Quem circula pelas avenidas da cidade de Maputo, dificilmente pode se aperceber do eminente risco de desabamento em que se encontram muitos prédios, devido à prolongada falta de manutenção.
A maior parte dos edifícios apresenta rachas na sua estrutura e alguns sinais evidentes de fragilidade nas fundações, indiciando que o risco de desabar pode ser um cenário inevitável.
O desgaste das paredes em muitos edifícios, sobretudo no lado traseiro, são cada vez mais evidentes, a julgar pela queda de algumas partes das infra-estruturas que compunham os prédios.
O risco maior resulta do facto de a maior parte dos prédios possuir fossas e condutas entupidas há bastante tempo, levando os respectivos moradores a colocar sistemas alternativos de descarga.
Do lado posterior dos edifícios, conforme tivemos a ocasião de constatar, as águas têm sido descarregadas a céu aberto para o pátio, uma atitude que representa um risco para a sustentação de própria infra-estrutura.
IMUNDÍCIE E PODRIDÃO
No coração da cidade capital, situa-se o Prédio Alentejano, com uma vista privilegiada para a Avenida Eduardo Mondlane, cuja infra-estrutura apresenta sinais de desgaste visíveis a olho nu.
Com as fossas entupidas faz bastante tempo, as águas têm vindo a ser despejadas de qualquer maneira para o chão, havendo vestígios claros de uma certa fragilidade na base do edifício.
Júlio Silva, administrador do condomínio, fez questão de realçar que o acesso para o lado traseiro do edifício encontrava-se vedado há mais de 20 anos, tendo sido reaberto recentemente.
Trata-se de um edifício de 14 andares, no qual os elevadores ficaram bastante tempo inoperacionais e que, quem olha do lado da Avenida Eduardo Mondlane fica com a impressão de que tudo está bem naquele prédio.
Conforme nos explicou Júlio Silva, os mármores da entrada do edifício chegaram a ficar escuros por falta de limpeza e o espaço traseiro do edifício tem sido usado pelos moradores dos prédios vizinhos para depositar o lixo.
Tal como nos contou Silva, os moradores colocam o lixo em sacos plásticos e depois atiram-nos para as traseiras daquele edifício, incluindo fezes embrulhadas em pedaços de jornais, entre outros recipientes improvisados.
Segundo podemos constatar no local, a conduta de descarga de lixo está entupida, tendo se partido em certos pontos, levando os moradores a atirar o lixo pelas varandas do lado de trás do prédio.
No pátio do prédio, onde se está a proceder a retirada de resíduos sólidos, encontramos água concentrada e parte do piso ameaça desabar a qualquer momento.
No terraço do prédio, grande parte do parapeito ruiu e em muitas varandas uma parte da parede de reboco desfez-se, devido à constante queda das águas no lado traseiro do edifício.
Para fazer face às constantes descargas de água, muitos inquilinos daquele prédio optaram por colocar palas de chapas de zinco nas varandas de trás, havendo um morador que foi ao extremo de fixar um reservatório de 500 litros.
Júlio Silva disse que, naquele prédio, teve que se colocar novos tubos de canalização de água, dado que os que faziam parte da estrutura do edifício há bastante que se encontram danificados.
Para contornar o problema da obstrução das condutas, os moradores optaram por colocar pedaços de tubo nas varandas, através dos quais são descarregadas as águas negras directamente para o pátio do prédio.
Durante a nossa presença no local, a partir de diversas varandas fomos vendo água a ser despejada para o pátio do prédio, sendo que, alguns casos tivemos que nos acautelar para não molhar.
Júlio Silva disse que não cabe às comissões dos moradores resolver os problemas dos prédios, pois o Estado tem uma quota-parte das responsabilidades na manutenção dos edifícios da urbe.
CRIAÇÕES DE ARREPIAR
Junto da entrada do prédio nº 1632, situado também na Avenida Eduardo Mondlane, descobrimos uma caixa de derivação de energia destapada, com fios soltos, representando um perigo para os utentes.
Ainda no mesmo prédio, entre o rés-do-chão e o primeiro andar, um residente partiu uma parede para fazer canalização de água, usando para o efeito tubo copolene.
De seguida visitamos o prédio nº 1616, também na “Eduardo Mondlane”, onde ficamos a saber que os moradores e visitantes temem usar o único elevador que está operacional, uma vez que este chega a parar no meio do percurso.
No prédio nº 39, também conhecido como edifício verde e branco, devido à avaria da tubagem, os moradores optaram por fazer canalização externa à infra-estrutura e puseram tubos nas varandas de trás para despejar água.
Segundo Guimarães Lucas, administrador do condomínio, as viaturas que se encontram parqueadas no parque do edifício têm sofrido danos quando os residentes dos prédios vizinhos lançam sacos de lixo.
Ainda de acordo com Lucas, o sistema eléctrico das viaturas tem igualmente sofrido danos, devido à abundância de ratazanas nas traseiras dos prédios circunvizinhos.
RISCO DE DESABAR
O sistema de condutas obstruído e as fossas entupidas fazem com que as águas permaneçam muito tempo espalhadas nos pátios dos prédios, o que acaba por enfraquecer a estrutura dos edifícios.
Com referiu o arquitecto Jaime Comiche, o risco dos edifícios desabarem não se pode excluir, se não forem feitas intervenções de vulto para a sustentabilidade das infra-estruturas.
O prédio nº 39, com cerca de 40 anos, começa a apresentar defeitos nas fundações, tendo numa parte sido necessário tapar com cimento porque estava a abrir-se um buraco.
Em grande parte dos prédios por nós escalados, olhando pelo lado exterior, foi possível ver rachas nas paredes, o que revela que as infra-estruturas apresentam sinais de cansaço.
Na parte traseira do Prédio Nilza, situado na Avenida Eduardo Mondlane, foi edificada uma estrutura que se apresenta inclinada, representando um perigo para as pessoas que atravessam daquele local.
Ainda na Avenida Eduardo Mondlane, o Prédio Riviera, com cerca de 10 andares, fazendo um olhar atento, nota-se que a infra-estrutura apresenta uma ligeira inclinação em relação ao edifício contíguo.
Um prédio multicolor
Cada uma das “flats” do condomínio 00286, situado na Avenida 24 de Julho, zona do Alto-Maé, foi pintada ao gosto dos respectivos proprietários, transformando-se num prédio multicolor.
Junto à entrada do edifício, a administração do condomínio fixou uma nota (a qual publicamos em anexo) apelando aos moradores para não andarem a martelar nas paredes de qualquer maneira.
A administração daquele edifício instaurou um processo judicial contra um cidadão de origem moçambicana que edificou uma infra-estrutura no parque de estacionamento do prédio, a qual impede que os residentes guardem as suas viaturas.
De acordo Simão Tales, administrador daquele condomínio, o espaço ora em disputa judicial, seria suficiente para colocar as viaturas de todos os residentes do prédio.
Por não terem acesso ao parque do edifício, os moradores acabam disputando o pequeno espaço no passeio frontal do prédio, a fim de estacionarem as suas viaturas.
Tales disse que a administração do condomínio envidou todos os esforços para conseguir uma aproximação com o referido cidadão, o qual nem sequer é residente do prédio e muito menos contribui para a manutenção do edifício.
Benjamim Wilson