É a segunda noite ali na montra. Os noctívagos desenham emoções lendo cada pedaço do nosso corpo. Embriagam-se também no olhar e apontam para nós como produto exposto numa prateleira. Não há pior desprezo que este.
Outros observam-nos como criaturas inumanas. Pensam que somos portais orgânicos sem vida própria, enfim vagabundas sem eira nem beira, destinadas a calcorrear a estrada sem destino.
O meu coração manda-me desistir daquela vida. As minhas colegas dizem que não. Dão-me ânimo. Para elas a sobrevivência é um acto de coragem.
Estávamos neste debate quando um carro de luxo se aproxima. No seu interior está um senhor dos seus cinquenta anos. Éramos perto de dez, mas ele apontou para mim. Convidou-me a um passeio na marginal.
A praia estava um encanto. Olhei para o meu companheiro. Disse-lhe, olhos nos olhos, que estava ali para destilar de mim o melhor mel para as emoções da noite.