“Os homens e as mulheres são como as chaves e as fechaduras. Se uma chave abre todas as fechaduras, é uma chave mestre, mas se uma fechadura se abre com várias chaves, não presta e deita-se fora.
É por isso que quando um homem anda com muitas mulheres, é um macho de verdade, mas quando é uma mulher a andar com muitos homens, é p…”, eis uma das teses com que os mulherengos justificam a sua promiscuidade sexual, e negam que as mulheres façam o mesmo, chegando ao ponto de espancar suas esposas ou mesmo a divorciar-se delas por uma simples suspeita de que os traíram.
Durante anos, tenho tentado compreender porque é que os homens no geral, se sentem no direito de trair as suas esposas ou parceiras, mas já não querem que estas façam o mesmo!
O que mais me intriga, é que ao mínimo de desconfiança de que elas estarão traindo, não hesitam em espancá-las e até matá-las, mesmo quando eles próprios acabam de fazer mais uma orgia sexual com as suas amantes. Pessoalmente, conheço vários homens que espancaram as suas esposas no mesmo dia em que eles próprios estiveram nessas orgias sexuais. E o que é grave, é espancá-las não tanto porque as terão apanhado numa traição flagrante, mas apenas pela simples suspeita.
Estes casos e outros é que inspiraram-me este artigo, mas que o que mais me inspirou, foi quando li, na edição de 14 do corrente mês do jornal moçambicano O País, que um homem de Cabo Delgado amputou os braços da sua esposa, por ciúmes.
Para que este artigo tenha mais razão de ser, passo a resumir alguns dos casos que testemunhei, e que mostram que mais do que as mulheres que bateram seus maridos por ciúme, os homens no geral se acham no direito exclusivo de se meterem com todas as catorzinhas, mas que já acham que as suas esposas não tem o mesmo direito. Às esposas basta uma suspeita de traição, para castiga-las selvaticamente, incluindo tirar-lhes a vida.
Um dos casos que vou contar é de um mulherengo assumido como Zuma, de apelido Mandeve, já falecido vítima de SIDA, que estava casado com uma tal Vera já falecida também da mesma doença, e que se acredita a terá contraído do seu marido mulherengo. Mandeve espancou-a num dia desse até quase à morte, porque quando ele chegou a casa, por volta da meia-noite depois dessas suas tradicionais orgias sexuais, se apercebeu que a sua esposa se havia untado com um perfume caro, que logo suspeitou que lhe teria sido dado por um amante.
Na altura em que esse mulherengo espancou D. Vera, os perfumes não se vendiam em Moçambique, dado que foi naquela altura das bichas, em que no nosso País faltava quase tudo. Ele espancou-a tanto que só parou quando um dos seus filhos mais velhos, de nome Jesus, despertou do sono profundo em que estava devido aos gritos de socorro da mãe, e pelos espancamentos que o pai a estava infligindo, e revelou que o perfume havia sido dado à mãe pelo seu tio Manecas, ou seja, pelo irmão do seu próprio pai, que neste caso trabalhava na Africa do Sul.
Na verdade, aquele mulherengo confirmou telefonicamente isso na mesma noite com o próprio irmão, e ficou tão arrependido por ter espancado injustamente a sua esposa e cunhada do irmão. Até então, D.Vera era de facto então religiosamente fiel ao marido, ao invés deste que que a traía quase todos os dias. Há que dizer que aquele espancamento marcou o fim da sua fidelidade. A partir daquele dia, ela decidiu vingar-se contra o seu marido, e passou a envolver-se também com um seu antigo pretendente de nome Euclides, que conhecera na adolescência, e que por um triz se tornava no seu primeiro namorado.
Ela dizia às pessoas que lhe eram muito próximas, que aquela era a primeira vez que traia o marido 15 anos após se casar com Mandeve, e que não se sentia com remorsos, porque quem começou com a traição era ele, e que ao espanca-la sem que o tivesse traído antes, causou nela uma tal raiva que só o não espancava também porque não tinha forças para retaliar.
´´Mas pelo menos estou a vingar-me traindo o também. Nunca me havia entrado pela cabeça que a traição paga-se de facto com outra traição. Agora estamos empatados e já não me dói na alma quando ele volta depois da meia-noite ou mesmo no dia seguinte a casa como sempre o fez. Bem gostaria até de o trair à luz do dia, e não às escondidas como o faço agora, que era para ele também sentir o quão dói ser traído´´, assim dizia Vera às pessoas mais próximas dela, incluindo a mim mesmo em tom de vingança.
De tanta revoltada, vincava sempre que ´´ eu já nem sinto nada mais pelo meu marido, e todo o meu coração e alma estão agora para o Euclides´´, assim dizia a Vera, como que a confirmar a tese que diz que a traição das mulheres é dupla, porque é física e psicológica, ao invés da dos homens, que muitas vezes é só física.
D. VERA É APENAS UMA DE ENTRE MILHÕES QUE SÃO ESPANCADAS INUSTANMENTE
Na verdade, o caso da D.Vera é apenas um de entre milhões que ocorrem por este Moçambique e pelo resto do Mundo.
Ainda no passado dia 14, ou seja, no mesmo dia em que O País publicou o tal caso da amputação dos braços duma mulher em Cabo Delgado pelo marido ciumento, uma amiga minha daqui de Maputo, contou-me que na mesma noite em que essa tragedia acontecia lá no Norte do Pais, ela também estava sendo espancada pelo marido, porque quando ela chegou a casa na ausência do esposo, apareceu logo a irmã dela, que a convidou a irem juntas fazer uma ginástica numa das artérias contíguas à baia da Costa do Sol.
Para tanto, ela deixou as crianças com a empregada, e foi-se, dizendo-a apenas que ´´volto já´´. Ela diz que preferiu ir no carro da mana dela e não no dela própria. Ela disse-me que o que terá causado o ciúme doentio do marido para espancá-la quando voltou a casa depois, é que quando o marido chegou e viu o carro dela na garagem, sem que ela estivesse presente, cismou logo que ela teria saído num carro dum amante e, zás daí a telefoná-la insistentemente. Só que, como ela estivesse a exercitar-se, havia deixado o celular dentro do carro da mana. Ora, isto gerou na cabeça do marido uma tempestade de ciúmes, porque cogitou que só podia não atender porque estaria numa orgia sexual com o tal suposto amante.
À medida que o tempo foi passando, ele foi se avolumando de raiva, que só o dizia para se preparar para castiga-la assim que chegasse.
O que mais contribuiu para que a espancasse, é que a mana da minha amiga não chegou a ir com ela até junto às imediações da casa dela quando a trouxe de volta, o que para o marido era uma prova inegável de que quem a trouxe era o tal amante que obviamente não podia entrar.
Gustavo Mavie