Quando éramos pequenos, diziam-nos muitas coisas más sobre o povo chinês. Essa maledicência não nos era dita pelos professores, mas pelos mais adultos do que nós, na rua, em casa, nos cafés, nas tardes dançantes, nas esquinas e nos muros das escolas. Diziam-nos isto, aquilo e aqueloutro dos chineses e do seu governo. Que não eram pessoas, mas monstros, tipo dinossauros, que comiam seres humanos e bebiam o seu sangue, como se de vinho tinto se tratasse. Quando nos tornámos adultos e soubemos que os chineses apoiavam a Frente de Libertação de Moçambique na sua luta contra o colonialismo português, as informações malignas sobre a China e o seu povo aumentaram de tom, com a psicossocial do exército português a desempenhar o seu papel, com notável mestria. Alguns, entre nós, ficavam incrédulos com essas notícias. Todos nós conhecíamos alguém de descendência chinesa ou recebíamos informações de amigos sobre essa comunidade. Naquela altura, tratávamos esses jovens por “mulatos china”. Mas as marteladas nas nossas cabeças foram tantas que continuamos a acreditar nas maledicências.
Mais tarde, já adulto, como jornalista, tive o grato prazer de conhecer a República Popular da China e o seu povo, quando em missão de serviço acompanhei o Primeiro-ministro de então, Mário Fernandes da Graça Machungo. Nessa altura, o Presidente da República Popular da China era Zau Zi Hang. Tivemos o privilégio de conhecer alguns lugares marcantes: Pequim, Guenzo e Schengen. Testemunhámos a determinação, disciplina e cultura de trabalho daquele povo. Vimos a pujança e a crença no futuro. Era fácil constatar que dali a alguns anos o país seria uma das maiores potências mundiais. Senti, nessa altura, a força da amizade e solidariedade do povo e governo chineses. Havia uma vontade férrea de cooperar com os restantes países, como forma de ajudar os outros a crescerem, tendo sempre em vista o benefício mútuo. Leia mais…
Por António Barros