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Pesquisadores debatem reutilização da água

Por admin

Quatro pesquisadores da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) estão a implementar um projecto de reutilização de águas residuais para o sector da indústria de construção civil e irrigação no quadro de uma iniciativa que visa combater os efeitos da seca e do desperdício que ocorre no meio urbano.

Trata-se de um projecto que conta com o apoio da Universidade Delft de Tecnologia (TU-Delft), da Holanda com o qual se pretende reforçar o abastecimento de água para a cidade de Maputo que presentemente regista um crescimento da população de da demanda de água para as diferentes actividades de cariz económico.

Segundo os pesquisadores envolvidos nesta iniciativa, “mesmo com os desenvolvimentos no abastecimento de água, será difícil satisfazer a demanda de água para a agricultura, indústria e consumo doméstico após o ano 2030”.

Conforme referiram, estes efeitos são agravados pela deterioração da qualidade da água devido à intrusão salina, mudanças climáticas, acesso ao saneamento do meio. “No caso da cidade de Maputo, somente cinco por cento da água residual e lamas fecais é que são tratadas”, refere o grupo.

André António, integrante do grupo de investigadores revelou que o projecto está orçado em cerca de 700 mil euros e tem a duração de cinco anos, período no qual serão realizados estudos de viabilidade e implementação.

Nesta fase, segundo André Marques Arsénio, o grupo está a verificar os aspectos, com particular destaque para o tipo de tecnologia que deve ser usado para o tratamento da água e o aspecto social que é saber se as comunidades potencialmente beneficiárias estão interessadas em ver o projecto a ser materializado. “Enquanto estivermos a tratar a água residual podem ser recuperadas outras substâncias que mais tarde podem ser usadas como nutrientes para a agricultura”, sublinhou.

Por outro lado, estão em verificações questões relativas à regulamentação e acompanhamento, uma vez que o conceito do projecto pode ser aplicado em qualquer lugar. Ainda nesta perspectiva, entende-se que a falta de regulamento constitui um desafio, pois deve haver um mecanismo de controlo para que não se esteja a criar problemas mas sim a trazer soluções.

Iniciativas do género estão a ser implementadas em outros pontos do continente, com destaque para a Namíbia onde a maior parte da água que se bebe é residual e tratada. Outros países usam este tipo de água para o sector da indústria”, disse.

A escolha de Maputo como ponto de partida para a concretização desta iniciativa resulta do facto de os pesquisadores da UEM entenderem que esta urbe é mais concentrada em termos de número de habitantes e de indústrias e, por isso, ser mais fácil ter um maior impacto.

A ideia é que seja replicada para outros pontos da cidade. Por exemplo, a cidade da Beira tem uma estação de tratamento de água e o município usa a água residual tratada que sai da instituição para irrigar os jardins da cidade”, disse.

Por seu turno, a pesquisadora Noor Gulamussen disse que a sua proposta está orientada para a reutilização da água para indústria que terá como benefício uma maior disponibilidade de água potável para o consumo doméstico.

Aliás, Noor entende que do ponto de vista da indústria pode ser possível fornecer água a preços mais competitivos, ao mesmo tempo que vê benefícios ambientais que vão resultar da redução da quantidade de material fecal que actualmente é conduzida para o mar.

Os 700 mil euros que temos disponíveis parecem muito dinheiro, mas não é porque temos que garantir a distribuição por toda a indústria e por todos produtores. Numa primeira fase vamos fazer numa escala pequena só para demonstrar, mas se aparecer um investidor com maior capacidade financeira e ele compreender que é possível produzir água a preço mais baixo poderemos expandir”, sublinhou.

Entretanto, Noor recorda que quando arrancou o mapeamento das indústrias, para se determinar quantas existem e com grandes necessidades de água, foi difícil convencer as empresas a colaborarem e isso limitou o rápido avanço do projecto.

Para minimizar este tipo de situações, o grupo de pesquisadores pretende realizar um simpósio, no dia 4de Agosto, na cidade de Maputo, evento no qual o projecto será apresentado, com destaque para as suas vantagens e as mais-valias do projecto, ao mesmo tempo que servirá para atrair possíveis parceiros para o projecto.

Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticicas.co.mz

Fotos de Carlos Uqueio

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