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O tiro está a sair pela culatra

Por admin

Maxaquene e Costa do Sol conseguiram resistir ao assédio de regressarem à designação colonial e nem por isso deixaram de estar na primeira linha do desporto nacional. E que não se pense que não 

houve pressão e até promessas de apoio, caso as designações Sporting e Benfica, mais os respectivos emblemas, regressassem.

No caso do Maxaquene, o mérito fica a dever-se às Linhas Aéreas de Moçambique e aos Aeroportos, que conseguiram contrapor ameaçando um literal corte nos apoios, caso se consumasse o retorno ao cordão umbilical com os “leões” portugueses.

Na verdade, há quase duas gerações de maxaquenenses, que não são sportinguistas. Como Maxaquene, o clube já fez história, foi campeão africano de basquetebol masculino e feminino, tendo no primeiro caso tomado parte no Mundial de clubes em Barcelona, em representação do Continente Africano.

Benefícios de um eventual retorno? Uns jogos de equipamentos, mais uma vinda do Sporting “B” de quando em vez e pouco mais.

Contrapartidas? Preferência por parte do clube-mãe relativamente a qualquer atleta de eleição e, no quadro do clube de Alvalade, o Sporting de Maputo teria a honra de figurar como mais uma filial leonina. Muito pouco, para se “vender” a soberania de um clube, que tão bem tem representado o país!

 

DESUNIÃO QUE

TRAZ FRAQUEZA

 

Pelo número de habitantes, pelo nível de desenvolvimento urbano e consequente movimentação financeira, as grandes cidades no mundo, sejam capitais ou não, podem dar-se ao luxo de colocar nos principais campeonatos, dois ou três representantes.

Os meios urbanos de menor dimensão, juntam-se em redor de um clube da Cidade ou Distrito para daí, com uma grande união de esforços, colocarem e manterem no nível mais alto, uma equipa forte.

Exemplos? Em Portugal, Lisboa tem Sporting e Benfica, mas Porto e Braga, estão unidos em redor de uma só grande colectividade. Pelo mundo fora, Espanha, Itália, Inglaterra e por aí fora, são raros os países em que a relação não é esta.

Em Moçambique, já há um fenómeno recente e que é de saudar. Começou no Niassa, com o surgimento em grande do Futebol Clube de Lichinga. Todas as forças locais produziram um clube que fez história no Moçambola. Nesta altura, devemo-nos congratular com o facto de dois distritos – Vilanculos e Chibuto – terem tido a lucidez suficiente para porem de lado os seus “benfiquismos, sportinguismos e portismos” e marcarem dignificantes presenças na maior prova do país.

No outro extremo, está Quelimane. O regresso às designações coloniais de Futebol Clube de Quelimane para Benfica e de Palmeiras para Sporting, longe de trazer benefícios, aumentou as divisões. Das cinzas do Palmeiras surgiu um “Palmeiras renovado”, sem campo e sem sede enquanto o Sporting, que possui as duas coisas, não consegue sair da “cepa torta”. Fracos porque divididos, vão vendo, ano após ano, pequenas cidades como Nacala, Songo, Chibuto e Vilanculos, manterem-se na 1.ª linha competitiva. Com estas inconcebíveis divisões, vão perdendo o passo e privando cidades e províncias que detêm grandes populações e projectos, de marcarem presença na festa das multidões, que é o Moçambola.

 

A BOLA PARA OS JOVENS

 

O sentido de organização e a “carolice”, ainda pertencem aos mais velhos. Isso faz falta e permanece importante nos clubes. Mas já é tempo de uma nova “fornada” de dirigentes, jovens e com novos sentidos de gestão, ir pegando o leme dos clubes, orientando-os para novos rumos.

No caso da Zambézia a que me venho referindo, sei que há muitos naturais que apesar de viverem noutras províncias ou mesmo na diáspora, estão sedentos de ver uma turma da terra a ombrear a alto nível. O mesmo acontece com as empresas e até com os representantes dos novos projectos.

Mas a barreira é sempre a mesma: a quem apoiar? Ao Benfica, que tem sede e não tem campo, ao Ferroviário ou Sporting, que têm as duas coisas mas que lhes falta estrutura, ou ao renovado Palmeiras, sem campo nem sede, mas que graças ao bolso de meia dúzia (ou menos?) de carolas, vai anualmente sagrando-se campeão da Zambézia?

A história e os exemplos que aqui deixámos mostram que, na realidade, só a união poderá trazer a força!

 

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