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Suleiman Cassamo: sou um provador de livros

Por Idnórcio Muchanga

Há três dezenas de anos, um morto chegou a Maputo para atropelar emoções. Vinha o morto do alforje de um ermita baptizado Suleiman Cassamo. Ele próprio uma mistura de coisas e loisas. Filho de pai de origem asiática e de mãe ronga, nasceu em 1962, no distrito de Marracuene, Maputo, Sul de Moçambique. É licenciado em Engenharia Mecânica e mestre em Gestão Empresarial, pela Universidade Eduardo Mondlane, onde é docente há 25 anos. Foi secretário-geral da Associação de Escritores Moçambicanos (AEMO) no biénio de 1997-1998. É escritor com obra reconhecida internacionalmente, tendo já recebido prémios europeus e africanos. Desde os anos de 1980, colabora com a imprensa de Moçambique, principalmente com contos e crónicas (Revista Charrua, Gazeta de Artes e Letras, Eco, Forja e Jornal Notícias). Tem participado com regularidade em conferências em Angola, Brasil, Espanha, França, Moçambique, Portugal e Suíça.

O semanário domingo, na antecâmara dos 30 anos do livro “O Regresso do Morto”, fez uma visita ao autor dessa emblemática obra que recentemente ganhou uma versão “renovada” lá pelo Brasil. A conversa fluiu como um conto nascido na mente do escritor!

TUDO VEM DA TERRA

Suleiman – permita-me a intimidade –, quando é que percebeu que o seu destino era ser escritor?

Eu devo às origens o amor pela arte da palavra. Sou um descendente híbrido. Tenho do lado do meu pai raízes islâmicas. É donde vem o nome Suleiman. Da parte da minha mãe, sou ronga.

Aos dois anos de idade, fui deixado aos cuidados dos avôs maternos… enquanto Suleiman é fundador do vasto império que ia de Habel-Jafar ao Albasine e da Linha do Limpopo ao mar, no Gadzeni; Peni era pescador ao mesmo tempo que traficava vinho ao longo da costa, entre Delagoa Bay e Pháti, nas terras de Macandza.

Isso para dizer que a minha veia narrativa vem de longe. A minha avó materna e, depois, a minha mãe contavam-nos estórias à volta da fogueira. Em Casa Grande dos meus avôs paternos, muitos anos após a ruína, havia restos duma valiosa biblioteca. Com isso, não é estranho que tenha certa vez criado um personagem que sobrevive fechado durante anos numa cave, sem água nem alimentos, vivendo apenas de ler obras do espólio do seu patrão! No meu caso, também foi lendo os outros, foi o gosto pela leitura que me conduziu ao desejo de retribuir aos autores das obras que me encantaram.

Antes de passar à escrita, sou antes um leitor. Desde cedo, ganhei o vício de tentar decifrar tudo o que era letra impressa. E, ao ler os outros, fui tendo a convicção de que, usando os meus próprios recursos, também podia tentar criar algo de belo e original.

Começo a escrever nos tempos do secundário.

Já agora, de onde vêm os personagens? De alguma forma se relacionam com alguém que conhece?

Texto de Belmiro Adamugy

 

belmiro.adamugy@snoticicas.co.mz

 

 

 

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