“Khanimambo Frelimo, Khanimambo Moçambique”. O Presidente sul-africano não encontrou outras palavras para agradecer Moçambique pela liberdade da África do Sul. É nenhum outro momento um líder sul-africano, tinha sido tão claro neste sentimento de gratidão, não obstante Nelson Mandela, com convites de luxo para primeira digressão pelo mundo, ter escolhido Moçambique como primeiro a país a visitar na qualidade de primeiro estadista negro no país vizinho.
Vale a pena repetir o refrão: “Khanimambo Frelimo, Khanimambo Moçambique”. Jacob Zuma cantou, de peito aberto, agradecendo, na Matola, o país que o acolheu, o apoiou e fez dele Presidente hoje.
Cantou que se fartou, seguindo o tom de Samora Machel, tom vibrante e genuinamente moçambicano, de tal forma que toda gente ficou de pé da cerimónia que serviu para inauguração do Monumento da Matola, que eterniza a memória de moçambicanos e sul-africanos tombados durante um ataque aéreo na madrugada de Janeiro de 1981, que tinha como alvo principal Joe Slovo, proeminente figura na luta contra o apartheid que residia também em Moçambique.
Zuma imitou muito bem Samora, presente até hoje em todos nós, como o visionário que libertou a África austral do jugo colonial e do racismo.
Jacob Zuma, hoje Presidente da África do Sul, expressou sexta-feira última, na Matola, sentimento de eterna gratidão ao povo de Moçambique pela liberdade vivida hoje no seu país, liberdade que pode ser retratada nos seguintes termos: bandeira arco-íris (simbolizando igualdade racial), fim da dominação do homem pelo homem e busca da justiça social.
O estadista sul-africano, que durante muitos anos viveu em Moçambique (vale a pena repetir), fugindo da opressão do regime sanguinário e racista do apartheid, nunca foi tão claro: “o sangue derramado pelos moçambicanos nutriu a árvore que produziu como fruto a liberdade da África do Sul”, disse, acrescentando: “Seremos eternamente gratos pela assistência e ajuda prestada pelo povo moçambicano”.
Zuma não se esqueceu de Samora Machel, visto como líder carismático não só em Moçambique. “Quis o destino que a aliança entre moçambicanos e sul-africanos fosse selada pelo sangue derramado pelo melhor filho de Moçambique: Samora machel, apontou.
Acrescentou que sob liderança do saudoso Presidente moçambicano, a Frelimo entendeu que a libertação de Moçambique não seria completa sem a libertação do povo sul-africano.
E foi peremptório: “Machel pagou pela vida a libertação da África Austral, sobretudo a libertação da África do Sul e Zimbabwe”.
Para o estadista sul-africano é vital recordar esse legado, fortalecendo os laços de irmandade entre os povos moçambicano e sul-africano, apostando numa cooperação bilateral que vise a luta contra o desemprego, desigualdade e pobreza que persistem nos dois países.
Zuma falava no acto de inauguração do monumento da Matola, precisamente construído nas imediações de três casas bombardeadas pelo regime sanguinário e minoritário do apartheid.
Expressou alegria pelo facto de a inauguração do Monumento da Matola e do seu Centro de Interpretação ter coincidido com 40º aniversário da Independência de Moçambique, que, nas suas palavras, “é outro evento simbólico de forte ligação na nossa luta de libertação conjunta”.
Para Zuma o ataque à atola em 1981 constituiu parte da campanha de desestabilização dos povos que lutaram pela libertação da África Austral e mostrou a natureza hostil do regime do apartheid.
“O monumento é um símbolo de vitória e sacrifício. É testemunho da liberdade. Testamento da resiliência de ambos os países. Testemunho para o mundo de que saímos vitoriosos em tempos difíceis. Hoje somos testemunhos da liberdade”,defendeu o estadista sul-africano.
MOÇAMBIQUE SERÁ SEMPRE
PÁTRIA DOS SUL-AFRICANOS
O Chefe de Estado moçambicano, Filipe Jacinto Nyusi, não escondeu a emoção face as palavras de gratidão do seu homólogo sul-africano.
Sublinhou que é com viva emoção e sentimento de profunda alegria Moçambique acolhe, precisamente na Matola, o presidente Jacob Zuma, por ocasião da inauguração monumento e do centro de interpretação erguidos em homenagem aos mártires do ataque do apartheid que ali ocorreu em 1981.
O estadista moçambicano disse que a visita de Zuma ao nosso país, em especial à cidade da Matola, vem dar sequência à um desejo antigo dos governos moçambicano e sul-africano de eternizar a luta histórica de Moçambique e África do Sul.
“Foi neste lugar que no fatídico dia 30 de Janeiro de 1981, o regime do apartheid, mais uma vez, escolheu mostrar a sua verdadeira face cruel e desumana, contrariando todas as regras elementares de convívio no concerto das nações”, recordou o Presidente Nyusi, acresecentando: esta obra, que inauguramos emana do imaginário colectivo dos nossos povos, que é também uma das formas de celebração da nossa irmandade e solidariedade.
Ressaltou que o Monumento da Matola é um dos maiores símbolos que sintetiza o percurso de luta contra os regimes coloniais/racistas e imortaliza os feitos de homens e mulheres que escreveram, com sacrifício das suas próprias vidas, as páginas mais nobres da história comum de Moçambique e África do Sul.
“Esta homenagem constitui igualmente uma merecida homenagem ao nosso saudoso presidente Samora Machel. Ele nos ensinou que a nossa independência nunca seria completa, enquanto houvesse povos oprimidos na nossa região, particularmente, o povo irmão da África do Sul”, ressalvou o estadista moçambicano.
de referiu que a 30 de Janeiro de 1981, a população da Matola acordou sobressaltada por violentos estrondos de armas pesadas, operadas a partir de meios militares aéreos, por um grupo de comandos, mercenários ao serviço do então governo sul-africano do apartheid.
Desse ataque resultou a morte de dezassete combatentes pela liberdade do Umkhonto we Sizwe, braço armado do Congresso Nacional Africano, que tinha na Matola sua retaguarda na luta contra o regime do apartheid, luta que, segundo Filipe nyusi, era também do povo moçambicano.
Para o estadista moçambicano a determinação do povo moçambicano na luta contra o regime segregacionista do apartheid foi sabiamente expressa pelo presidente Samora Machel por ocasião do funeral dos mártires do ataque a Matola de 30 de Janeiro de 1981 quando, publicamente, proferiu as sábias palavras “que venham”, palavras que ficaram para a História.
“Moçambique continuará a ser a pátria dos cidadãos sul-africanos como forma eterna de homenagear aos que pela liberdade dos nossos povos ofereceram suas vidas”, frisou o estadista moçambicano.
De referir que do ataque à Matola cinco moçambicanos e um cidadão português perderam a vida e muitos outros moçambicanos ficaram feridos .
O cidadão português, de nome António Monteiro ramos, foi assassinado por ser confundido com Joe Slovo, cidadão sul-africano de raça branca que se opunha contra a segregação racial.
As vítimas, moçambicanas e sul-africanas, foram homenageadas na manhã de sexta-feira no Cemitério de Lhanguene em Maputo, pelos Presidentes Filipe Jacinto Nyusi e Jacob Zuma, que inauguraram lápide e monumentos na presença de familiares e dignitários de Moçambique e África do Sul.