A “perdiz”gerou impasse nas negociações com o Governo e rumou ao mato, seu habitat natural, embora preserve na cidade alguns moradores no ninho. Nas linhas que se seguem domingo analisa os motivos que levam a Renamo a furtar-se ao diálogo e publica o teor de uma carta que mostra que Dhlakama tem receio de desarmar os seus homens.
O Governo cedeu em vários pontos da proposta apresentada pela Renamo no tocante à revisão do Pacote Eleitoral, primeiro ponto da agenda das negociações agora em impasse sintomático.
domingopublica, uma vez mais, num texto à parte, os pontos que separam o Governo e a Renamo nesta matéria, que se resumem, no essencial, na exigência da “perdiz” de uma Comissão Nacional de Eleições designada segundo o princípio da paridade entre o Governo e a Frelimo e na constituição de um Secretariado Técnico de Administração Eleitoral dirigido por um director geral e um director geral adjunto designados por consenso entre a Renamo e a Frelimo.
No texto que publicamos à parte fica claro que o Governo até concorda com a Renamo em alguns pontos. Noutros concorda parcialmente e esboça propostas de melhorias ao documento.
Contudo, a Renamo, pede mais cedências e na mesa de diálogo não dá nada em troca.
domingoapurou que este documento da Renamo, e acolhido pelo Governo em alguns pontos, já foi enviado três vezes ao “Gabinete” de Afonso Dhlakama, reiterando os posicionamentos de um Executivo que cedeu de mais.
A partir daqui o Governo começou a pedir cedências também à Renamo, pretendendo avançar ao segundo ponto da agenda: o desarmamento dos homens armados de Dhlakama.
Vale a pena ler a carta do Governo : “no âmbito do diálogo em curso entre o Governo e a Renamo, serve a presente para proceder ao envio do documento em anexo, atinente a exigência do Governo sobre o desarmamento da Renamo, sobre a manifestação da disponibilidade do Presidente da República em dialogar com o Presidente da Renamo, bem como a necessidade de assinatura das actas em atraso”.
E prossegue: “O Presidente da República está disponível a dialogar com o presidente da Renamo na cidade de Maputo. Estamos, por conseguinte, disponíveis para, de imediato, iniciarmos os preparativos com vista ao sucesso do possível diálogo”.
E sublinha: “O Governo da República de Moçambique quer saber o que a delegação da Renamo tem a dizer”.
Resposta da Renamo: “A delegação da Renamo vai estar presente para o diálogo com o Governo . Agenda: conclusão do primeiro ponto de agenda atinente a Legislação Eleitoral”.
A partir deste impasse a Renamo inicia ataques contra civis. Queima autocarros e reactiva o seu apetite pelo gado bovino, revelando pouco interesse pelo diálogo, faltando, sistematicamente, às audiências por si solicitadas ao Governo do dia.
Mesmo assim, o Governo todas as segundas feiras faz-se presente, todas as segundas-feiras, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano e, sem prejuízo da continuação do diálogo que vinha sendo habitual, começou a preparar peritos militares para dialogarem com a contraparte da Renano sobre o desarmamento dos homens armados que semeiam luto e destruição no país.
Resposta da Renamo: a equipe de especialistas militares, não vai se fazer presente por motivos de aspectos de condições logísticas.
Insistência do Governo: “Cumpre informar que o Governo manifesta a sua disponibilidade em assegurar as condições logísticas com vista a viabilizar a presença da equipe de especialistas militares da Renamo no Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano, para dialogar com a equipe de especialistas militares do Governo sobre questões de defesa e segurança.
A materialização desta contribuição só será possível, porém, se o Governo for informado sobre a dimensão real das condições logísticas necessárias para que a referida equipe esteja presente no diálogo em curso”.
A Renamo responde: “a delegação da Renamo aprecia a manifesta disponibilidade do Estado assegurar as condições logísticas, transporte, alojamento e alimentação de equipa de especialistas militares da Renamo.
A delegação da Renamo irá anunciar em tempo útil a sua presença nas rondas de diálogo no início das discussões do número dois sobre questões de defesa e segurança. E a verificação de aspectos de segurança e garantia quando na mesa de diálogo se chegar a um acordo do local da reunião do alto nível entre sua excelência presidente da Renamo e o senhor Presidente da República Armando Guebuza”.
O resto é já do conhecimento público: os homens de Dhlakama armaram-se de “espera-pouco”, facas, akms e demais instrumentos bélicos e matam o seu próprio povo, alegando que o Governo deve preparar saco de dinheiro que a Renamo paute por uma convivência democrática.
Voltaremos ao assunto na nossa próxima edição.
Bento Venâncio