«Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte»; «Quem anda em integridade anda seguro, mas o que perverte os seus caminhos será conhecido» Prov. 10:2,9
Como suponho ser do domínio de alguns, eu e muitos, nascemos num tempo caliginoso que de vez em quando teima em ocupar a minha mente, mas que felizmente vai cada vez distanciando-se e acredito, chegará a uma altura em que será uma simples e ténue recordação, que contada às gerações vindouras soará como uma lenda, um «conto-do-vigário», expressão usada em Portugal e no Brasil, significando uma história elaborada com o objectivo de burlar alguém. Por causa daquilo que hoje vivemos, vêem-me desse desditoso tempo, umas coisas ao de cima que me fazem ficar de cabelos e bicos em pé. É que para o homem Moçambicano, viver de bem com a vida nessa época, não era uma questão de escolha, pois apenas tinha três, (3), péssimas alternativas: a) viver no Campo de mola, (coluna vertebral) vergada, com enxada de cabo curto de sol a sol, morrer analfabeto, polígamo cercado de vastíssima prole, esse mesmo sem futuro definido com nenhuma possibilidade de instrução; b) alistar-se naWENELA para vender as suas forças nas terras do Rand, na melhor das hipóteses até ganhar Petxeni (Pensão), paga duma só vez, ou na pior das hipóteses trabalhar até ser surpreendido pela terrível Thayizeze (Tuberculose), provocada pelas poeiras das minas, ou ainda trabalhar sazonalmente nas plantações de chá, sisal, arroz, algodão ou cana-de-açúcar de latifundiários Colonos; c) migrar do Campo para a cidade onde depois de «vegetar» em demanda de qualquer tipo de emprego acabava vendendo as suas forças ao desbarato feito empregado: (Mainato, Muleque ou Cozinheiro à força na Casa do Patrão Português ou Comerciante de origem Asiático vulgo Monhêm; Criado (empregado) de Mesa ou como besta Estivador, (descarregador de sacos e outro tipo de carga) nos Portos. Estes eram os três básicos destinos que o homem Moçambicano tinha para produzir pão para si e sua progénie. Ultimamente havia alguns (pouquíssimos), que, com a Quarta Classe do Ensino Primário concluída, grau máximo de instrução reservado para Autóctones (Indígenas), após adquirir o estatuto de ASSIMILADO, ingressavam nos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) como Agulheiros, Correios Telégrafos e Telefones (CTT), comoGuarda-fios, ou na Função Pública como Auxiliares de qualquer coisa: (Professores Auxiliares, Professores de Posto Escolar, Enfermeiros Auxiliares, Intérpretes, Capatazes ou Escriturários). Não havia nenhum Moçambicano a exercer uma profissão Autónoma ou Liberal que como se sabe seria aquele que trabalhasse por conta própria, aquele que tem independência económica e financeira, não sendo empregado de ninguém, sendo dono do próprio nariz, como vulgarmente se fala. O Liberal seria aquele que tem independência para exercer o seu mister e arte, com liberdade, podendo, não obstante, ser empregado de alguém ou trabalhar por conta própria. Também não havia nenhum Moçambicano abastado, que possuísse ou dormisse numa casa construída de material convencional sua, e nem havia quem pudesse orgulhar-se de ser Comerciante ou Empresário, senão um Régulo ou um Machambeiro, (agora chamado Camponês) aqui e acolá ajudado por uma junta de bois ou à custa da sua vasta família, (mulheres e dezenas de filhos). Apesar do Cimento ser a preço de banana (7$50) Sete Escudos e Cinquenta Centavos o Saco, havia pouca gente (Pedreiros), capacitada para construir aquele tipo de habitação senão colonos trazidos da «Metrópole» para construírem casas nos Colonatos para os seus iguais. Foi a partir da abertura para a economia do mercado na década Oitenta que começaram a imergir algumas «Profissões Liberais», disto ou daquilo, sendo a primeira das quais muito contestada e desprestigiante, que arrastou alguns dos seus primeiros praticantes a condenação à morte por fuzilamento. Falo do CANDONGUEIRO, que consistia em açambarcar e acumular produtos para ter o monopólio da sua venda a um preço fixado por ele. A segunda também que levou muitos dos seus praticantes ao fuzilamento foi o de BANDIDO ARMADO. Este, consistia em alguém armado até aos dentes como sói dizer-se, emboscar colunas, assaltá-las, roubar os bens da população, assassinar gente inocente a sangue frio, destruir infra-estruturas e aterrorizar algumas localidades do país e criar desassossego às populações. Esta profissão, que começou por ser composta por grupos isolados, alegadamente de gente descontente pelo regime então em vigor, passou a albergar no seu seio, toda a amálgama da pior espécie (Ladrões, Assassinos, Drogados, Tribalistas, Racistas, Regionalistas, etc.), acabando por se transformar num verdadeiro flagelo. Foram cerca de Dezasseis (16) os anos que o grupo levou para ser parcialmente desmantelado e transformado num Grupo Sociopolítico que devia viver e conviver civilmente . Porque oantigo ditado que diz: “O Hábito faz o Monge”, nos orienta a julgar as pessoas
pela aparência acaba dando razão ao surgimento de novas profissões a partir do hábito adquirido ao longo dos tais tenebrosos anos da suposta «implantação da Democracia», nos quais o maior meio de obter riqueza era possuir uma arma e saber manejá-la. É daquela escória que descendem hoje, as Profissões de Montador de Emboscadas, Raptor, Sequestrador e Assassino a Sangue Frio, que como se sabe são os que estão a render. Daqui urgir a necessidade de toda a gente sem excepção convencer-se de que por muita fama e muito dinheiro que se possa ganhar facilmente através do uso das armas essa fama e esse «bem-estar» são aparentes e efémeras. O crime não honra nem compensa. A democracia passa por aceitar o jogo limpo que são as eleições. Redimam-se, porque o Anjo da morte atinge a todos mais tarde ou mais cedo. Não é falta de aviso.