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“Voltarei sem avisar”

Por admin

O Hospital Provincial da Matola (HPM), a maior unidade sanitária na província de Maputo, não parece gozar de boa saúde. Dentro das paredes do majestoso edifício, que funciona há onze anos, muito se diz, mas pouco ou nada se esclarece.

Alguns utentes e pacientes expressam preocupação e fazem acusações graves em torno do funcionamento daquela unidade sanitária. Apontam para as deficientes condições de internamento, a segurança no recinto, assim como a ausência de tratamento humanizado.

Estes factos, que foram denunciados por vários cidadãos nas redes sociais, e não só, levou o ministro da Saúde a visitar aquele hospital e a realizar um encontro com a direcção do mesmo para melhor compreender o que ali se passa.

No final do encontro com a massa trabalhadora, Ussene Isse deixou no ar a impressão que teve ao afirmar que “gostei…mas prontos! Fiquei assim balançado porque o que a gente ouve nas plataformas digitais sobre este hospital, é diferente do que vim encontrar aqui”, afirmou. Na ocasião apelou à coesão, união, ao tratamento humanizado e prometeu voltar e sem avisar.

Em relação à maternidade, Isse disse estar a par das denúncias de desaparecimento de bebés e do “caso Leila” que está no momento em sede do tribunal. Encorajou a comunidade a denunciar o que não está bem, através da lista de contactos da direcção daquela unidade sanitária.

Em paralelo, apelou para a necessidade de se resgatar o que sempre se fez naquele sector. “Cada parturiente deverá ter uma acompanhante em todo o processo de parto. O atendimento humanizado pressupõe isto”, sublinhou.

Na visita, Ussene Isse repisou que a Saúde é um grande sector com múltiplos desafios, contudo afirmou que trouxe consigo uma equipa de trabalho para dar continuidade a visita.

A REALIDADE É OUTRA

A sensação com que Ussene Isse ficou depois de visitar aquela unidade sanitária tinha uma razão profunda de ser. É que as denuncias feitas pelos utentes, semanas antes, eram muito fortes e contrastavam com a realidade que se assistiu naquela manhã.

domingo já tinha estado no local, dias antes, e manteve conversa com algumas jovens mães ali internadas numa tarde de sexta-feira, quando passavam alguns minutos das 16.00 horas, o horário estipulado para visitas.

No interior do recinto, a nossa Reportagem percorreu o bloco da maternidade e do berçário que estão separados por um pequeno vão. As suas portas principais estão uma em frente da outra. No fim do corredor, que dá acesso às portas de entrada destas enfermarias, tem um acento metálico colocado do lado da porta da maternidade. Àquela hora, já se encontrava lotado.

No recinto ao lado do edifício que alberga o berçário, uma jovem mãe encontra-se sentada num muro de pequena altura com uma pasta às costas. Passemos a tratá-la por “Maria”, uma vez que pediu para falar em anonimato. De chinelos nos pés, vinha trajada de uma capulana e camiseta. O semblante do seu rosto ainda conservava algumas marcas da gestação e de quem há pouco deu à luz a uma criança.

O serviço de parto tinha acontecido há cerca de duas semanas e, por conta de algumas complicações de saúde do recém-nascido, foi transferida para aquela unidade sanitária. Depois de observado, o seu filho foi internado no berçário.

No entanto, por falta de cama para a sua acomodação, “Maria” foi aconselhada pela equipa de internamento a voltar para casa e passar a retornar ao hospital de manhã para amamentar o seu bebé.

Residente no bairro de Nkobe, mais para o norte do município da Matola, faz uma semana que ela chega ao hospital nas manhãs e só sai de lá no final do dia. Este exercício não tem sido para ela fácil. “Pedi ao enfermeiro para ver se encontrava alguma acomodação para mim nesta enfermaria, mas ele disse que ainda não há espaço”, partilha.

Tem de amamentar três a quatro vezes ao longo do dia. Mãe de primeira viagem, não sabe dizer ao certo que medicação o seu bebé está a receber. Em casa, o seu sono não é tranquilo. “O meu filho ainda é pequeno e já ouvi estórias que não me deixam sossegada…”, revela.

As denúncias sobre o hospital giram em torno da segurança, motivo pelo qual outras parturientes, cujos bebés estão internados, optam por pernoitar no recinto hospitalar. Um dos lugares de eleição, segundo contam, tem sido um pequeno anexo de duas salas, que possui uma varanda de muro baixo, bem próximo ao edifício do berçário.

Vê aquele muro curto, naquela varanda? É onde as mães que não têm espaço aqui dentro passam a noite. Fazem-no porque dizem que este hospital não é seguro por causa de desaparecimentos de bebés”, contam.

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