A sucessão na FRELIMO tem levantado, nos dias que correm, acesos debates a todos os níveis. Debates esses que se justificam pelo facto de assumimos, ainda que inconscientemente, que o candidato da FRELIMO será o próximo Presidente da República.
Com efeito, será difícil deconfinar o debate à esfera do Partido somente pelos motivos evocados acima. Contudo, será sempre necessário lembrar aos que esgrimem argumentos em torno daquilo que concebem como candidato-modelo que, em última análise, a decisão será um assunto do partido. Ou seja, dos seus membros. O que quer dizer que o verdadeiro debate acontece no partido, a maior preocupação reside no partido. Portanto, caberá aos órgãos da FRELIMO decidir em consciência sobre a melhor escolha para nortear os ideias que, no final do debate, serão de todos. Não estamos a dizer que os analistas que hoje têm como profissão questionar as decisões dos órgãos da FRELIMO não o devam fazer e até por excesso como o fazem, mas estamos somente a dizer, que há órgãos legítimos e legitimados para se pronunciarem sobre matérias de fórum interno da FRELIMO.
Facto estranho, dá-se quando membros da primeira hora, da linha de frente da FRELIMO cedem ou parecem ceder a este debate que se cria fora da FRELIMO e agem como aquelas pessoas que estando fora da FRELIMO assiste-lhes essa possibilidade de contestarem, de discutirem, de suspeitarem e de distorcerem sem obedecer nenhuma regra.
A FRELIMO tem os seus rituais e são esses que mantém o partido forte e coeso até hoje, são esses rituais que o perpetuam e a ausência dos mesmos, não traduzirá outro desfecho senão o fim da FRELIMO. Os sinais a que hoje assistimos não representam qualquer consciência ou sentido de preocupação com o que está a acontecer com o partido, representam sim, uma espécie de despreparo, de certa ingenuidade de que se sabe inexistente em membros da primeira linha.
Contive-me para nada dissertar acerca da impugnação de certos membros do partido que antes de canalizada para o fórum próprio, foi aos meios de imprensa, recusando o princípio dominante na FRELIMO de que assuntos internos devem ser analisados internamente. Dizia que me contive porque nao queria correr o risco de estar a agir tal e qual agiram os membros do partido que subscreveram ao documento publicitado na imprensa, mas a consciência de pertença obrigou-me a fazê-lo. Até porque penso ser a hora de se voltar a discutir os princípios da FRELIMO, o seu modus operandi, os seus procedimentos, a categoria de membro e discutir, sobretudo, o perfil dos nossos dirigentes.
Porque por mais que tente, não consigo perceber como foi aquela importante carta parar aos órgãos de informação e com a publicidade daí inerente e consequentemente, com espaços para serem completados e de forma que convier a cada um onde a referida impugnação não pode preencher, a não ser que o interesse fosse exactamente esse, o de criar agitaçao e confundir a opinião pública.
É lícito aos membros do Partido e dos órgãos do partido demostrarem preocupação pela vida da sua formação política, afinal para isso servem, mas essa preocupação, deve sempre exteriorizar o que são os procedimentos da FRELIMO quando não se concorda sobre determinadas matérias. Até porque os membros do Partido e dos órgãos devem constituir exemplo no seguimento dos procedimentos internos.
Justa ou não, a impugnação publicitada na imprensa em nada honrou o nosso Partido cinquentenário e somente os seus actores e tudo o que ela representa, resulta em prejuízo para o partido e desgaste dos nossos órgãos, isto porque se reconhecemos que o Comité Central é o órgão supremo do Partido, devemos também dar ao mesmo órgão a possibilidade de demonstrar essa superioridade, devemos dar a este órgão a autonomia e soberania que possui e isto passa por tratar o mesmo órgão com a correcção que se reserva e isto significa que não podemos arrastar pela mão membros deste órgão como que capurados para testemunhar um determinado facto, agir assim, retira a legitimidade e mística que sempre demos ao órgão; retira a força que cada membro possui e a possibilidade de esta força de cada membro constituir-se numa só força que é o Comité Central.
A nossa força camarada está na nossa unidade e se perdermos este sentido de unidade, estaremos a perder a nossa essência, os nossos princípios que nos mantiveram coesos ao longo dos tempos. Vamos impugnar, mostrar inquietude, desacordo sem nos banalizarmos, somos um Partido cinquentenário, o partido da vanguarda e guia do povo moçambicano pelo que se almejamos assim continuar temos de mostrar que somos diferentes e isso começa em cada acto praticado por nós.
Quem respeita, não repreende em público, espera, pacientemente, pela hora e momento certo, e essa hora vai já chegar (sessão do Comité Central), a não ser, como acima nos referimos, que haja interesse em criar barulho, que haja interesse em dividir a não ser que se sobreponham egos e não os interesses da instituição com a grandeza e missão histórica que é o partido FRELIMO.
Deixemos os analistas se esmerarem em argumentos nesta fase, deixemos que eles façam todo o tipo de propostas e até aquelas que nós sabemos que representariam o fim da FRELIMO, mas deixemos que sejam eles, até que chegue a nossa vez de agir e o façamos em conformidade porque a nossa voz há-de se ouvir em momento certo.
Por uma FRELIMO mas unida e coesa internamente, termino o meu escrito ciente de que seremos capazes de conter os ânimos e parar de levantar o véu que nos faz nobres em público e se o interesse é, doravante, discutirmos em praça pública, então aproveitemos esta sessão para mudarmos os cânones da nossa disciplina e não pontapeá-lo em público como estamos hoje a fazê-lo.
Geraldo Canana