fomos até Kagera, nome de um rio que separa a Tanzânia do Uganda e percebemos que ali precisava-se do nosso apoio. Viemos informar ao Comandante-chefe que fez chegar a constatação ao presidente Nyerere, que por sua vez aceitou o envio dos nossos oficiais para ultrapassar o percalço.
O que é propunham na prática?
Apresentamos a proposta de, a partir de Kagera, passar à contra-ofensiva, o que tecnicamente implicava a preparação e reunião de meios de combate, nomeadamente, os BTR-60, BRTM (de reconhecimento) carros lagartos, BTS (carros que transportam uma ponte e lançam à frente para a travessia de rios)… que eram do domínio dos nossos oficiais, daí que tínhamos toda a autoridade técnica de apoiar a tropa tanzaniana para, em tempo útil, atravessar o rio Kagera, sob o comando do Coronel Chicutsa, já falecido, também condecorado, a título póstumo.
Isso seria possível hoje, ir acudir um país tão distante sem ser por interesse económico. Sobretudo sabendo que apoiando a Tanzânia o primeiro beneficiário seria o povo ugandês que se livraria de um opressor?
Hoje a situação é diferente. O contexto é outro. Se se recorda, nós acabávamos de sair de guerras, a Tanzânia e o Uganda haviam conseguido as suas independências sem guerras. Nós estávamos em vantagem porque a experiência era-nos muito útil, bem como o sabor de solidariedade internacional e o espirito de sacrifício, estavam patentes na forma como tínhamos conquistado a nossa Independência. A nossa identidade e ligação com os objectivos da Unidade Africana eram muito consonantes.
Lembro-me que quando éramos jovens, em 1965, fomos cantar para a Conferência das Organizações dos Nacionalistas que congregavam as Colónias Portuguesas, coisas ligadas à unidade africana, evocando os nomes dos líderes da altura, Nkwame Nkruma, do Gana, SekouTouré, da Guiné Konacry, Nasser, do Egipto, etc. Hoje a situação é diferente. O espírito internacionalista procura-se nos nossos dias.
MERCENÁRIO
É CONTRATADO
Qual a diferença entre o que vocês fizeram na Tanzânia, ajudando a derrubar um regime hostil do outro lado da fronteira, Uganda, ou na Rodésia do Sul, onde a vossa participação contou muito para derrube do Ian Smith e a consequente proclamação da independência do hoje Zimbabwe, face àquilo que faziam ou ainda fazem os mercenários?
O mercenário é contratado, pago para derrubar um governo legítimo, eleito. O nosso caso, no quadro do internacionalismo de que falamos, é uma vontade genuína de ajudar, em função das amizades entre países. Por exemplo, a Tanzânia estava a ser agredida, dentro daquilo que se sabe da nossa relação com a Tanzânia, não devíamos ficar de fora, decidimos ir apoiar os nossos irmãos. Não ganhamos nada do ponto de vista financeiro, não. Irmandade e amizade entre os povos falaram mais alto. Não devíamos ficar de braços cruzados. A Tanzânia foi a nossa base, a partir de onde construímos a nossa Independência, batemos o colonialismo até proclamarmos essa nossa liberdade que no próximo sábado faz 41 anos. Como deixaríamos que fosse agredida, a sofrer?
Mas lá dentro do Uganda no quadro das facilidades criadas pela vossa intervenção, nasceram muitas facções anti e pós- Idi Amin, a partir mesmo da recondução de Milton Obote, que havia sido derrubado. Viemos a saber que internamente surgiram os irmãos Okello (Tito e Basílio), o Paulo Mwanga, a espaços ouvíamos falar de Museveni, do Professor Yusuf Lule, que veio tentar acalmar o ambiente político do país, mas que demitiu-se um mês depois de assumir o cargo, etc. Qual foi a vossa posição em relação a Uganda, afinal, depois que ajudaram-no a libertar-se? Qual era a tendência de Moçambique face às facções ugandesas?
