A cortina transparente balançava de segundo a segundo e introduzia o clarão da lua cheia. Uma leve brisa assobiava tenuemente aos meus ouvidos transportada pela fresta da janela de pinho, que há décadas gritava por um pincel. Encontrava-me num quarto minúsculo com o corpo literalmente atirado ao colchão duro embutido de palha e arame, material seleccionado do refugo vendido numa pequena ferragem localizada na berma de uma estrada movimentada, na vila de Nhamatanda, província de Sofala. O negócio pertencia a Alberto e Josefina, um casal famoso entre os comerciantes. Dali, arrecadavam as quinhentas para sustentar filhos, noras e alguns vizinhos djecadores que inventavam assunto à hora da janta, com o claro fito de filar a boia.
Os babados da zona onde eu me hospedara para cumprir as minhas missões tinham-me chegado à hora do jantar pela fofoca dum velhote trabalhador do estabelecimento de acomodação. O velho Caetano carregava, pela aparência, pelos menos uns 80 e picos anos.
E num lugar onde o mexerico não dorme, outras vozes haviam afirmado que o velho era chegado a sassaricos em estabelecimentos de diversão. Dizia-se que falava mais que a boca; prometia tudo e não entregava absolutamente nada. Ainda assim, não parava as suas incursões, exibindo os seus dentes amarelos que há séculos se esquivavam de uma escova. Leia mais…