Início » A falecida que não queria voltar para casa

A falecida que não queria voltar para casa

Por Carol Banze

Com a espinha dobrada em direcção a uma bacia, Paulina sovava insistentemente com as mãos um enorme cobertor fabricado na África do Sul, que o seu tio trouxera para fintar o Inverno lá nas bandas da Moamba. Era uma manhã de sábado, dia reservado para as grandes limpezas.

A mulher de 26 anos era mãe de dois filhos, frutos de um relacionamento com Ernesto, um mulato mecânico, que residia em Chambone, na cidade da Maxixe. A união não tinha sido das melhores. Paulina maldizia-o sempre que tivesse uma chance. Na verdade, a ida a Maputo, onde trabalhava e morava com alguns familiares, era resultado de desavenças com o mestre fumador compulsivo, que puxava de minuto a minuto um cigarro atrás do outro, sem remorso, sem contas a prestar a quem quer que fosse. A factura, essa, somente seria paga mais tarde, quando a sua saúde não mais o deixasse respirar.

A mulher carregou por vários e longos anos essa cruz. Vezes sem conta via-se perdida na fumaça que invadia o seu quarto, até nas horas de fazer amor. Entretanto, naquele sábado, o teor da conversa com a sua prima, que a ajudava na limpeza apontando a mangueira de água em direcção à bacia, remetia a um mundo tenebroso. Aquela matswa de primeira categoria falava de problemas tradicionais, das suas origens na Massinga. Descascava a sua madrasta sem dó nem piedade, atribuindo-lhe culpa pelas desgraças que atrapalhavam a sua vida. As acusações sobravam para o próprio pai, indicando que este havia aprendido a voar de noite influenciado por sua esposa. Leia mais…

Você pode também gostar de: