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As bandeiras nos hotéis da cidade de Nampula…

Por admin

A cidade de Nampula teve tempos em que era conhecida como a mais povoada pelos locais de alojamento. Sobretudo de pensões e residenciais, relativamente a muitas outras que em princípio justificariam o serem bafejadas pela mesma sorte.

Lembro-me de ter feito uma reportagem, em 1994, sobre o tema, quase na mesma altura em que decorria uma “ofensiva” do governador Rosário Mualeia nos hotéis e pensões da terceira maior cidade de Moçambique, quando foram visados, principalmente, o hotel Nampula, o Lúrio e as pensões Estrela e Nampula.

Houve prazos para que estes lugares de hospedagem mudassem de cara, decisão contra a qual ver-se-iam fechados, medida que todos sabíamos não escaparia à Pensão Nampula, que então havia ficado simplesmente como o centro da vergonha, onde desembocavam todas as necessidades emergentes de satisfação dos apetites carnais extra-casa. Em plena esquina entre a Avenida da Independência e a Rua 3 de Fevereiro.

Mesmo assim, a cidade manteve o seu estatuto e os novos ventos de mudanças só vieram acrescentar pontos positivos às anteriores iniciativas. Vai dai o surgimento de hotéis, já vestidos de algumas estrelas e com bandeiras içadas em sinal de, como se diz, informação sobre as nacionalidades que em dado momento se encontram ali hospedadas.

Bandeiras de Moçambique, África do Sul, de Portugal, da SADC, Brasil da Uniao Europeia (não sei porquê, mas raras vezes americanas), são as mais frequentes, a darem a informação de que os seus cidadãos têm vindo bastas vezes por aquelas bandas ou ali têm alojamento no preciso momento.

Se de facto significa isso, encontro muitas dificuldades, tal como me dá preguiça comparar o número de estrelas à qualidade dos hotéis, não só de Nampula, como de outras paragens por este país fora.

A dúvida cresce todos os dias e, sobretudo, agora que a crise se transformou num refúgio das incompetências e má gestão de alguns que não querem revelar outras razoes, como o facto de algumas linhas corruptas terem sido entupidas pelas novas autoridades nacionais. Não?

E há os que estão mesmo a capitalizar esse estado de coisas razão por que vão remendando o que há por remendar nas infiltrações de água nas paredes e soalhos, nas pernas das monumentais camas e disformes guarda-fatos do outro tempo, nos autocarros rotos que alguma vez serviram para receber hóspedes no aeroporto local, etc, etc, etc.

Parece, no entanto, que todos os hotéis embandeirados se esqueceram dos símbolos de países que têm lá acima, agora transformados em fraldas: umas sem absolutamente nenhuma cor, outras retalhadas até ao tutano, restando uns fiozinhos a dançarem ao sabor do vento, normalmente no sentido contrário à direcção da maioria dos rios moçambicanos.

E lá, nos respectivos mastros, produzem um zumbido romântico que, não fosse resultante de alguma incapacidade e incúria, daria para alimentar saudavelmente os ouvidos de quem esteja com a idade de se lhe embalar com sons mafiosos.

São bandeiras de países inteiros, autênticos… que nem interessa se o tal hotel se chama Executivo, Milenio, até New hotel. Das duas características têm uma: ou irreconhecivelmente sujas ou injustificadamente retalhadas. Se se pensa que estamos a dizer apenas por dizer, que cada um, nesta manhã, olhe pelas bandeiras do hotel onde esteja: hospedado, a trabalhar ou a ser dono ou, ainda, gerente.

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