Binamo, o professor que conheci, primeiro pelo que me diziam e vi escrito, parecendo sentido, disse no documento de despedida à populacao que ia, mas um dia ali voltaria, tanto em viagens de serviço, como privadas, na perspectiva de que poderiam de novo acolhe-lo, tal como o haviam feito durante o longo/curto tempo que ali vivera e convivera.
Disse que Imbada ficava marcada no seu coração e fazia parte do seu pobre currículo, pelo facto ter sido ali onde (1) pela primeira vez entrou numa sala de aulas como professor, e (2) onde pela primeira vez aprendeu a assumir um cargo de chefia.
Justificava ainda: estes factores fizeram com que Imbada ficasse inscrito no seu coração e que no momento de despedida se tornava difícil dizer ADEUS A TODOS (…) “se durante este período terei ofendido ou maltratado alguém, julgo que não foi por minha vontade”.
Desejou aos seus alunos boa sorte na vida estudantil, de modo que no futuro estivessem juntos, não como alunos, mas sim, seus colegas ou mesmo seus superiores hierárquicos. Manifestou-se convencido de que saberiam aplicar melhor aquilo que com ele tinham aprendido.
Aos colegas, Binamo agradeceu a companhia na batalha contra o analfabetismo e disse que com eles, também aprendera muito e que fora fácil trabalhar por terem constituído um bom grupo, coeso e quase homogéneo. Pediu, porém, desculpas aos que, mesmo assim, se tivessem sentido, por qualquer motivo, por si ofendidos e terminava justificando que quem trabalha erra.
Disseram-nos que tinha sido Binamo que começou a escrever a história daquela escola, que criou um conselho onde a população tinha palavra e reunia com ela todos os meses. Tratava ao mesmo tempo dos problemas da escola e da comunidade, até ligados à saúde ou agricultura. Às vezes levava por escrito os problemas que a aldeia tinha, até ir falar com as direcções provinciais respectivas.
Tive que organizar mais uma viagem a Meluco, um mês depois, no dia 26 de 2008, para encontrar Binamo, na sua nova escola, em Sitate. Queríamos saber quem era o professor de que tanto se falava na aldeia Imbada.
Sou professor que lá viveu como se fosse natural, durante cinco anos. A minha transferência foi um momento difícil, as pessoas estavam nos seus locais de produção, nas machambas. Não foi fácil! Nãohavia muito tempo, senão eu esperaria que voltassem das machambas e faria um encontro público para me despedir. Não sendo possível optei por escrever aquilo que o senhor chama documento, que colei nas paredes de algumas casas…
Disse-lhe que o seu nome estava a resistir na comunidade de Imbada, apesar de se encontrar irreversivelmente em Sitate, uma aldeia muito distante daquela. Respondeu:
Se estamos na escola, estamos na comunidade. Não temos outra maneira de viver fora dela. Os problemas de água, higiene, as carências de todo o tipo, são colectivos, por isso, eu estive na dianteira da organização de programas de limpeza, fazíamos encontros para falarmos da higiene, da saúde e da necessidade de evitarmos doenças. Todos, incluindo-me, fazíamos a limpeza e nessa altura eu entrava como uma pessoa da comunidade.
Foi o professor Binamo que antes de lhe apresentarmos a nossa agenda de trabalho em Sitate deu-nos a noticia: o RM-jornal acaba de informar que o Engenheiro Filipe Nyusi, aquele maconde dos CFM, foi nomeado ministro da Defesa, em 27 de Março de 2008, em substituição de Tobias Dai. Agradecemos, eu e o meu colega fotografo, do ICS, Mário Saíde.
Disse que ele era muito informado, era a autoridade em todos os sentidos na aldeia. Concordamos. Só depois revelamo-lo o nosso plano de trabalho: que era ele, a sua vida e as desistencias no distrito de Meluco. Merece a distincao, na companhia dos outros de todo o país.