A nossa tendência foi sempre essa, a favor do grupo de Yoweri Museveni, provavelmente pelas razões acima descritas, mas também nem podemos falar de tendências hoje, porque o que nós queríamos era que a Tanzânia ficasse livre do agressor, que era o Idi Amin, do Uganda. Ele entendeu agredir a Tanzânia e a nossa missão era combater para derrubá-lo.O que se seguiu foram problemas internos que felizmente acabaram no bom caminho, considerando que o grupo que prevaleceu foi daquele que apoiávamos desde quando não sabíamos das suas reais intenções, tal como disse, o grupo de Museveni, o grupo que bebeu um pouco da nossa escola, do actual presidente da República, muito amado pelo povo, segundo fomos capazes de testemunhar em mais de uma vez.
Foi o mesmo procedimento seguido no caso de Ian Smith, na antiga Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe. Era necessária a nossa intervenção para que o Zimbabwe ficasse independente e assim a nossa Independência tivesse certa segurança, porque se tratava de um regime inimigo também do povo moçambicano, logo, nas nossas fronteiras. Recebemos a ordem e fomos! Chama-se a isso, internacionalismo, amizade entre os povos, nunca mercenarismo!
Aqueles bombardeamentos de Smith, em Tete, Gaza, Sofala, Manica…os massacres de Nhazónia, Mavonde…
Mas em Mavonde houve uma coisa boa, naquela posição de Mavonde derrubamos seis aviões Mirage de Ian Smith, nessa altura o comandante era o Brigadeiro João Aleixo Malunga. Essas é que são histórias para contar às novas gerações, que infelizmente não interessam aos meus amigos jornalistas…
O BI militar (incompleto) de Mutumuke
Atanásio Salvador Mutumuke, militar desde jovem, primeiro na luta armada de libertação nacional, durante a qual chefiou bases militares no primeiro sector, correspondente à região geográfica que parte do rio Rovuma à estrada que liga Mueda a Mocímboa da Praia, é um homem de poucas palavras, de comportamento que às vezes não condizem com a sua tenacidade militar, que se pode confundir, inclusive, com certa timidez.
Trata-se de um dos guerrilheiros de que tanto se fala nas antigas zonas libertadas, na província de Cabo Delgado, no decurso da luta armada, conhecido pela sua bravura. Ainda durante a luta armada, Mutumuke e já no fim, em 1 de Agosto de 1974, chefiou o grupo que assaltou o posto da tropa colonial,conhecido pelos portugueses por Omar, na região do régulo NambiLião, hoje aldeia de Namatil, Localidade de Nachitenje, posto administrativo de Ngapa.
Foi uma batalha travada sem o soar de nenhum tiro, tendo sido capturados, vivos 137 soldados portugueses, ficando na história como a última batalhada guerra colonial e consequente processo de proclamação da Independência. Mutumuke chefiava o grupo dos guerrilheiros, no qual pontificava, o falecido Abel Assikala, cuja obra de rendição dos português é lhe atribuída, ao ter gritado em megafones, ludibriando-os que se rendessem porque estavam totalmente cercados.
Proclamada a Independência e por alturas da agressão dos rodesianos, Samora Machel, monta um cordão defensivo que consistia no comando de Atanásio Mutumuke, da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Tete, João Aleixo Malunga, na 3ª, em Manica, e Domingos Fondo, em Gaza, com sede de influência directa em Mapai.
“ Havia na altura um plano concreto de invadir Moçambique, a partir da principal direcção de Mutare/Chimoio/Beira, a secundária era Changara/Tete e no Sul era Gaza e todo o vale do Limpopo” diz Mutumuke.
A 7ª Brigada, em Cuamba, Niassa, seria outro destino de Atanásio Mutumuke, quando houve a necessidade de travar a guerra da Renamo para a região norte, nomeadamente, Niassa, Nampula e Cabo Delgado. Internamente foi medalhado com a ordem do combatente e de Herói do II grau.
O ditador que Moçambique
ajudou a derrubar no Uganda
Idi Amin Dada, tinha, entre outros epítetos "O talhante de Kampala", "senhor do horror" e "o carniceiro da África”. Era um dos mais cruéis e desumanos ditadores da África, durante quase dez anos (1971 a 1979) em que ficou presidente de Uganda, cargo ao qual ascendeu por um golpe de Estado, na altura ministro da Defesa do seu país, então liderado por Milton Obote.
