Há 25 anos escrevi a respeito duma ambulância, na província de Nampula, que numa viagem se fartara de acionar a sirene e o pirilampo, sempre que se aproximasse dum posto policial.
Saia de Malema. Estando noutra viatura os passageiros quais eu, fizeram uma pequena investigação e descobriram que trazia cabritos para uma série de beneficiários na capital provincial.
Há 8 anos, na aldeia Muatide, província de Cabo Delgado, o governador provincial, Eliseu Machava, foi confrontado com uma queixa dos populares participantes ao comício por si orientado, segundo a qual, os funcionários de saúde do distrito eram tao maus que só admitiam a ambulância para evacuar doentes, mas quando morressem, não os devolviam às respectivas aldeias.
Na opinião dos queixosos, a ambulância devia se responsabilizar também por transportar os cadáveres, indo entregá-los aos seus entes nos locais donde tinham ido buscá-los de emergência com o receio de que perdessem a vida. Cheios de razão (?), pretendiam que a ambulância, sendo o único meio de transporte também lhes ajudasse não só na evacuação dos doentes, como daqueles que morrem na unidade sanitária.
Foi um comício prenhe de novidades, outra das quais, foi que uma anciã, aproveitando-se da deixa dada pelo maldizer contra os enfermeiros, se queixou, por sua vez, de serem mesmo maus, por uma razão ainda díspar: na sua opinião, de tao somíticos que eram, dividiam a meio alguns comprimidos. Queria entender aonde levavam a outra metade.
Era preciso, com a calma de todos os tempos, explicar aos queixosos que a ambulância foi feita para socorrer quem esteja em perigo de vida. Que, na verdade, um cadáver não está em perigo de vida, porque já não a tem. Está morto. Que noutros ambientes já é outro meio de transporte que em tais condições o leva para o cemitério, o carro funerário. Mas será que se entendeu, essa é a incógnita.
Era preciso dizer que a divisão dos comprimidos, mormente para administrar crianças, tinha a ver com a dose recomendada, não que os enfermeiros estivessem a alimentar a sua avareza. Se se entendeu, também não se sabe ao certo.
No ano passado escrevi sobre a ambulância de Mueda, que vunava tanto que me ultrapassara na região de Xitaxi, numa Nissan NP300, a uma velocidade entre 80 e 120 quilómetros horários. Foi no distrito de Muidumbe e nunca mais cheguei a vê-la, senão depois de Oasse, quando afinal descarregava alguns passageiros e comprava carvão para os seus ocupantes.
Há uma semana, uma ambulância bem identificada, da província de Gaza, teria estado na cidade de Maputo em alguma missão, que se supõe justificável. Mas já não era justificável que por ter encontrado o trânsito caótico da “circular”, pelas 18h30, pelo lado da Costa do Sol, ali onde desagua a “Dona Alice”, se pusesse aos pirilampos e nos presenteasse com as sirenes normalmente incómodas, como quando provavelmente ia a Maputo, em socorro de algum doente que viesse da sua província.
Tanto quanto supomos, por razões óbvias, não podem ser muitas as vezes em que um doente é evacuado da cidade de Maputo para a província de Gaza, por ordens médicas. O que terá sido? Ou será mais uma mentira das ambulâncias que vimos assistindo ao longo dos tempos?
Pedro Nacuo