Texto de Abibo Selemane e Fotos de Carlos Uqueio
Mais de dois mil clientes da Empresa Águas da Região de Maputo, todos residentes no bairro da Zona Verde, Município da Matola, estão de costas voltadas com aquela instituição fornecedora de água potável devido a não cumprimento das suas obrigações.
Segundo apurou o domingo, o problema da falta de água potável naquele bairro já tem barba branca. É que aquela empresa começou a falhar o seu fornecimento em 2008 e nunca apareceu alguém da instituição para dar explicações aos consumidores sobre o que estará a causar a referida crise.
Neste momento, com 17 quarteirões, não recebe água daquela empresa. Alguns destes quarteirões, nunca receberam o precioso líquido, mesmo com as torneiras montadas nos quintais e com contratos regularizados.
Dados em nosso poder indicam que recentemente houve uma renovação da rede de abastecimento de água para alguns bairros da Matola, como Patrice Lumumba, Unidade-D, T3, incluindo Zona Verde. Porém, este investimento não se traduziu no fornecimento de água, mesmo que fosse por alguns períodos do dia.
Facto curioso é que os residentes de outros bairros, nomeadamente, Patrice Lumumba, T3 e Unidade-D já têm água nos seus quintais. Em relação a Zona Verde, ninguém sabe o que se está a passar co o projecto levado a cabo pelo Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) com vista a melhorar o sistema de abastecimento de água nos municípios de Maputo e Matola.
A nossa equipa de Reportagem, que trabalhou há dias naquele bairro, soube que nos princípios deste ano explodiu uma conduta que abastecia alguns quarteirões. A empresa orientou uma equipa para fazer a reposição do sistema, mas esta apenas fez uma reparação provisória de pouco efeito.
Em conversa com alguns residentes daquele bairro, eles confessaram que nunca consumiram água fornecida pelo FIPAG, mas tem conhecimento de que em cada rua do seu bairro foram montados tubos de água, que não chegaram a ser usados, facto que intriga a todos.
Em cada rua daquele bairro são visíveis vários charcos de água, provocados por tubos de água da antiga canalização que foram rebentando ao longo do tempo. Alguns destes estão assim há mais de três meses.
Alguns moradores contaram-nos que chegaram a receber facturas de água que nunca consumiram e, para ultrapassar esta situação, foi necessária uma troca de palavras azedas entre os fiscais daquela empresa e os clientes. A partir daí estes pararam de levar as facturas para aquelas residências.
Entretanto, para minimizarem o seu sofrimento os residentes daquele bairro passaram a contratar fornecedores privados. Contudo, até, num passado recente estes prestavam os seus serviços “às mil maravilhas”. Logo que houvesse um problema com seus clientes solucionavam prontamente. Mas nos últimos tempos, este sector também tem vindo a mostrar incapacidade na prossecução da actividade. Há vezes que alguns clientes passam uma semana, até mesmo um mês ou um ano sem ter água. Mesmo assim, a receber facturas de consumo em cada final do mês.
INDIGNADOS
Os residentes do bairro da Zona Verde mostram-se indignados com o fenómeno de falta de água própria para o consumo que se faz sentir naquele ponto do Município da Matola. Tudo porque a empresa Águas da Região de Maputo fez algumas intervenções com vista a melhorar o seu fornecimento, só que esta nunca chegou às casas dos clientes.
Constância Sepulane, residente no bairro, disse que há muito tempo que é cliente das Águas da Região de Maputo. Desde essa altura recebe água com interrupções que nunca são explicadas.
A nossa entrevistada revelou que a última vez que a torneira da sua casa jorrou água foi há três meses. Até semana passada dependiam da boa vontade dos seus vizinhos que recebem água dos agentes privados ou tem que se dirigir aos poços que foram abertos nas proximidades da sua casa.
“Até agora não sabemos o que está acontecer. Facto intrigante é que mesmo com estes problemas, a empresa trazia facturas de consumo que variavam entre 250 a 300 meticais ou mais, por mês. Deixaram de trazer depois de tantas reclamações”, disse.
Cansada de esperar pela água pública, Sepulane disse-nos que na semana passada acabou assinaando um contracto com um fornecedor privado.
“Esperamos muito. Foram três meses. O mais caricato é que ninguém diz nada, apenas trazem facturas e quando perguntamos de que são, pois não temos água, não sabem responder. Quando perguntamos quando é que o fornecimento da água será normalizado, também não sabem explicar. Então, achamos melhor experimentar outros serviços”, disse Sepulane.
Por sua vez, Angelina Nhanale, disse que no seu quarteirão ninguém sabe quando é que consumiu água fornecida pela Águas da Região de Maputo e alguns desconhecem a função desta empresa.
“Há muito tempo tínhamos aqui no quarteirão um fontanário da empresa de Águas de Moçambique. Logo que parou de jorrar, não sei porquê, só temos problemas de falta de água. Bebemos águas dos furos. Mesmo essa que é de empresa privada não sai com regularidade. Na minha casa, estamos há três dias que não sai”,disse Angelina Nhanale.
A nossa entrevistada acrescentou que gostaria de ter água pública mas que não sabe quais são os mecanismos necessários para tê-la.
Por sua vez, Alzira Munguambe descreve o problema de falta de água, sobretudo da empresa Águas de Maputo, como “um problema bicudo” e afirma emocionada que “as famílias sofrem cada dia que passa”.
Munguambe apela aos dirigentes daquela empresa para resolverem o problema o mais urgente possível para as pessoas deixem de sofrer. “Aqui na minha casa sempre nos servimos de água de empresa privada. Mas já estamos há um ano que não recebemos deste fornecedor. A minha vizinha está há três meses na mesma situação. Não sabemos dizer o que terá acontecido, só de repente vimos as torneiras a parar de jorrar água”, disse.
Acrescentou que entrou em contacto com o fornecedor para entender o sucedido. Este apenas se manteve em silêncio. “Neste momento, recebo ajuda do proprietário do Complexo Muchipe que me autorizou para passar a tirar água no seu estabelecimento. Não sei o que vai acontecer de nós aqui em casa se um dia aquilo passar para um outro gestor”, disse.
VAMOS SOLUCIONAR O PROBLEMA BREVEMENTE
A Gestora de Departamento da Direcção dos Recursos Humanos e Comunicação da Águas da Região de Maputo, Ofélia Ussivane, disse que o problema é do conhecimento da empresa e que neste momento há um trabalho em curso por forma a solucioná-lo.
Segundo Ussivale, há duas equipas que foram formadas e que trabalham naquele bairro, sendo uma para identificar os quarteirões que necessitam de água e outra que faz a devida intervenção.
Contudo, a gestora garantiu que o bairro poderá voltar a ter água da empresa Águas de região de Maputo a partir do próximo mês.
“No passado, aquele bairro era alimentado a partir de pequenos sistemas. Estes, com o tempo, a sua produção foi baixando para 50 por cento. Algumas condutas também foram danificadas pelas enxurradas. Então, dos trabalhos feitos, achamos que é necessário fazer a substituição dessa rede toda por uma nova. Vamos reforçar o sistema buscando água do centro distribuidor da Machava para esses bairros, disse Ussivale a terminar.
Fotos de Carlos Uqueio
Abibo Selemane