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Moda, erotismo ou promoção de pornografia em Moçambique?

Por admin

Antes demais, agradecer a vossa gentileza pela inserção do presente artigo no jornal que sabiamente dirigem. 

No limiar da perda dos valores morais na nossa sociedade e no consenquente acolhimento  da cultura do Ocidente acompanhado pelos efeitos ora nefastos da globalização para certas sociedades, cujas a questão da vida e da cultura se mostram tenazmente diferentes em relação a essa cultura do Ocidente.

A moda é um fenómeno sociocultural que expressa os valores da sociedade, usos, hábitos e costumes num determinado momento; Moda é um sistema que acompanha o vestuário e o tempo que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um contexto maior, político, social e sociológico. A cada dia que passa, o mundo da moda vem se superando e surpreendendo as pessoas, com cores vivas, tendências novas, inovadores, mas até  extravagantes.

Nas sociedades moçambicanas, há décadas, embora tenha existido a questão da extravagância no concerne à moda, sabe se que não era tão crítica ao que se vê nos tempos actuais. Aliás, naquela época, a educação e a moral eram encaradas com seriedade, pelo que a sociedade não cometia atropelos na maneira de tratar a indumentária. Poder-se-ia fazer uma análise comparativa através das imagens ilustrativas e fotografias dos nossos passados, a maneira como se vestiam, como concebiam a questão da Moda, da ética indumentária de que como era tratada naquela altura dentro dos padrões moralmente aceites no seio da sociedade.

Com o decorrer do tempo, as inovações foram ganhando espaço, a sociedade foi adquirindo os meios de comunicação e informação, falo em princípio, do televisor, através deste instrumento tornou se mais fácil a sociedade estar sujeita às questões das telenovelas (brasileiras) que vieram de maneira alguma, influenciar o comportamento indumentário da geração da actualidade, funcionando como promotores dos modelos de roupa pouco decentes para a realidade moçambicana.

A partir do momento em que as telenovelas se fizeram sentir em maior agressividade dos mídia, a importação da cultura do Ocidente através dos objectos cinematográficos, descoberta pelos agentes do comércio da roupa com “saída” no mercado, estes factores vêm proporcionando a questão da queda de valores indumentários no que concerne à moral e a ética. Isso porque embora tenha sido influenciado pela globalização e fuga de culturas, a cultura moçambicana dissocia-se por natureza, de outras manifestações fenomenais culturais por se constituírem anti-ética representando nudismo à vista, o que para as outras realidades é normal, como vemos no Brasil em que alguém pode se apresentar de biquini ou soutien em pleno programa de televisão, sendo isso um choque para a realidade moçambicana.

Sobre a questão do nudismo, refere-se que na pré-história, os seres humanos, estando impostos ao nudismo inocente, pois aqui a revolução industrial era ainda um sonho, passaram a se cobrir com peles de animais para se proteger do clima, mas com o tempo, essa protecção foi se tornando cada vez mais um poder de status, ganhando espaço pelo que o uso ia se aumentando cada vez mais.

A partir do século XVIII, com a chamada Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, e a mudança do capitalismo comercialmercantilismopara o Capitalismo Industrial, a Moda deixa o seu carácter artístico de lado e passa a ser também inserida na rede engendrada pelo Mercado.

Após a pré-história e com o decorrer do tempo e do dinamismo da cultura, a partir dos anos 20, as saias já mostravam mais as pernas, a questão do uso do batom, maquiagem nos olhos, substituição de sobrancelhas por simples lápis, surgimento e exibição de vestimentas mais ousadas nos cinemas e actores de Hollyhood.

Ora, é nesse contexto do Mercado, que diria que a questão da moda, para além de sofrer transformação sóciocultural e acima de tudo identificar e desculturalizar certas sociedades, vem ingerindo lucros na indústria do entretenimento e do vestuário, porque parece que a tendência do mundo actual é de multiplicar lucros através daquilo que as sociedades mais enveredam na cultura e na vida quotidiana.

Mas é no contexto dessas adversidades que apesar de se tratar de abordagem da Moda como um fenómeno sóciocultural, surge a seguinte questão: Moda, erotismo ou promoção de pornografia em Moçambique? É que, observando-se a maneira como se se expressa actualmente, especificamente no contexto da sociedade moçambicana, porque em outros países deve estar carimbado como verdadeira promoção de pornografia, exemplo disso é o que se vê no programa o “Melhor do Brasil”, Carnaval, dança “Kuduro” em Angola, clips musicais dos rappers norte americanos que também contaminaram alguns músicos moçambicanos.

É que, nota-se actualmente tendências exageradas na maneira de se vestir, mini-saias com racha de maior abertura, colantes que decalcam o corpo deixando a parte do órgão genital e a traseira se mexendo e exposta ao público; algumas calças apresentam recortes nas partes das ancas. Aliás, exibe-se o corpo como se de um verdadeiro filme pornográfico se tratasse, da parte ética já não há consideração. No entretenimento são as nossas televisões que no lugar de censurar algumas imagens, expõe-nas ao público com sensibilidades diferentes mostrando se danças naturalmente sexuais e não sensuais.

Se formos à “loja das damas”, sem comentários, está lá exposta ao público compador roupas que não cobrem nem cinquenta por cento de toda mulher inteira. Quiçá a sociedade esteja a confundir moda e erotismo caindo na armadilha de promoção pornográfica? Isso porque há ligeira diferença entre moda, erotismo e pornografia.

O erotismo (“desejo sexual”) designa, de modo geral, não apenas um estado de excitação sexual, mas também a exaltação do sexo no âmbito das artes. É através desse apelo artístico que o conteúdo erótico se distingue, nalguma medida, da pornografia, na qual tende a haver uma maior preocupação sexual do que estética

A moda, como se disse antes, é a expressão, identidade, usos, hábitos e costumes de determinadas sociedades, enquanto que o erostismo é a forma de arte destinada a despertar, portanto, os sentimentos estéticos ao indivíduo, designa, de modo geral, não apenas um estado de excitação sexual, mas também a exaltação do sexo no âmbito das artes. É através desse apelo artístico que o conteúdo erótico se distingue, nalguma medida, da pornografia, na qual tende a haver uma maior preocupação sexual do que estética, sendo que a pornografia se destina apenas a excitação sexual, é definida em termos daquilo que se considera ofensa à moral pública.

Segundo Sebastião Costa Andrade, especialista em matéria da sexualidade, a distinção entre erotismo e pornografia é problemática, pois os fenómenos erotismo e pornografia parecem tão-somente serem a mesma coisa, as suas manifestações mostram-se idênticas. “Em linhas gerais, o erotismo qualifica-se pelo facto de não estar directamente vinculado ao sexo, enquanto que a pornografia encontra-se na sexualidade seu espaço privilegiado, é obsceno, directo, explicito, comercializável” e acima de tudo, condenável.   

Ainda na esfera dessa diferenciação dos elementos atrás mencionados, no lugar de despertar atenção alheia, promove-se pornografia, à luz da representação indumentária ousada e fora dos padrões morais. No contexto da realidade moçambicana, apesar de sofrermos efeitos da aculturação e globalização através do lado negativo das telenovelas e filmes (pornográficos e de romance), Moda ou erotismo não significa andar semi-nua exibindo totalmente o colo, umbigo, roupa transparente que dá acesso à exposição da roupa interior, é preciso antes demais, observarmos em que sociedade estamos, quais os valores que ela defende e quais os princípios ético-morais inerentes. 

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