Moçambique continua a ser fustigado por chuvas intensas. Um pouco por todo o país. Em diferentes locais das diversas
províncias. Os prejuízos causados pelas águas são elevados. Em bens pessoais perdidos, incluindo culturas e habitações, e em infra-estruturas sociais. Também em vidas humanas. Em mortes. Até à passada quarta-feira, haviam sido registados 44 óbitos, em todo o país. Diga-se, em abono da verdade, que a situação no campo não é igual à registada nas cidades. Principalmente Maputo e Matola. Lá no campo, quando o caudal dos rios engrossa e o leito deixa de respeitar as margens, a solução, ao que parece única, é retirar as pessoas em risco de vida. Para locais onde fiquem em segurança. Nas cidades, principalmente na capital do país e na cidade da Matola, a origem do problema parece residir e resultar de erros humanos. Ou na falta de poder por parte de quem o devia exercer. De falta de vontade para exercer o poder.
Sobre o assunto, na sua edição da passada quarta-feira (página 7), o jornal “Notícias” titulava que “Teodato Hunguana critica falta de exercício do poder”. E escrevia que A ocupação desordenada de espaços em zonas urbanas, um problema que conta com a conivência de titulares de órgãos de governação, está na origem do agravamento das inundações que ciclicamente afecta algumas cidades moçambicanas. Logo a seguir, pode ler-se na local que Segundo o membro do Comité Central da Frelimo, Teodato Hunguana, nos últimos anos nota-se que há parcelamentos e atribuição de terrenos pelas autoridades municipais em zonas de grande risco. Logo a seguir, a notícia esclarece que Hunguana deu o exemplo do município da Matola, onde se assiste à ocupação de zonas destinadas à evacuação das águas das chuvas, como é o caso da zona localizada entre o terminal de carga (FRIGO) e a empresa CMC, actualmente ocupada por uma série de armazéns, impedindo o escoamento rápido das águas. Agora, acrescentemos, por nossa conta e risco, que quem fala com tanta clareza e tanta objectividade não é gago. Nem tem, como alguém disse, “rabos-de-palha”. Ou seja, compromissos. O bom do cidadão, que falava segunda-feira durante a entrega formal de um donativo para as vítimas das enxurradas na Matola, as águas das chuvas acumulam-se em zonas residenciais, inundando casas e outras propriedades. E, para nãodeixar dúvidas sobre a sua posição e o seu pensamento, terá dito que Algumas destas zonas nunca antes sofreram os efeitos das enxurradas, porque as águas fluíam facilmente para o mar. Ora, se tal já não acontece hoje, é por ter havido por ali mão humana. Talvez erro humano. Por hipótese ganância humana. Na melhor das hipóteses, municipal. Mas passemos ao ponto que parece ser a questão principal. Vejamos. Na Matola estamos a criar condições para o agravamento da situação das calamidades. Temos de chamar a responsabilidade de quem autoriza a construção em zonas impróprias. Isto é uma urbanização selvagem. E, para não deixar dúvidas sobre o seu pensamento e o seu posicionamento, o orador, que é residente na cidade da Matola, disse em alguns casos nota-se falta de exercício da autoridade, porque a governação não está sendo efectiva ao ponto de as pessoas desafiarem as ordens, construindo ou permanecendo em zonas impróprias. E, ao que parece, concluindo o seu pensamento, terá dito que Temos de educar as populações para saírem das zonas de risco. Mas, sobretudo, deve-se fazer o uso do poder instituído para manter a disciplina e evitar que as pessoas estejam numa situação de risco. Ao que se pode constatar, estamos perante uma questão de poder. Ou de ausência de poder. Ou de vontade e de coragem para exercer o poder. Espero e só desejo que a mensagem e os recados, bens claros e em sinal aberto, tenham sido bem entendidos. Bem interpretados. Lá na capital da província de Maputo, como aqui na capital do país. Afinal, aprender, querer aprender com quem sabe mais é um acto de humildade.