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Óculos graduados vendidos sem receita médica

Por admin

Parece não constituir novidade para ninguém: Óculos graduados estão a ser comercializados em pequenas bancas montadas em passeios na cidade de Maputo, sem observância de receita médica. O negócio parece ter aceitação por parte de quem pretende ‘melhorar’ a visão a baixo custo.

 Porém essas vendas informais põem em risco a saúde do olho.  domingo foi à rua, lá conversou com alguns comerciantes daqueles acessórios.

Fazendo-se passar por pacientes necessitando de óculos graduados para melhorar a visão, a nossa reportagem encontrou o que queria. Num primeiro contacto com o comerciante da rua, foi acolhido com a seguinte questão: “Qual é a sua graduação? Temos aqui óculos de diferentes graus. Pode tirar! Custam, só, 200 meticais”. Detalhe, não nos foi exigida a receita médica. O pedido feito oralmente foi suficiente para tornar possível a aquisição.

 Negócio frustrado. Seguidamente, a movimentação foi em direcção a outro ponto de comércio de óculos. Aqui, num bate-papo entre prováveis interessados e vendedores, que em nada tinha a ver com o ambiente de negociação dos artigos expostos, domingo ficou a saber que, normalmente, os clientes que se aproximam daquelas bancas“procuram óculos de sol, por razões estéticas ou mesmo para se protegerem”. É uma questão de ostentação e competição, pois “uns preferem a marca channel, outros carrera, ray-ban, etc”. 

Entretanto, “há os que aparecem para resolver a sua saúde visual comprando armações compostas de lentes que mais tarde, com a nossa ajuda, recebem a graduação”. E, conforme constatou a nossa reportagem,  nessas bancas existem também os designados por ‘prontos’ (já graduados), à espera da decisão do comprador.

Aqueles dados foram-nos passados por H. Cossa e N. Chemo,  vendedores de óculos há vários anos. Estes comerciantes revelaram igualmente que a sua actividade é valorizada por trabalharem em coordenação com funcionários de ópticas espalhadas um pouco por toda a cidade de Maputo.  “Trabalhamos com os homens da óptica. As pessoas precisam da nossa ajuda quando a visão não anda bem. Aqui, os custos não passam de 700 meticais”.

Ora, a procura é um facto, mas a  delicadeza da actividade obriga a uma reflexão. “Os óculos da rua não têm lentes anti-reflexo e a armação não é de boa qualidade, dura apenas três meses, e mais: na rua, pratica-se preços relativamente baixos, (na óptica os acessórios podem sair a partir de mil meticais)mas não existem aparelhos para medir o nível do problema”, palavras do Optometrista, Mayank, da Maputo Óptica e Serviços, lda..

 Estes dados levam a depreender a existência de um perigo no comércio de óculos no dumba-nengue, agravado pelo facto de não se observar às recomendações de um especialista. É na esteira disso que a nossa reportagem recorreu às explicações da médica oftalmologista, Dra Yolanda Zambujo, que, por seu turno, chamou atenção para o risco existente ao se dispensar o exame médico no processo de compra dos acessórios para corrigir a vista. Argumentando, referiu que, por exemplo, “uma graduação não correcta pode prejudicar o olho”, isto é,  uma compra feita sem a avaliação e indicação do especialista“camunfla o problema que o paciente tem, o que pode contribuir para o agravamento da sua saúde”. Mas, mais do que isso, continuou Yolanda Zambujo, “é necessário verificar a qualidade das lentes, pois se sabe da comercialização de artigos cujas lentes se apresentam riscadas o que, certamente, pode causar alguns danos para a saúde do olho”.

Entretanto, a oftamologista ressalvou as circunstâncias em que são comercializados óculos  para a leitura, tratando-se de casos excepcionais, que não envolvem necessariamente uma doença, mas sim um cansaço da vista. “Normalmente, estes sintomas verificam-se a partir dos 40 anos de idade. Tecnicamente é conhecido como presbiopia ou ‘vista cansada’”. Ainda assim, alerta, “há que ter o cuidado de adquirir estes óculos em farmácias ou ópticas, ou seja, em locais de confiança”, primando, portanto, pelo rigor na aquisição dos acessórios em causa.

Texto de Carol Banze
carolbanze@yahoo.com.br
Fotos de Inácio Pereira

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