No dia do meu aniversário nada mais queria ouvir que não fosse o facto de que eu fazer anos.
Talvez por isso foi acre a conversa que se segue, com uma amiga, meio beirense, meio-manhambane, que vive em Pemba, daquelas de grandes brincadeiras e “ fofocas”, que pela sua (não) importância, reproduzo-a na íntegra: Ola, bom dia, estás bem de saúde? Posso te pedir uma coisa? Enviar-me algum dinheirinho, estou maningue off, please!
Nao é possivel, querida!
Hiii, apesar de ser a primeira vez, peço imensas desculpas, a mensagem não era para ti. Continuação de bom dia!
Era para quem, posso saber?
Para alguém que me tem apoiado quando preciso…
Ok, então deixo de me preocupar.
Opa, tu é que sabes. Haja saúde!
Pois eu achava que se tratava de algo sério para mim, bom dia!
É algo sério, mas não era a minha intenção incomodá-lo, mais uma vez, desculpe-me!
Estás a dizer mal: pelo que entendi, não era tua intenção enviar a mensagem para mim.
Sim, incomodá-lo com a mensagem que enviei por engano.
Estás perdoada e fico preparado que normalmente mensagens desse teor se forem enviadas à mim, será por engano…
Podemos mudar de conversa? Esta semana certamente que esperamos na tua coluna uma homenagem ao Arcebispo Emérito da Beira, Dom Jaime Gonçalves…
Não. Tenho pouca admiração por ele, mas que Deus o tenha!
Kkkkk, mas tu és mesmo contrário ou diferente de tudo e todos. Não tens vergonha de seres o único que diz isso?
Não, sei que não sou sozinho, posso ser do grupo de poucas pessoas que não sabem fingir, isso aceito.
Mesmo como obreiro da Paz em Moçambique onde tu vives, nem por isso?
Qual paz, qual quê? Não me obrigues a tecer palavras de louvor à empreiteira portuguesa Mota Engil, que construiu um muro no Estádio Nacional de Zimpeto e em pouco tempo desabou, causando danos humanos e materiais avultados. É isso que queres?
Não te percebo.
Estou a dizer que se for por isso, a obra de que falas só durou 20 anos, foi uma paz descartável, quase medida ao tempo que lhe restava ao clérigo para viver. Se a obra, qual paz, desfaz-se em tão pouco tempo, os obreiros têm algo a dizer: ou os alicerces (fundações) foram minimizados ou toda a estrutura foi de má qualidade. Nessas circunstâncias, não me obrigues a venerar os seus obreiros ou operários, incluindo os fiscais e o dono da obra, que infelizmente somos todos nós.
Hii, não estás bem! Estás a falar de quem mesmo?
Dele e todos que com ele estiveram na faina. Mais: eu conheci mal o Dom Jaime, nos finais da década 80 a 1991, como tribalista, quando obrigou que a linguagem litúrgica, na Beira passasse a ser em Ndau e não Sena, em defesa da sua língua materna. Quando se entregou ao processo de paz eu disse para quem me era mais próximo: há-de ser em defesa do seu conterrâneo, Afonso Dhlakama, igualmente tribalista. Eis que não tendo conseguido o que os dois pretendiam, a seguir maldisseram do processo que ambos haviam iniciado, falando mal da Paz, voltando à sua genese tribalista e regionalista. O que queres ouvir mais?
Hoje estás decidido a dizer tudo às avessas, não?
Desculpa, é dia do meu aniversário, posso estar errado, porque ainda sou criança. Sabes que essa postura precipitou a criacao da SOTEMAZA, uma organizacao que os Senas encontraram para se defenderem das invencionices do Dom Jaime?
É que todos falam do contrário, até o presidente vai para lá e todo o mundo fala muito bem dele…
Não sou obrigado a pensar como eles e, para já, estou a dizer, apenas por dizer…
Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com