O golpe aconteceu quando em 2 de Fevereiro daquele ano o presidente da República estava de regresso ao país, vindo de Singapura, onde participara numa reunião das Nações. O avião presidencial recebeu ordens de não aterrar em Kampala, porque o poder estava nas mãos de Idi Amin Dada.
Obote teve que se refugiar na Tanzânia e o avião resgatado por ordens das novas autoridades. Estima-se que Amin tenha morto entre 300 mil e meio milhão de pessoas durante o seu regime.
O ex-ditador de Uganda nasceu em meados da década de 20, em uma pequena tribo de camponeses muçulmanos de Kakwa, nas margens do Nilo, um dos distritos mais remotos de Uganda. Depois de sair da escola, executou trabalhos espetaculares, mas foi recrutado ao exército por um oficial do exército colonial britânico.
Amin juntou-se ao King's African Rifles (KAR) do exército colonial britânico em 1946 como cozinheiro assistente. Impressionou com os seus 1,90 metro de altura e 110 quilos de peso bem como a sua habilidade pugilística, que o converteram num campeão de boxe na categoria de pesos-pesados do seu país (1951-1960).
Foi forçado a juntar-se ao exército durante a segunda guerra mundial. Depois disso, na infantaria, participou de diversos conflitos na Somália e no Quénia. Durante os anos seguintes, foi acumulando promoções e gratificações militares, até que em 1966, dois anos após a independência do país, tornou-se chefe do Exército. Amin declara-se Presidente de Uganda, sabido do seu temperamento megalômano, vingativo e violento, e logo inicia seu governo marcado pela brutalidade.
Em 1972 expulsou cerca de 40 mil asiáticos, descendentes de imigrantes do império britânico na Índia, dizendo que Deus lhe havia dito para transformar Uganda num país de homens negros. Ameaçou queimá-los vivos caso não saíssem em 90 dias. Nesse mesmo ano, milhares de civis, juízes, diplomatas, professores e estrangeiros foram executados durante seu governo. Em alguns casos, vilas inteiras foram dizimados. Os corpos foram despejados no rio Nilo.
Era mesmo louco!
As matanças e carnificinas garantiram-lhe o título de "senhor do horror" durante seu regime. Muitos ugandenses acusavam o ditador de manter cabeças decepadas de seus inimigos numa geleira, de alimentar crocodilos com cadáveres e de ter desmembrado uma de suas esposas.
Com o passar dos anos, muitos acreditavam que ele era louco. Uma vez declarou-se "rei da Escócia", proibiu os “hippies” e as minissaias, e chegou a um funeral da realeza saudita usando um Coldre. Ficou conhecido também por fazer pouco de vários líderes internacionais: afirmava dar conselhos ao presidente americano Richard Nixon, criou o "Fundo Ugandense para a Salvação da Inglaterra" e cogitou a transferência da sede da ONU de Nova Iorque para a capital de Uganda.
Fim inglório!
Seu reinado de horror e sangue durou até 1979, quando o líder por ele derrubado Milton Obote, exilado na Tanzânia, organizou um ataque e, no dia 11 de Abril, o ditador foi derrubado pela Frente Nacional de Libertação de Uganda, com ajuda da Tanzânia, que por sua vez, como vimos, tinha à ilharga Moçambique, com a participação do nosso entrevistado, por isso condecorado, por ocasião da passagem do 27º aniversário do dia dos heróis daquele país.
Abandonou então o país e fugiu para a Líbia, mas teve de procurar um novo refúgio quando o líder líbio, Muammar Kaddafi o expulsou do país. Recebeu asilo da Arábia Saudita em nome da caridade islâmica, onde passou a viver até o fim de sua vida, acompanhado pelas suas quatro esposas e seus mais de 50 filhos. Quando o seu estado de saúde se agravou, em Julho, uma de suas quatro mulheres pediu para voltar a Uganda para morrer, mas o actual governo negou o pedido, sob o argumento que se retornasse ao país seria julgado pelas suas atrocidades.
O ditador morreu com mais de 80 anos devido a falência múltipla dos órgãos. Foi enterrado na Arábia Saudita no sábado, 16 de agosto de 2003.
PEDRO NACUO
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