Muitas vezes, durante um velório vemos pessoas a manifestar abertamente os seus sentimentos de pesar, através do choro. Chora-se de diversas formas: convulsivamente, aos gritos e em surdina ou mesmo em silêncio. A verdade é que ninguém consegue ficar indiferente no decurso desse triste momento.
Excepção para certas “senhoras” que vão ao velório com o intuito de aproveitar a ocasião para com vestes inadequadas para aquele momento desfilarem os seus dotes corporais. Portanto, o choro nem sempre é motivado pelo defunto ali presente. Normalmente, nessas circunstâncias, cada um “penitencia-se” viajando para o seu “disco duro” ‒ o subconsciente ‒ para vasculhar nos arquivos dos vários insólitos tristes que o assolaram ao longo da sua vivência e chorar por isso. Pois é! Durante o velório do Camarada Ernesto Trindade Costely White, ex-director-geral-adjunto da também extinta Empresa Nacional de Carvão de Moçambique, CARBOMOC, E.E. (também foi membro do Comité Central do nosso glorioso Partido), acontecido no passado dia 2 do corrente mês, na Igreja São João Evangelista da Malhangalene, eu chorei copiosamente, em silêncio. Durante todo o velório as lágrimas não paravam de escorrer na minha face. Por isso, isolei-me no último banco longe do altar, para deixá-las rolar livremente sem a observação dos demais amigos, camaradas, e familiares do falecido. Eu perdera um grande amigo, um irmão mais velho, um grande conselheiro e, porque não, um grande consolador. Aliás, encontrar um qualificativo adequado para definir a personalidade daquele grande sindicalista é uma tarefa mais que difícil. Mas para fazer-vos compreender a razão do afecto que eu nutria por aquele “ancião”, torna-se necessário recuarmos trinta e nove (39) anos, mais precisamente, a segunda-feira 7 de Janeiro de 1980, mesmo no início da década declarada da Vitória contra o Subdesenvolvimento e no âmbito da Ofensiva Política e Organizacional Generalizada na Frente da Produção. Até uns dias antes daquela data, eu era parte integrante do SENÁRIO, com “S”, que, como se sabe, na mística dos números o Seis (6) é o equilíbrio, Hieróglifo da Ciência do Bem e do Mal. Portanto, o “SENÁRIO” da Direcção Provincial da Educação e Cultura de Tete era constituído por seis pessoas, eu incluído, desde a sua criação em 1975. Dos seis, eu havia conseguido finalmente matricular-me na FACOTRAVE (Faculdade para os Trabalhadores da Vanguarda), que funcionava no edifício onde hoje é a Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, na Avenida Keneth David Kaunda, na cidade de Maputo, a fim de frequentar o Propedêutico, mercê de ter ganho dois diplomas de Emulação Socialista, como melhor professor da Disciplina de Biologia e melhor delegado da mesma disciplina na Escola Secundária de Tete (curso nocturno). Leia mais…
Por Kandiyane Wa Matuva Kandiya
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