“Não existe causa alguma, coisa nenhuma que justifique a perda de vidas humanas, geradas por nós, os milhões de mães moçambicanas. Basta de matanças! Não queremos enterrar os nossos filhos e as nossas filhas, tornarmo-nos mães dos nossos netos”. Este alarido vem de um grupo de mulheres que em oração ecuménica pediram a Deus para que ilumine os corações dos promotores da guerra para que abandonem esta atitude e devolvam a paz ao nosso país.
Um grupo de mulheres denominado “Mães, Esposas, Irmãs e Filhas pela Reconciliação Nacional e Paz Plena” reuniu-se semana finda, em Maputo, numa oração ecuménica, na Praça da Paz, para orar pela paz.
Tratou-se de mais uma iniciativa das mulheres no âmbito dos esforços no sentido de amolecer os corações das partes em diálogo no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano (CICJC).
Para vincar a sua posição, as mulheres exigem um encontro urgente com os líder das três formações políticas com assento parlamentar, nomeadamente, Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República e da Frelimo, Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, e Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Nesse frente-a-frente com estes líderes, as mulheres pretendem obter esclarecimentos sobre o porquê de tantos desentendimentos e arrastamento das conversações sem que haja resultados concretos e conducentes à paz plena e duradoira.
Para elas, as lideranças referidas a cima têm um papel importante na construção de um Moçambique próspero, pois, têm poder para aprovar leis que possam pôr termo às desavenças políticas.
Com cânticos e mensagens de apelos para que os homens parem com a guerra, as mulheres oraram a Deus ao mesmo tempo que exibiam dísticos com os seguintes dizeres: “As balas não escolhem! Não perguntam de que partido a pessoa é. Não perguntam a idade. A opção da guerra vai trazer luto para todos nós. Nada justifica a matança dos moçambicanos por moçambicanos. Queremos que os nossos filhos cresçam e sirvam o país livres de ameaças”.
Para as mulheres, Moçambique gerou cerca de 24 milhões de vidas que não devem ser excluídas, uma vez que são da mesma família. “Todos, sem excepção pertencem a uma única e grande família. Como em todas as famílias, temos formas de ser, estar e pensar diferente”.
“Quando as diferenças entre os nossos filhos parecem ser irreconciliáveis, nós as mães sentamos e dialogamos juntos. Oramos para que o espírito e a vontade de ouvir com toda a mente e vontade genuína entre neles. Rogamos para que ao falarem uns com os outros se lembrem que são primeiro e acima de tudo, irmãos, gerados por nós”, disse a pastora Helena Mussane durante a sua oração.
“Queremos sentar à mesa
com Nyusi, Dhlakama e Simango”
– Eduarda Cipriano, activista
Eduarda Cipriano, uma das organizadoras do evento, afirmou que depois da oração, o passo seguinte é as mulheres encontrarem-se com as lideranças das três bancadas na Assembleia da República para expressarem a sua indignação.
“Nós queremos falar com as lideranças das três bancadas parlamentares. Isto é, sentar com o Presidente da República que igualmente é da Frelimo, com o líder da Renamo, e com Daviz Simango que são as três pessoas que detêm o poder e influência política no país. Nesse encontro, queremos dizer-lhes “não à guerra” e que o diálogo e a discussão de assuntos políticos e económicos têm que incluir outros actores”,disse Eduarda Cipriano, sublinhando que as discussões sobre a paz não podem ser refém de um grupo.
No seu entender, a paz é um bem que Deus deu a todos, não podendo ser usada como arma de chantagem, instrumento de alavancar os nossos interesses pessoais. “A paz é um bem para todos nós. Não se pode brincar com a vida das pessoas. Realizamos esta manifestação para expor a nossa indignação face à interrupção das rondas do diálogo”.
Segundo ela, a ideia é que mensalmente e enquanto não se pôr termo às desavenças, as mulheres saíam à rua em todo o país e se manifestem em prol da paz duradoira. “Será que não chegou o que vimos durante a guerra dos 16 anos? Esta é a pergunta que fazemos aos dois contendores e protagonistas do diálogo. Será que é necessário uma repetição da lição anterior? Não basta o que assistimos no passado recente?” indagou Eduarda Cipriano.
“Saímos à rua para dizer não a guerra”
– Helena Mussane, pastora da igreja do Nazreno
“Desde que retomaram as perturbações, as mães, esposas e filhas têm feito orações em prol da paz. Mas isso dentro das nossas casas e ninguém nos ouve. Decidimos que as mães tem que começar a sair à rua e dizer “não à guerra, sim a paz”, pois, os desentendimentos que assistimos não nos levarão a lado nenhum”,disse Helena Mussane, quando instado a pronunciar-se sobre o significado da oração ecuménica em prol da paz.
