Parece brincadeira, mas é verdade, Alfredo.
Fazer xixi numa casa de banho pública no posto de fronteira de Ressano Garcia custa 5 MT.
Pessoalmente, na primeira semana de Agosto deste ano,
fui vítima da cobrança de 5 MT por ter urinado na casa de banho pública, mas depois escapei por ser conhecido pelo cobrador.
Um senhor, que parece servente de limpeza, cobra dinheiro, mas não passa recibo pela transacção.
Depois de carimbar passaporte e outros papéis que enlouqueceram Manua – segundo escreve Ungulani va ka Khosa, no seu famoso livro Ualalapi – procurei casa de banho pública para me aliviar.
O cobrador estava quase distante da porta da casa de banho, mas do ponto onde se encontrava conseguia acompanhar todas as entradas e saídas de pessoas.
Enquanto me dirigia ao interior da casa de banho o homem desatou a gritar em sinal de chamamento, mas ignorei-o porque tinha percepção do que ele queria.
Depois de me aliviar, sai e apanhei-o mesmo na porta.
Ele disse-me: quero 5 MT.
Perguntei por que razão queria 5 MT. Respondeu sem hesitação – pelo uso da casa de banho.
Sorri e continuei a caminhar para o carro. Ele insistiu, olhando fixamente para a minha cara.
Sorri e perguntei-lhe onde estava escrito isso.
Respondeu que estava escrito na cabeça, apontando para asua testa. Pedi-lhe que tirasse o boné para verificar se havia alguma escrita na testa do velho cobrador.
Riu-se e perguntou se eu era…era..Phonguane.
Confirmei sua curiosidade e libertou-me para ir me embora, dizendo que me conhecia.
Exclamei e quis saber se não fosse conhecido teria mesmo que pagar 5 MT por ter usado a casa de banho pública.
O homem, que já estava ocupado com cobranças a dois jovens aflitos com xixi, respondeu afirmativamente.
Os ecos da pobreza no posto de fronteira de Ressano Garcia criaram ambiente fértil para um filho da pátria amada fazer cobranças sem controlo oficial.
Entretanto, há cerca de um quilómetro do posto de Ressano Garcia existem casas de banho públicas grandes e limpas do lado sul-africano sem ninguém na porta para fazer cobranças aos aflitos utilizadores.
Ressano Garcia é considerado o posto de fronteira terrestre mais movimentado de Moçambique.
Há cerca de 10 anos, o Estado encaixava cerca de 800 mil meticais por dia na fronteira de Ressano Garcia por importação de bens diversos para Moçambique.
Durante vários anos, as autoridades da Migração de Moçambique cobravam taxa de fronteira a quase todos os viajantes, mas sem rigor de passar recibo pela transacção, enquanto do lado sul-africano não se cobrava nada.
A taxa foi abolida sem explicação ao maravilhoso povo, de Armando Guebuza.
No posto de fronteira de Ressano Garcia, jovens prestam serviços “samaritanos” preenchendo papéis para viajantes em troca de dinheiro sem recibo mesmo a vista da Policia, mas no posto de Lebombo mesmo ao lado tudo e free of charge ou gratuito.
São excessos dos ecos da pobreza que se misturam com os do desenvolvimento na Pátria dos Heróis da Pobreza. (x)
Simião Ponguane