Estudos recentes realizados no Regadio de N`guri, na província de Cabo Delgado, comprovaram haver um potencial de irrigação muito superior ao até a bem pouco tempo conhecido e publicamente declarado. Este “novo dado” implicou uma redefinição geral do projecto e sobretudo dos custos inicialmente estimados para a reabilitação daquela estratégica infraestrutura agrícola.
O facto foi revelado recentemente pelo Presidente da República, Armando Guebuza, no rescaldo da sua visita à província de Cabo Delgado, no âmbito da Presidência Aberta e Inclusiva. Ele referiu ainda que o Governo continua esperançado em ver o processo de reabilitação do Regadio de N`guri a ser concluído com êxito.
Guebuza elucidou que houve muita coisa que se deu e que não permitiu que a reabilitação e operacionalização do regadio arrancasse, mas a fundamental é que “parece que os técnicos estão encontrando hoje um desenho melhor para o projecto do Regadio de Nguri”.
Os resultados dos estudos iniciais indicavam que aquela propriedade do Estado moçambicano tinha um potencial para a prática de agricultura de irrigação de cerca de mil hectares (ha) sendo que o campo está dividido em parcelas de 25 ha cada.
Todavia, um “upgrade” das mesmas pesquisas indicou, segundo revelou o PR, que afinal o potencial do regadio pode ser sete vezes mais do que o acima descrito.
“Estudos que foram feitos recentemente ao longo do rio Messalo mostram que se pode colocar a barragem num determinado ponto a montante daquele curso fluvial e conseguirmos ter uma zona irrigada de mais sete mil hectares. Isto quer dizer que os números todos que tínhamos até aqui alteram e, por conseguinte, os custos inicialmente previstos para investimentos no projecto sobem significativamente. Portanto, decorrem negociações para que tenhamos uma solução segura e um regadio maior, capaz de resolver em grande medida os nossos problemas, explicou o Presidente Armando Guebuza.
Alias, dados tornados públicos recentementeindicam que a Agência Coreana de Cooperação Internacional (KOICA) está a apoiar o projecto de reabilitação daquele regadio e, com base, nas constatações feitas, a equipa técnica apresentou duas propostas alternativas para a reabilitação do regadio. Uma é para construção de um dique que poderá abastecer de água cerca de 300 hectares de terra cultivada na época chuvosa, como solução de curto prazo. Outra é um estudo de viabilidade para construção de uma barragem, visando uma solução de longo prazo. Os custos estimados para a operacionalização de ambas propostas atingem sete milhões de dólares norte-americanos.
Trata-se de um empreendimento que se acredita tenha sido idealizado pelo falecido Presidente Samora Moisés Machel, e a aposta do Governo em “ressuscitar” este empreendimento pode estar relacionada com o facto de o mesmo constituir um importante instrumento para a operacionalização da Revolução Verde tendo em conta as enormes potencialidades que o mesmo exibe.
REDIMENSIONAR O PROJECTO
Outras Informações avançadas, há sensivelmente três anos, indicavam que o regadio era reabilitável, embora visto na sua concepção original “não parecesse ser, naquele momento, nem tecnicamente nem economicamente viável”, o que significa que, a ter que se avançar para a sua reabilitação, alguns aspectos teriam que ser repensados com vista ao seu redimensionamento.
Aliás, conforme apurámos, de 2006 até esta parte, há um enorme esforço que está sendo levado a cabo pelo Governo com vista a identificação de mecanismos de recuperação do Regadio de N`guri (as motobombas e canais de irrigação).
Sabe-se ainda que foi solicitado há quase quatro anos uma assessoria técnica ao extinto Fundo de Desenvolvimento de Hidráulica (FDHA),para se conduzir um estudo de redimensionamento e reabilitação desta infra-estrutura o qual, na altura, estava orçado em cerca de 240 mil dólares norte- americanos, os quais nunca chegaram a ser disponibilizados.
No entanto, um conjunto de investidores tem estado a “cobiçar” aquele regadio com intuito de fazerem a sua devida exploração, mas, aparentemente, nenhum ainda conseguiu convencer o Governo da sua pujança técnica e económico-financeira para por aquele “monstro” novamente a andar.
Trata-se de uma infraestrutura agrícola localizada no distrito de Muidumbe, à jusante do rio Messalo, cujo projecto foi executado por uma equipe técnica de coreanos em 1977, à luz de um acordo de cooperação firmado na época entre o Governo de Moçambique e a República Democrática da Coreia.
O regadio de N`guri dista a 150 quilómetros da cidade de Pemba. Depois da sua inauguração, em 1981, ficou inoperacional em 1986 (situação que se mantém actualmente) embora tenha um conjunto de infraestruturas associadas em estado razoável de conservação. O arroz sempre constituiu a principal cultura produzida neste regadio seguindo-se também a batata Reno, cebola, alho, milho, hortícolas, etc.
José Sixpence
Fotos de Armando Munguambe