Para ela, face à interrupção das rondas negociais e endurecimento das divergências, a sociedade tem que se unir e dizer não à violência política, uma vez que isso pode retardar cada vez mais o desenvolvimento socio-económico.
Sublinhou que a principal arma a usar neste momento é a oração. “Esta oração é para pedir a Deus que interceda pelo bem-estar de Moçambique. Todos temos que ser promotores da paz, pois, fazemos parte deste país, pelo cada um tem que fazer a parte neste amplo movimento”.
“Resgatar o bom-nome de Moçambique”
– Leta Tembe, doméstica
Por sua vez, Leta Tembe disse que ao participar da oração ecuménica quis contribuir para o resgate do bom nome do nosso país no que diz respeito à pacificação e reconciliação entre irmãos após o conflito armado que durou 16 anos e que ceifou mais de um milhão dos moçambicanos.
“Estamos reunidas neste lugar em busca da paz para o país. Queremos que a guerra não volte mais, porque aquilo que assistimos durante os 16 anos foi horrível e ainda continua entalado nas nossas mentes, razão pela qual através deste culto ecuménico pretendemos rogar a Deus para que possa amolecer os corações das pessoas em diálogo, de modo a perceberem que o país não pode estar refém do Governo e da Renamo”,disse Leta Tembe.
Acrescentou que o que os moçambicanos pretendem é uma tranquilidade para que possam reconstruir suas vidas. “Queremos um Moçambique em paz para que haja mais investidores públicos e privados no sentido de resolver o problema da pobreza, o único inimigo dos moçambicanos. Chega do sofrimento que os nossos filhos estão sujeitos nas matas devido às desavenças políticas de certos dirigentes que não estão comprometidos com a paz e o bem-estar dos moçambicanos”.
“Convidar os políticos a pensarem como mães”
– Celeste Rafael Simango, crente da Igreja Metodista
Para Celeste Rafael Simango, crente da Igreja Metodista, as divergências persistentes nas conversações do CICJC preocupam as mães que veem as vidas dos seus filhos hipotecadas.
“A interrupção do diálogo preocupa-nos bastante, por isso, viemos rezar para pedir a Deus que ilumine os corações das pessoas que estão nas conversações. Acreditamos que com as nossas súplicas os homens vão se reencontrar com a verdade e parar com a tensão política que se regista no país”,afirmou.
No seu entender é importante este tipo de movimento uma vez congregar as pessoas em torno dos mesmos objectivos, evitando desde modo que andem a seguir discursos inflamatórios de certas lideranças políticas.
“Estamos cansados das mortes que se registam quando há guerra, pelo que realizamos esta oração ecuménica para persuadir as lideranças políticas a abandonar a ideia de extremismo absoluto e partir para a convivência pacífica no sentido de desenvolver o país. Portanto, viemos dizer que basta de desentendimentos entre as duas principais forças políticas”,disse Celeste Rafael, sublinhando que ninguém nasce educado. “As pessoas ganham educação à medida que vão crescendo. Portanto, è preciso educar continuamente o líder da Renamo para perceber que o país não precisa de guerra nenhuma”, disse.
“Queremos reunir cara a cara com as lideranças”
– Luísa Sales, funcionária pública
Luísa Sales diz que decidiu interromper a sua actividade laboral para se juntar às mães no sentido de expressar o seu descontentamento com o decurso do diálogo político do CICJC.
“Nas próximas ocasiões, queremos reunir cara a cara com as lideranças dessas pessoas que promovem a guerra para que percebam que não alinhamos com essas atitudes negativas. Gostei da frase contida na declaração assinada por mais de cem mulheres, segundo a qual quem é que vos disse que as mulheres querem a guerra? Portanto, o próximo passo é marchar para lá e exigir para que eles oiçam a voz destas mães cansadas de sofrer por causa da guerra”,argumentou Luísa Sales.
Para ela, a paz é fundamental para todos os moçambicanos. “Ouvi na rádio e televisão que as mulheres iam rezar pela paz, então, vim me juntar para rezarmos e pedir a Deus que ilumine os corações das pessoas que estão nas conversações”.
No seu entender, a paz é fundamental para o desenvolvimento do país, razão pela qual pede aos promotores da guerra para abandonarem a veia belicista e optar por um convívio são e democrático.
“Convidamos a todos a juntar-se a nós para gritarmos “não à guerra”, pois, não pretendemos enterrar filhos, irmãos, vizinhos, amigos, ou seja, nenhum moçambicano vítima da guerra. A nossa oração é para pedir a Deus para iluminar as pessoas que passam a vida a ameaçar a paz, ou a se orgulhar de falar de matanças para que parem de fazer sofrer os moçambicanos”,afirmou Luísa Sales apoiando a ideia de as mulheres, nos próximos dias, reunirem-se com as lideranças dos três partidos com assento parlamentar.