“E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombos e os cambistas assentados. E, tendo feito um chicote de cordéis, lançou todos fora do templo também os bois e as ovelhas…” –João 2: 14-15
Hoje é para os cristãos de todo o mundo o “Domingo dos Ramos”, dia em que Jesus, depois de entrar triunfalmente em Jerusalém, foi direito para o templo, onde expulsou os vendilhões com um chicote feito de azorrague de cordéis. Ora bem, além de pôr ordem no templo, aquele gesto deixou marcas no copo e na alma daqueles vendilhões. O chicote é sinónimo de: chibata, flagelo, açoite, azorrague, látego, “chamboco”, etecétera. Porém, o termo “chamboco” é relativamente muito recente no nosso país, porque, durante a vigência dos meus dois falecidos avôs (materno e paterno), que ambos eram “TiNganakana” (líderes comunitários) dos seus respectivos povoados (durante as décadas 50, 60 e 70 do século passado) e que em muitas ocasiões mandaram castigar os seus concidadãos súbditos como lhes competia, como forma de colocar ordem e segurança nos seus “territórios”, não era através de “chamoboco” actual. Portanto, o termo não era conhecido em nenhuma das línguas locais, nem constava nos dicionários da língua portuguesa. Presume-se que “chamboco” seja produto da nossa revolução e tem a sua origem na palavra “jambock” do afrikander (língua falada na África do Sul). Não é que antes do surgimento de “chamboco” no nosso país as pessoas não eram “chamboqueiadas”. Só que as sevícias eram feitas através de dois instrumentos: primeiro era a palmatória (“txibobo” ou “xipakane”), que era um instrumento de madeira, composto de um disco com cinco buraquinhos e que abrangia toda a palma da mão e conforme a gravidade do crime o número de palmatoadas variava entre cinco e dez em cada mão. Por exemplo, pelo crime de matar uma pessoa, o sentenciado, além de ter de cumprir 25 anos de prisão, levava vinte palmatórias, dez em cada mão; segundo instrumento utilizado como disciplinador era uma vara chamada “cavalo-marinho” (“mboma” ou “ximbomana” conforme o tamanho), e que era feito de pele de hipopótamo com um cumprimento que não ia para além de metro e meio e espessura que começava volumosa e terminava fina e erausado para infligir castigos corporais pesados. Com a nossa Independência, a palmatória (“txibobo” ou “xipakane”) e o cavalo-marinho (“mboma” ou “ximbomana”) foram substituídos pelo famoso “chamboco” que nas três províncias do Sul do nosso país ficou conhecido por “ximusana”, o mesmo que pequeno pilador. Então, o “chamboco” passou a ser regulado por uma Lei. Tanto o “chamboco” (“ximusana”), quanto os seus antecessores (palmatória), “txibobo” ou “xipakane”, e cavalo-marinho (“mboma”) deixavam (deixaram) sequelas nas suas vítimas. Pese embora recordá-lo, confesso que eu sinto falta do “chamboco” para certos atropelos.