“Encha-se a minha boca do teu louvor e da tua glória todo o dia” Sl 71:1
Este é o primeiro excerto do meu diário na Índia, onde o faço deitado num Catre dum dos melhores Hospitais numa cidade chamada Hyderabad com 25 milhões de habitantes. “Apollo Hospital”, é o nome da Unidade Sanitária com multi-especialidades, (mais de 50 Especialistas e Superspecialistas), pelo qual passaram vários compatriotas, desde um “Zé Ninguém” como eu, a Deputados da nossa Assembleia da República, passando por Ministros e outros doentes porque para eles aqui, “todo aquele que nos aparece, para nós simplesmente é paciente”, não importa a sua patente na Pátria donde vem. (Deixem-me abrir um parêntesis para sublinhar que um dia, mesmo depois de regressar à Pátria Amada, hei-de vos contar o que se passou com um ilustre “Mandatário do Povo” que foi mandado de volta à Terra de origem pelos médicos locais, onde deverá aguardar, pois só ao fim de cinco anos, ou seja após o fim do seu mandato, a moléstia de que “pensava” padecer, estará em condições de ser tratado, mas isso nada teve a ver com o seu estatuto. Por questão de ética, não mencionarei o seu nome, pois só ele e eu, saberemos do que se terá passado). Voltando ao meu diário, Estou neste momento convalescendo duma cirurgia após a implantação duma prótese, operação que durou quase seis horas de tempo e nele estiveram envolvidos 11 (onze) entre Médicos e paramédicos de várias especialidades. O Hospital em si é maior umas dez vezes (senão mais) do que o nosso HCM, pois trata-se de um prédio de sete andares ocupando uma área do tamanho de Dez estádios de Zimpeto. Longe das fantochadas que nos dão a viver aí no nosso Pais acerca de MILAGRES, os Indianos na verdade produzem verdadeiros MILAGRES através do domínio daCiência e da Tecnologia, porque, eles, obedecendo ao Ditado Brasileiro que diz: “quando alguém mata uma cobra deve mostrar o pau com que o fez”, fazem mexidas inimagináveis sobretudo no Esqueleto Ósseo Humano e não só. Vou dar o meu próprio exemplo. Em 31 de Maio de 1961 (exactamente, 51 anos atrás), o meu fémur da perna direita ficara literalmente esfrangalhado devido a um acidente de viação, numa vilazinha onde na altura só circulavam regularmente sete automóveis cujos proprietários eram todos bem identificados: (o Administrador, o Comerciante Abdul Dadá, o Agrimensor “Mapotiyele”, o Médico Visitador, os Missionários, e os dois Maxambombos do Grego Stamati Zamit “Madosi”) todos identificávamo-los à distância pelo roncar dos respectivos motores. O sacana do velhote (que espero tenha morrido e apodrecido há muitas décadas, pois na altura carregava uns oitenta e mais anos de idade), quase me oferecera passaporte livre para o Inferno. Quis o destino que fosse ele, um míope, velhote portador de um monóculo no olho esquerdo, criador de centenas de manadas do gado bovino todos eles da mesma raça de seu nome António do Espírito Santo, mais sabido por “Makwangalane” que “trucidasse” com a sua velha sucata a minha perna, pois raramente frequentava a Vila e o roncar do seu velho Land Rover só era audível a escassos metros de alguém. Devido a minha tenra idade, um médico português, entre talas e pesos, fez o que pode e conseguindo pôr-me a fingir que não tinha nenhuma lesão durante este tempo todo. Mas, a partir do ano passado, as dores passaram a incomodar-me minuto após minuto, pelo que não resisti mais. O meu Médico Local, apesar de todos os conhecimentos sobre os ossos, não obstante não tinha como me operar, daí ter sentenciado a minha transferência para as Terras do Sol Nascente.