Tendências existem em todos os partidos políticos, sendo que a premissa deveria ser comum a todos os partidos democratas, incluindo a sociedade civil, e não somente do partido Frelimo. Nos Estados Unidos, por exemplo, temos conservadores e moderados nos dois maiores partidos americanos, partido Republicano e Democrata.
O importante das tendências é que na altura da votação a disciplina de voto se deve sobrepôr.
Não vislumbro como resultado dessa demarcação lutas internas e inevitáveis cisões na estrutura do partido Frelimo.
Pluralismo em política é a liberdade de pensamento político, pensar diferente sobre determinada matéria; ora essa particularidade é um direito, e num partido cinquentenário como o partido Frelimo, uma fonte tonificadora e unificadora de ensinamentos com discursos originários de diversas camadas sociais, transformados em pontos de consenso, com fim homogéneo politicamente vencedor.
Trata-se de um partido vocacionado ao poder e com grande experiência governativa, que desde a fundação apesar de incidências pontuais históricas, tem sabido através dos seus orgãos acomodar diversas tendências, enriquecer o discurso e a visão político estratégico.
Mas atenção, que o partido Frelimo é o partido do povo moçambicano, e não de Armando Guebuza. Pertence àquela maioria que aquando da independência nem sequer falavam a língua portuguesa. Foi por eles que Eduardo Mondlane, Samora Machel, Alberto Chissano lideraram os desígnios político partidário, mas o partido sob a liderança de Armando Guebuza nunca abandonou o legado. Com Guebuza o que houve foi uma inflexão ditado da conjuntura económica mundial, para reforçar o enquadramento político ideológico à social democracia, ajustada as interpretações sociológicas a realidade moçambicana.
Para Armando Guebuza a descoberta de mais recurso naturais sendo promessa de desenvolvimento, permite o fortalecimento do estado e liberta o governo de implementar políticas económicas e sociais ditadas da ideologia.
Com Guebuza a matriz foi ajustada ao presente entre dissonâncias e assimetrias, recorrentes sobre a discussão entre a teoria e a prática; mas no essencial o legado de intervenção política em defesa dos pobres e socialmente economicamente desfavorecidos, correspondem ao eixo norteador da política económica e social no partido Frelimo.
Dito isto, aqueles que dizem que a realidade não é o que era, estão equivocados.
Na verdade o partido expandiu-se por todas as camadas sociais, desde a classe média às elites, traduzidas politicamente em sensibilidade, que vão desde a esquerda, centro esquerda, ao centro político, mas preservando as bases nacionalistas e patrióicas originais.
Mas consigo entender aqueles que no seu dizer afirmam que o partido Frelimo é inflexível a mudanças, pressões internas e externas, ou mesmo aqueles que dizem que mudou em demasia.
O partido Frelimo é um partido homogéneo onde as tendências se substituem consoante os desafios pautados da conjuntura política.
O desafio principal do partido Frelimo nesta fase é a pobreza, e situações de subdesenvolvimento existentes em Moçambique. Na verdade esse é o centro da gravidade que propricia a estabilidade económica e social do cidadão.
Um ponto assente é que o partido deve estar sempre ao corrente da narrativa em sentido inverso às mãos de saudosistas do colonialismo e seus agentes internos, capazes de produzir comportamentos pejorativos, enganosos e factos derrogatórios, mas incapaz de produzir um manifesto político alternativo.
O único partido que se pode queixar dos resultados das recentes eleições municipais é o partido Frelimo. Porque motivo nas recentes eleições autárquicas em várias autarquias o nível de abstenção atingiu os 75 por cento? Será porque as pessoas estão desanimadas da política ou por se sentirem que os seus íntimos anseios não foram correspondidos?
Apenas o partido Frelimo na qualidade de partido com maior número de câmaras tem obrigação de responder a estas questões.
A verdade porém é que hoje em dia os partidos têm dificuldade em funcionar como fonte e fórum de informação e reflexão política.Têm grandes dificuldades em conseguir atrair de forma duradoura os chamados eleitores cativos. A confiança da população, de modo geral, nos partidos e nos políticos sofreu uma redução, e houve uma evolução negativa na disposição dos jovens em se engajarem politicamente.
Por outro lado houve um aumento da cobertura jornalística no campo de desinformação
Política, e no caso específico de Moçambique, o uso da mídia para denegrir o executivo de Armando Guebuza ultrapassou o inimaginável.
Gozando de uma maioria confortável, o executivo não estaria precavido a este tipo de ataques desferidos de vários ângulos, em especial no segundo mandato, mas Guebuza está a tempo de recuperar os índices de popularidade, bastando saber desarmar a Renamo, restabelecer a confiança dos investidores e consumidores.
Os partidos oposicionistas não usufruem necessariamente da insatisfação dos cidadãos por não estarem no poder, mas mesmo assim acabam perdendo votos por serem incapazes de produzir programas de governação apelativos, susceptiveis de captar o eleitorado sempre fiel ao partido Frelimo.
Esta talvez seja a explicação do alto índice de abstenção nos recentes escrutínios eleitoriais.
O enfraquecimento do papel do partido não é necessariamente uma crise da democracia, mas apontam para outra forma da democracia em que, embora os partidos continuem a assumir as funções supramencionadas, outras organizações sociais, bem como os meios de comunicação, também passam a exercer uma maior influência sobre o processo político, do que no passado.
Concordo com a asserção de que cada geração tem uma missão a cumprir.
A geração de luta de libertação em Moçambique levada a cabo pela Frelimo teve a sua missão histórica que nunca traiu, e até educou o povo moçambicano para este tomar o poder.
Hoje cabe a todos nós a missão de levar a democracia ao cidadão, para que este sinta e perceba a incidência da política na sua vida.
Intelectuais, partidos políticos e a sociedade civil, devem ter papel proponderante neste tipo de interação e não instigarem o ódio e a rivalidade política. Devem ser promotores da paz, inclusão social e política, justiça e democraticidade.
Inácio Natividade