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Tudo parece impossível até que seja feito

Por Idnórcio Muchanga

Até que os leões tenham suas histórias, os contos de caça glorificarão sempre o caçador- provérbio africano

Pedi emprestado o título desta crónica – Tudo parece impossível até que seja feito – ao falecido presidente sul-africano Nelson Mandela, porque resume na essência e na forma o meu sentimento… sentimento de alegria. Na verdade são vários sentimentos. O país e eu assinalamos 44 anos de independência. Nem quero me deter a discutir os prós e contras sobre a independência – afinal vivemos um tempo em que tudo se questiona e de tudo se maldiz. Enfim!

Há tempos, não muito recuados, neste mesmo espaço, escrevi que o país precisava elevar também figuras que, não tendo participado na luta de libertação mas que pelo seu trabalho abnegado e muitas vezes incompreendido, contribuiam para a construção da nossa moçambicanidade e inspiravam-nos a nunca desistirmos dos nossos sonhos e da necessidade de fazermos alguma coisa por esta Pátria. É que na minha modesta opinião o país faz-se com todas as mãos. Com todos os corações. Com todos saberes e ofícios. As artes e cultura, porque nos fazem o que somos, mereciam, por isso mesmo, um lugar à mesa da ceia.

Evidente que há ainda muito por fazer nesse campo. Os nossos artistas – sem desprimor das outras componentes da nossa sociedade – constituem ainda uma especie de “parentes pobres”. Deodato Siquir canta que “queres cortar-me os cabelos/mudar a minha forma de ser/mas vibras com a minha música”. É isso mesmo. Os estereótipos continuam a fazer mossa 44 anos depois de conquistada a independência. Mesmo depois de termos oferecido ao mundo artistas como Malangatana Ngwenya, Adelino Branquinho, Alberto Chissano, Eusébio “Zeburane” Tamele, Abacar Mulima, Júlio Matlombe, Lucrécia Paco, Gito Baloi, Eyuphuro, Ghorwane, Jimmy Dludlu, Kapa Dêch, Eduardo White, Mingas, Zé Craveirinha, Samate Mulungo, Paulina Chiziane, entre muitos outros, há ainda muito por fazer; ou descobrir porque essa qualidade mente; não nos diz que ainda enfrentam muitas dificuldades – aliás como todos nós.

Não tenhamos ilusões. Bastas vezes as Nações se tornam conhecidas por causa das artes. Uma pessoa pode não saber nada da Coreia do Sul mas saberá alguma coisa sobre o músico Psy (Gangnam Style); muitos nem têm ideia de onde é Islândia mas sabem quem é Bjork; o mundo conhece Mozart ou Picasso sem ter em conta as origens. Não é a toa que isso acontece. A arte é a forma suprema de o ser humano expressar as suas emoções,a sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos.Arte émúsica, escultura, pintura, cinema, dança, gastronomia, moda, entre outras. Aarteestá em constante evolução. Ocupaum importantíssimo espaço na sociedade. Para além do seu papel lúdico, a arte é usada na terapia de varias maleitas. É indispensável. Alegra-nos. Faz-nos sonhar. A arte é a própria vida nos seus mais recalcados fundamentos.

Por isso Mapiko faz uma vênia aos artistas que foram galardoados na festa da independência. Representam os milhares de artistas que este país tem. Representam a esperança. Há um lusco-fusco no horizonte das nossas vidas. Martin Luther King dizia “suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo”. É isso que os artistas ensinam: sonhar, sonhar sempre.

Para terminar – guarde sempre o melhor para o fim – uma vênia aos meus colegas de profissão, Ian Christie e Rafael Maguni que, a título póstumo, foram galardoados… afinal os escribas também têm algo a dizer ao mundo! Os jornalistas também são artistas. Cultivam a palavra. Irrigam a memória colectiva. Grafam a história de um povo… lembrem-se, na era da informação o que não foi registado, “não aconteceu”!

Por Belmiro Adamugy

belmiro.admugy@snoticias.co.mz

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