Europa e considerado o continente velho, mais industrializado e civilizado do Mundo.
Entretanto, o fotojornalista John Reader escreve no seu livro “Africa: A Biography of the Continent” ou “África: Uma Biografia do Continente” que África e o berço da humanidade.
Segundo John Reader, há cerca de 100 mil anos grupos de africanos emigraram para outras regiões do Mundo (Europa, América, Asia e Oceânia), multiplicaram-se e atingiram nível de desenvolvimento económico-industrial superior ao do seu continente de origem.
Os seus descendentes voltaram, dividiram-se por África na conferencia de Berlim de 1884/5, colonizaram-na e traficaram africanos como mercadorias humanas.
Face a revolta dos colonizados, concederam independências aos países africanos a partir de finais da década de 1950, mas ficaram com raiva e patrocinaram guerras civis, fragilizando o tecido socioeconómico dos estados recém independentes.
Perante dificuldades económicas e guerras civis prolongadas, africanos partiram para Europa a procura de melhor segurança e boas condições de vida.
Mas a Europa civilizada fechou-lhes as portas e agravou os requisitos de concessão de vistos para africanos.
Em 2007 estive em Lisboa, capital portuguesa, cobrindo a cimeira Europa-África na qual a migração estava no topo da agenda, mas os europeus recusaram abrandar os requisitos de migração para Europa.
Africanos optaram por uso de vias alternativas consideradas perigosas, desafiando as ondas do Mediterrâneo a remo. Centenas morrem no mar, mas a Europa civilizada, sem dom nem piedade, fez vista grossa e ouvidos moucos perante a tragédia dos emigrantes.
Como se não bastasse promoveram revolta popular chamada Primavera Árabe e mataram Muamar Khaddafi, deixando o Pais então considerado um dos modelos de desenvolvimento africano numa profunda crise.
Na Síria, ocidentais liderados pelos Estados Unidos da América, estabeleceram fundo para custear despesas de recrutamento, treinamento, equipamento militar e pagamento de salários a grupos rebeldes e lancaram a guerra contra o governo de Bashar al-Assad.
Dezenas de milhares de pessoas morreram e milhões de outras abandonaram suas zonas de origem e vivem como deslocados ou refugiados.
Perante guerras e dificuldades económicas, africanos e sírios procuram chegar ao eldorado europeu.
Este ano pelo menos 300 mil atravessaram o Mediterrâneo. Mais de 2.500 morreram no mar.
A Europa regista a pior crise de refugiados desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em Maio de 1945.
As imagens descrevendo a situação dos refugiados em Calais, fronteiras da Grécia, Macedónia e Hungria são chocantes, num continente considerado civilizado e campeão mundial de defesa dos direitos humanos. E uma vergonha Made in Europa.
Os ecos da pobreza e do desenvolvimento indicam que o feitiço virou-se contra feiticeiro na Europa civilizada. (x)
Simião Ponguane