A Polícia da República de Moçambique (PRM), em Manica, promete entrar em cena e apertar o cerco contra malfeitores que semeiam terror naquela província central do país. Nos últimos tempos, Manica parece estar mergulhada num clima de violência. Os números falam por si. Foram no total 92 delitos registados em apenas seis mês deste ano e contra 95 de igual período do ano passado.
A PRM diz que não vai sossegar enquanto a província continuar a registar crimes violentos com recurso a arma de fogo e armas brancas.
A criminalidade está a tornar-se insuportável. Circular no período nocturno tem sido arriscado principalmente para as mulheres que, ao que parece, têm sido a principal preferência dos bandidos, principalmente as raparigas de menor idade.
Dados avançados, dão conta que mais de dez pessoas morreram vítima de violência física e abuso sexual no primeiro semestre deste ano. Associado a isso, grupos de malfeitores munidos de catanas assaltam residências e aterrorizam a população na capital de Manica, onde o ambiente de medo já se torna uma realidade.
Acabar com esta situação constitui um desafio para a PRM que desde princípios do mês passado tem novo comandante provincial, Armando Canheze.
Domingoentrevistou-o e, a dado momento da conversa, prometeu ser intolerante contra funcionários desonestos e alguns comandantes das esquadras que se acomodam em gabinetes em detrimento de servir comunidades. Disse que a polícia deve ser capaz de resolver os problemas dos cidadãos sem olhar para sua cor política, raça, etnia e religião.
Em seguida transcrevemos alguns pontos considerados importantes na entrevista concebida a nossa reportagem pelo respectivo comandante provincial da PRM, em Manica que substituiu Timóteo Bernardo.
Senhor comandante é primeira vez que vem trabalhar na província de Manica. Em pouco tempo já visitou algumas esquadras e distritos. Quais são as constatações que faz e com que impressão ficou?
É a primeira vez sim. Realmente escalei alguns pontos da cidade concretamente as esquadras da PRM e viajei para alguns distritos como Vanduzi, Manica, Gondola, Sussundenga. Senti muita abertura por parte da comunidade. Encontrei uma população capaz de colaborar com aquilo que são os anseios da polícia, mas também notei que ainda há muitos desafios pela frente. Muita coisa deve ser feita para travar e desmantelar alguns focos de crime que acontecem na província. Embora as estatísticas digam que o crime tende a reduzir, isso não basta, temos que estar permanentemente no terreno para apurarmos a realidade dos factos e compreender outros fenómenos que concorrem para o surgimento desses mesmos delitos.
Quais são os tipos de crimes mais frequentes?
Os crimes mais frequentes são furtos simples e qualificados, homicídios e assaltos com recurso a armas de fogo e brancas. Temos também agressões físicas, ofensas corporais, violações sexuais que por vezes resultam em mortes. Esses são males que ainda precisamos de colmatar.
Estes acontecimentos dão eco a algumas vozes que dizem que a província está mergulhada em violência.
Não constitui verdade que estamos mergulhados em violência. A situação está controlada. A polícia existe em quase todas zonas da província para garantir exactamente a segurança e tranquilidade públicas. Tenho certeza de que se um comandante da esquadra ou comando distrital receber uma denúncia serão tomadas medidas contra a acção dos malfeitores. Temos uma polícia preparada e capaz de agir em tempo útil.
Quais são as principais causas que concorrem para o surgimento dos crimes?
Podemos falar da pretensão de ter vida fácil, ganância pelo dinheiro. Muitos crimes são praticados por jovens que no lugar de se formarem para um futuro brilhante, entram no mundo do crime para satisfazer as suas necessidades primárias. Alguns até são habilitados, mas que optam por esse caminho do mal.
O que está a ser feito para travar este mal?
Vamos intensificar trabalhos de policiamento envolvendo as comunidades. A população deve trabalhar de mãos dadas com a polícia denunciando todos actos criminais. Essas denúncias podem ser feitas em anonimato. Importante é que a informação chegue e se faça um trabalho mais profundo para estancar o mal. Nos últimos tempos notamos que isso está resultar. Colocamos agentes de patrulha em quase todos bairros. Isso acontece à noite. Os resultados são animadores. Estamos a receber chamadas telefónicas a partir de zonas recônditas da província e chegamos até esses pontos para agir.
Então, estão criadas as condições materiais e humanas para que tenhamos uma polícia mais operativa e que traga resultados certos para corresponder os anseios da população de Manica?
Olha, ninguém pode dizer que tem tudo. Não existe uma polícia com todos meios. O que temos pode ser razoável para trazer bons resultados. Os poucos meios materiais bem utilizados podem oferecer maior tranquilidade a população, bastando para isso existir vontade e envolvimento de todos na " guerra" contra malfeitores, sobretudo os que estão envolvidos no crime organizado.
Perfil de ArmandoCanheze
Armando Canheze, actual comandante provincial da Polícia da República de Moçambique em Manica, é natural da província de Sofala. Ingressou como quadro da PRM em 1991. Antes de entrar para polícia foi professor durante oito anos na cidade da Beira, na província de Sofala. Como quadro da PRM, Armando Canheze desempenhou várias funções tendo se iniciado como patrulheiro em 1992. Mais tarde passou a dirigir a brigada da Polícia de Investigação Criminal (PIC) na cidade da Beira. Em 1993 foi transferido para o distrito de Maríngue onde exerceu as mesmas funções. Mais tarde acumulou com a de comandante distrital. Tempo depois regressa a cidade da Beira onde pediu transferência para a província de Maputo.
Já na província ele trabalhou na Direcção Provincial da PIC na brigada de homicídios. Em 1997 e transferido para Ressano Garcia como foi chefe da brigada da PIC. Na província de Maputo, Armando Canheze passou pelos distritos de Matutuíne, Goba, Namaacha, Matola e Magude onde ocupou onde desempenhou várias funções desde oficial de permanência até chefe de brigadas de investigação criminal, tendo posteriormente sido indicado comandante distrital de Magude.
Depois de Magude, Armando Canheze foi transferido para o comando provincial de Maputo como director da ordem, posição assumida até Agosto passado altura em que foi nomeação como comandante provincial da PRM em Manica.